Conteúdo publicado há 9 meses

'Voucher dividido' da 123milhas força gasto maior no site, reclama cliente

Clientes estão reclamando da devolução de valores de compras canceladas pela 123milhas em vouchers divididos. A empresa diz que a divisão serve para dar mais "flexibilidade e liberdade de escolha do que com um só voucher no valor total" após a suspensão de passagens da linha promocional.

Cliente recebeu três vouchers

Um cliente diz que fez uma compra de R$ 1.957 e recebeu três vouchers de R$ 652 da 123milhas. O empresário de 35 anos, que preferiu não ser identificado, afirmou ao UOL que solicitou o voucher da 123milhas após o anúncio da suspensão na emissão das passagens aéreas. No entanto, o crédito dado pela empresa foi dividido em mais de um voucher.

Ele diz que 'voucher dividido' dificulta utilizar o valor da maneira como preferir. Ele havia comprado um pacote com voo e hospedagem para Porto de Galinhas. A divisão impossibilita acumular dois vouchers para uma nova compra que substitua a viagem cancelada.

Esta não foi a primeira compra do empresário na plataforma. Ele diz que já havia comprado passagens por meio da 123milhas anteriormente, mas nunca havia tido nenhum problema. Agora, no entanto, diz que está decepcionado com a postura e a solução que a empresa deu aos clientes.

Ele diz que não é possível acumular dois vouchers juntos na mesma compra. Se o preço da nova compra for mais caro, ele terá que completar com seu próprio dinheiro. O empresário tentou entrar em contato com a 123milhas, mas não teve resposta.

Procurada pelo UOL, a 123milhas não respondeu até o fechamento da reportagem.

Me sinto prejudicado porque a gente se programa, deixa de marcar outras coisas, foca na viagem. Agora já não dá mais para fazer outras coisas, porque já não temos o dinheiro e nem antecedência para outras programações.
Empresário

Eu não tenho controle sobre como gastar o meu dinheiro. Tenho que comprar nossas passagens separadamente e tendo a possibilidade de não conseguir [os mesmos voos]. Eu não tenho uso livre de meus creditos. Se forem duas passagens de R$ 1.000, eu vou ter para cada compra um voucher de R$ 652, mas não vou conseguir usar o terceiro voucher para ajudar na compra.
Empresário

Clientes reclamam nas redes sociais

Divisão dos vouchers é alvo de reclamações nas redes sociais. Uma pessoa relatou que recebeu cinco vouchers da empresa. Outra pessoa diz que só é possível usar um voucher por compra.

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O que diz a 123milhas

Empresa informou que os clientes não poderão ser ressarcidos em dinheiro. A 123milhas disse que vai devolver integralmente os valores pagos pelos clientes, em vouchers acrescidos de correção monetária de 150% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), acima da inflação e dos juros de mercado, para compra de passagens, hotéis e pacotes.

Em seu site, empresa fala sobre divisão do crédito em vouchers, mas não detalha a quantidade. A 123milhas afirma que "os vouchers foram divididos para possibilitar ao cliente diferentes tipos de compra. Dessa forma, o cliente tem mais flexibilidade e liberdade de escolha do que com um só voucher no valor total".

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123milhas lista alguns exemplos de uso dos vouchers divididos. São eles: pedido separado para cada passageiro, pedido com o trecho da ida e outro pedido com o trecho da volta e pedido para hotel separado do pedido de passagem aérea.

Para obter o seu voucher, o cliente deverá entrar em contato com os canais oficiais da agência, entre eles o site. Após a solicitação, a empresa diz que o cliente receberá seus vouchers em até 5 dias úteis pelo e-mail cadastrado do pagante. O voucher pode ser usado em até 36 meses a partir da solicitação.

Empresa será notificada e investigada

Devolução apenas em vouchers é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor. Advogados especializados em direito do consumidor ouvidos pelo UOL dizem que consumidor tem o direito de pedir dinheiro de volta.

Agência de viagens surpreendeu clientes ao anunciar na sexta-feira (18) a suspensão da emissão de passagens já compradas da sua linha promocional, com datas flexíveis. O governo considerou grave o anúncio e a Secretaria Nacional do Consumidor já informou que irá notificar a empresa para esclarecimentos. Procon-SP também vai notificar empresa e questionar a empresa sobre as medidas de mitigação ou compensação para não prejudicar os consumidores.

Presidente da CPI das Pirâmides Financeiras, em andamento na Câmara, diz que comissão vai investigar 123milhas. O deputado federal Áureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), classificou a situação de "muito grave". "Muitas famílias se programaram e agora todo o sonho vai por água a baixo", escreveu no X, ex-Twitter.

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Não existe devolver em voucher, isso é totalmente fora do planeta. Tem que devolver em dinheiro. Você torna o consumidor cativo de um produto que não é cativo. Produto cativo é plano de saúde, aí acho que é discutível que exista uma relação de longo prazo (...) Passagem aérea hoje você compra em uma empresa, amanhã pode comprar em outra.
Gustavo Kloh, professor de direito da FGV Rio

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