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Briga entre firmas da Faria Lima deu origem a operação de busca na Suno
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A operação de busca na Suno S.A. nesta terça (14) apreendeu computadores e celulares de sócio e funcionários da empresa, que tem uma casa de análise e uma gestora de ativos. O UOL teve acesso a uma parte dos autos da operação, que estão em segredo de Justiça. O pano de fundo é uma briga entre a Suno e a gestora Hectare, que remonta ao primeiro semestre de 2022.
A Hectare Gestora de Recursos Ltda. acusa a Suno de manipular o mercado por meio de críticas de analistas ao seu FII (fundo de investimento imobiliário) HCTR11 por causa de críticas através de redes sociais entre 12 e 16 de abril do ano passado. Os alvos da Hectare são os analistas Marcos Baroni e Felipe Tadewald, além do fundador da Suno, Tiago Guitián Reis, autores de críticas ao fundo HCTR11.
O diretor de investimentos (Chief Investment Officer-CIO) da Suno, Vitor Duarte, também foi apontado pela Hectare como tendo feito parte da suposta estratégia para atacar a reputação do HCTR11.
"Os requeridos formaram o que a literatura especializada denomina boiler room: um ambiente de pressão mercadológica, criado por determinados agentes a partir de um conjunto de informações que sabem ser inverídicas, com vistas a induzir um movimento de compra e venda de um determinado papel com o objetivo de obter vantagem indevida", alegam os advogados da Hectare.
"Ao que tudo leva a crer, e de maneira premeditada, tal campanha difamatória tinha o objetivo de induzir cotistas do fundo [HCTR11] a migrar para o SNCI11, gerido pela Suno", continuam em documento que integra os autos.
Uma maneira de manipular o mercado seria uma gestora criticar um determinado ativo enquanto tinha secretamente uma posição vendida - isto é, apostando na queda do preço deste ativo.
Em nota, a Suno afirmou que "jamais negociou, não está negociando e nem pretende negociar cotas de emissão do Fundo HCTR11 e que seus relatórios de análise cumprem integralmente a legislação e a regulamentação em vigor, sujeitando-se a controles internos rigorosos."
A operação autorizada pela Justiça nesta terça (14) busca algum indício de ação ilegal em celulares e mensagens trocadas por e-mail pelos analistas da Suno.
A cotação do HCTR11 fechou o dia em R$ 90,39, a mais baixa desde o IPO em 2019.
No momento das críticas citadas nos autos (abril de 2022), a cota variou entre R$ 103,70 e R$ 105, mas subiu ao patamar de R$ 116 em maio de 2022, antes de iniciar sua trajetória de queda até o atual nível.
A briga começou antes
Em abril de 2022, quando ocorreram as críticas em redes sociais, o HCTR11 estava tentando captar recursos de novos cotistas através de uma nova emissão, a 13ª - que não chegou a se concretizar.
Dois meses antes, em fevereiro, a área de análise da Suno já havia expressado suas críticas publicamente à emissão: "Atualmente, o Fundo tem R$ 2,39 bilhões de patrimônio líquido, 158 mil cotistas e liquidez média diária na faixa de R$ 8,15 milhões. Embora seu crescimento tenha sido notável nos últimos anos - embalado por retornos expressivos diante da elevação dos índices inflacionários -, não verificamos que a transparência de informações tenha evoluído na mesma magnitude."
"Para nós, a sobreposição de algumas operações e a falta de um Relatório de Riscos com o acompanhamento dos ativos não permitem realizar uma análise assertiva para melhor juízo de valor. Assim, não estamos confortáveis em realizar qualquer tipo de indicação formal para o Fundo, seja para compra, seja para venda - ou mesmo mantendo a neutralidade", criticava o relatório da Suno, de fevereiro de 2022.
A rigor, uma análise é sempre uma opinião de um profissional especializado que estudou um determinado ativo, com base em informações públicas, e diz se vale ou não a pena alguém colocar dinheiro nele. Como qualquer opinião, o leitor pode acreditar ou não.
A legislação em vigor permite que uma mesma empresa seja dona de uma casa de análise e de uma gestora de investimentos, mas para tentar evitar eventuais conflitos de interesse as empresas precisam instituir uma série de barreiras para impedir que áreas diferentes se comuniquem - o que é chamado vulgarmente no mercado de "chinese wall".
Em teoria, essa "muralha da China" evita que analistas sofram pressão para recomendar fundos de interesse de sua gestora, não do assinante da análise.
*Colaborou Rogério Gentile
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