Onde a oposição erra ao atacar Bolsonaro?
Dominam-se mais facilmente os povos excitando-lhes as paixões do que cuidando de seus interesses.
Gustave Lebon
O bom lutador de boxe sabe como estudar as características do oponente. Observa, por exemplo, se ele luta com esquiva brusca ou suave. Se tem queixo duro ou acusa os golpes mais fortes. Se busca o centro do ringue ou prefere se movimentar. Se aguenta ou não os frequentes clinches. Se a cabeça acompanha os jabes diretos ou cruzados, ou permanece firme para se defender do contra-ataque.
Enfim, cada lutador exigirá uma estratégia adequada para ser neutralizado e vencido. Para se fazer uma avaliação correta é preciso estudar cada movimento, cada iniciativa de ataque e de defesa e, principalmente, onde estão os pontos fortes e os vulneráveis.
Ocorre o mesmo com a oratória
Com a oratória não é diferente. Durante um debate, não basta apenas atacar, não é suficiente somente agredir como se todos os adversários tivessem as mesmas características. Há aqueles que sucumbem diante de argumentos consistentes, enquanto outros, que possuem dialética mais bem desenvolvida, apenas se desestruturam diante de ataques mais emocionais.
E quando falo em debate, não me refiro apenas àqueles realizados às vésperas das campanhas eleitorais, quando os candidatos se posicionam uns próximos dos outros, com regras determinadas e aceitas com bastante antecedência. Não, com a velocidade alucinante dos meios de comunicação, são capazes de digladiar mesmo que estejam muito distantes e falando em momentos distintos.
À medida que nos aproximamos das eleições de 22, os pretendentes à cadeira presidencial já começam a atacar os concorrentes. É sempre aquela história de que não estão pensando no pleito, que falam apenas para beneficiar a população, mas todos sabem bem qual o objetivo de cada um. Sem contar aqueles que juram não se candidatar, mas que dão todos os sinais de que a finalidade é chegar à chefia do executivo.
Bolsonaro é o alvo
O candidato a ser vencido é Bolsonaro. Todos os pretendentes ao cargo miram apenas o atual presidente. Moro, Haddad, Amoedo, Ciro, Huck, Marina, Doria - será que me esqueci de alguém? É que tem sempre um Daciolo da vida correndo pelas beiradas. Bem, não importa, se alguém for identificado como concorrente ao cargo, vai centrar o fogo no atual presidente.
Os opositores atacam Bolsonaro desde a época em que ele era um deputado do baixo clero, quando todos imaginavam que ele nem teria chance de se eleger. Como ele é estourado, bocudo, defensor de causas politicamente incorretas, a turma não hesita em desferir diretos nesse seu comportamento, pois julgam estar aí o fígado frágil do adversário. Um equívoco primário.
Estratégia errada
Se nos lembrarmos das poucas vezes em que ele compareceu a um programa de televisão para ser sabatinado, qual foi a atitude daqueles que desejavam nocauteá-lo? Atacar sem dó nem piedade os temas ligados ao comportamento. Falavam de homofobia, de racismo, de autoritarismo, misoginia e outros da mesma família.
Ou seja, tentavam abatê-lo nos temas com os quais ele estava acostumado a discutir e a se defender a vida toda. Para cada questionamento, por mais contundente que fosse, Bolsonaro possuía uma resposta pronta, ou uma ironia que tirava o assunto do centro da discussão.
E quando se via mais acuado, sem ter respostas apropriadas, deixava o tema de lado e atacava o interlocutor. Na maioria dos casos, quem havia feito a pergunta, mordia a isca e tentava se defender do ataque pessoal recebido. Foi assim principalmente no Roda Viva, na Globo e na Globo News. Até hoje nos lembramos da Miriam Leitão tentando retransmitir a posição da emissora pela mensagem que lhe passavam no fone de ouvido.
Aqueles que supunham que ele seria destroçado nesses programas, não conseguiam entender como o candidato havia não apenas sobrevivido, como também levado alguns pontos de vantagem. O erro sempre residiu na estratégia adotada pelos contendores. Onde está o queixo frágil, o fígado minado de Bolsonaro?
Pontos vulneráveis
Sem necessidade de profundas reflexões, concluímos que o flanco vulnerável está nos temas relacionados à economia, às questões internacionais, ao mercado financeiro, à educação, à produção de bens e serviços e tantos outros sobre os quais Bolsonaro tem apenas conhecimentos superficiais, um leve e fino verniz que trinca com facilidade.
Erraram. E se observarmos bem, parece que a lição não foi suficiente, pois insistem na mesma tecla. Aparentemente ele se descontrola e dá respostas ásperas e até mal-educadas, mas essa é a sua praia de sempre. Seu couro está enrijecido para esse tipo de golpe. Na verdade, a impressão é a de que ele nem se incomoda.
Seus críticos vacilaram na primeira eleição. Agora, por mais despreparado que imaginamos que seja, com dois anos de convivência com esses temas, que para ele eram uma grande interrogação, naturalmente aprendeu um pouco a respeito de cada matéria.
Percebeu como ele, por exemplo, não recorre com tanta frequência ao Posto Ipiranga? Quando se depara com uma ou outra confrontação, se não tem a resposta precisa, sabe como se desvencilhar com algum tipo de explicação.
Portanto, se os políticos da oposição desejam tirar Bolsonaro da cadeira de presidente, precisam assistir a algumas lutas de boxe para tentar aprender como se faz o estudo das características do adversário. E deve ser logo, pois tudo indica que já estão dormindo no ponto.
Uma dica: o fígado não está só na pandemia, no Queiroz, no filho Flávio, na paixão pelo Trump, mas também na taxa de juros, na inflação, nas negociações internacionais. Essa pode ser uma boa tática de ataque. Podem jabear por aí.
Por outro lado, como dizia o filósofo Garrincha, é preciso combinar com os russos, pois Bolsonaro também deve estar de olho nesse ringue, e se preparando para desferir seus contragolpes. Serão dois anos de ataques e contra-ataques de todos os lados.
Quem não estiver bem preparado, se mostrará intimidado para o confronto. Tentará manter distância dos punhos adversários, mais preocupado em se defender que agredir. Aí, se ainda não foi nocauteado, ouvirá o sino que indica o fim do último round. Talvez seja tarde, pois quem foi mais hábil no ataque, procurando os pontos frágeis do adversário, e soube se esquivar, assimilando bem os golpes, colherá os louros da vitória.
Superdicas da semana
- Cada pessoa possui seus próprios pontos fortes e fracos
- Erra quem usa para todos os casos sempre a mesma estratégia de ataque
- O melhor campo de estudo é o comportamento passado do oponente
- As pesquisas qualitativas mostram onde o adversário deve ser atingido
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para advogados", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "Superdicas para escrever uma redação nota 1.000 no ENEM", "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Assim é que se Fala", e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.
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