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Reinaldo Polito

Finlândia e Suécia erram ao cutucar Putin com vara curta?

Presidente da Rússia, Vladimir Putin - EVGENIA NOVOZHENINA
Presidente da Rússia, Vladimir Putin Imagem: EVGENIA NOVOZHENINA

Colunista do UOL

17/05/2022 04h00

Decididamente não compreendo por que é mais glorioso bombardear de projéteis uma cidade assediada do que assassinar alguém a machadadas.
Dostoievski

Em 1917 foi atribuída uma citação ao senador americano Hiram H. Johnson, que ficou imortalizada: "A primeira vítima, quando começa a guerra, é a verdade". Essa ideia ganhou ainda mais projeção ao se transformar em título de um livro publicado pelo jornalista e correspondente de guerra Phillip Knightley, "A primeira vítima".

Nessa obra, Knightley comenta com detalhes as falsificações inadmissíveis que alguns jornalistas fizeram durante as mais diversas guerras. O autor mostra como em muitas ocasiões a verdade dos fatos foi distorcida com narrativas fantasiosas de acordo com as tendências daqueles que a relataram.

A verdade e a razão

Após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, essa frase foi repetida à exaustão em praticamente todos os meios de comunicação. Nos comentários feitos por analistas a citação, com pequenas adaptações, como, por exemplo, trocar a palavra "verdade" pelo termo "razão", foi e é mencionada com dois objetivos:

Primeiro, o de demonstrar aversão à invasão de Putin ao país vizinho, pois nesse caso a razão estaria sendo desconsiderada. Segundo, para alertar que nem todas as informações que nos chegam sobre o combate são verídicas. Por isso, precisamos ficar com um pé atrás diante de tudo o que ouvimos a respeito dos embates entre essas duas nações.

Novas adesões à OTAN

Na última quinta-feira, dia 12, a Finlândia declarou que pretende fazer parte da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). E, se não bastasse, apenas um dia depois a Suécia divulgou documento para justificar a mesma iniciativa. Putin reagiu imediatamente, alertando que dará o troco, com aumento de seu poderio bélico próximo à fronteira, e até com ameaça do uso de armas nucleares.

Tudo indica que a Rússia não teria condições agora de invadir a Finlândia ou a Suécia. Além de a Grã-Bretanha anunciar que colocaria suas forças na Finlândia, com os combates na Ucrânia, o poderio militar russo dá a impressão de estar praticamente esgotado.

A reação de Putin no momento se restringe a pressionar com cortes de eletricidade e gás. O que não é pouco. Chega a ser questão de sobrevivência. Há ainda um risco extremo. Embora o risco de combates nucleares esteja longe de ser concretizado, nunca se sabe como reagirá um país acuado pelas pressões internacionais.

Até aqui as ações do ocidente se limitaram a fornecer armas aos ucranianos e a boicotar a economia russa. Nada que pudesse provocar reações mais exacerbadas de Moscou.

A Turquia

Por enquanto, um dos membros da OTAN, a Turquia, tem se colocado ao lado da Rússia e contrária às intenções dos dois países. Nunca será possível garantir, entretanto, que essa posição seja mantida. A mudança de opinião pode depender de pressões dos outros membros.

Talvez a decisão desses dois novos países em integrar o grupo seja uma estratégia para pôr fim mais rapidamente ao conflito. No entanto, parece que agindo assim deixaram os ânimos ainda mais acirrados.

A repetição dos erros

A verdade é que a humanidade não conseguiu aprender com os erros do passado. Bastaria olhar para o que aconteceu ao longo da história e constatar que as guerras só trouxeram mortes, destruição e tristeza às pessoas.

Os homens, por um motivo ou outro, tiveram de aprender a dialogar. Sabem como afastar as diferenças de opiniões e de objetivos a partir das negociações. Essa deveria ser uma meta obstinada para que esses constantes massacres humanitários deixassem de existir.

O Brasil, por exemplo, tem no seu DNA, desde a época do Barão do Rio Branco, o exemplar comportamento de resolver as divergências com os outros países por meio do diálogo e da negociação.

Mesmo no conflito atual, o Itamarati conseguiu se manter isento, pregando sempre que as duas nações cheguem a um acordo pelo entendimento.

Como quase tudo na vida, mais uma vez a boa comunicação mostra sua importância no relacionamento das pessoas e dos povos.

Infelizmente, são poucas as esperanças de que essa compreensão possa ser alcançada em condições pacíficas. Sabemos que o que deveríamos ter aprendido até aqui e o que precisaríamos aprender com as experiências não serão sempre levadas em conta. Temos de nos render diante dessa realidade: parte da humanidade continua e continuará sendo uma besta.

Superdicas da semana

  • Nenhuma arma deveria ser mais poderosa que o diálogo
  • Os erros do passado deveriam nos ensinar a viver melhor no presente e no futuro
  • As justificativas para um conflito quase sempre são desculpas para intenções não reveladas
  • Parte da humanidade age como se fosse um grupo de bestas

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como falar corretamente e sem inibições", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.