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José Paulo Kupfer

Inflação reage à alta do dólar e ao auxílio emergencial, mas continua fraca

10/07/2020 16h27

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Apesar das profundas alterações causadas pela pandemia de Covid-19, no comportamento da economia, um dos seus principais termômetros, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a taxa de inflação usada no sistema de metas, está cumprindo bem o seu papel. A alta de preços saiu de um segundo mês seguido de deflação para um avanço de 0,26%, em junho, refletindo uma combinação da ampliação do relaxamento nas medidas de isolamento social, altas do dólar e injeção de recursos, via programas sociais de emergência.

Assim como a inflação continua bastante contida, mas começa a sair do terreno mais deprimido, a atividade econômica permanece bastante fraca, mas também tem dados sinais de alguma recuperação, ainda que muito longe da volta aos níveis pré-pandemia. Diz bem da marcha da economia o fato de que, ao fim do primeiro semestre, o IPCA mostra estabilidade, tendo avançado apenas 0,1%. É a menor variação para o período em 40 anos.

No acumulado em 12 meses, porém, como a taxa de inflação em junho foi maior do que a registrada em junho de 2019 (0,01%), a variação do índice deu uma acelerada, saindo de 1,88%, em maio, para 2,13%, no mês passado. Ainda assim, se situa abaixo do piso do intervalo de tolerância do sistema de metas, que, com o centro da meta em 4% para 2020, é de 2,5%.

Preços de produtos da cesta básica — arroz, feijão, carnes, leite — subiram ou, no mínimo, reduziram seu mergulho desinflacionário, caso dos artigos de vestuário. A aposta é que reagiram a compras puxadas por beneficiários do auxílio emergencial. Da mesma maneira, combustíveis e eletroeletrônicos domésticos — TV, aparelhos de som, equipamentos de informática — responderam com altas de preço à desvalorização do real ante o dólar.

De todo modo, a situação da atividade econômica ainda é frágil. Prova disso também veio nesta sexta-feira, com a divulgação pelo IBGE dos números da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), relativos ao mês de maio. O setor mais afetado pelas medidas de restrição de circulação de pessoas apresentou, em junho, pelo quarto mês consecutivo, retração no volume de produção. Com recuo de 0,9% sobre abril, o resultado de maio foi o pior da série iniciada em 2011.

Se o termômetro inflacionário estiver medindo bem a temperatura da economia, o registro de que a variação do IPCA, nos segundo trimestre, foi negativa (-0,43%), o que não ocorria desde o terceiro trimestre de 1998, dá uma boa indicação de que a recuperação em curso ainda tem mais caráter estatístico, fortemente influenciada pela base de comparação deprimida dos meses anteriores.

É a mesma tendência que se observa quando são examinados os núcleos de inflação — aqueles medidas que eliminam itens com preços mais voláteis ou afetados por questões sazonais. A média dos núcleos deu um ligeiro recuo, de 2,2% para 2,1%, no acumulado em 12 meses, confirmando que a inflação está sem força de reação.

As previsões para o terceiro trimestre continuam apontando inflação baixa, com alta, em julho, um pouco acima da verificada em junho, possibilidade de pequena deflação em agosto e estabilidade, em setembro. No acmulado do período, previsão de alta em torno de 0,5%.

Para o ano como um todo, os analistas projetam inflação, medida pelo IPCA, abaixo de 2%. Significa que, por mais um ano, a alta de preços deverá ficar abaixo do piso do sistema de metas. Para 2021, as previsões são de alta nas vizinhanças de 3%, um pouco mais próxima do centro da meta, fixado em 3,75%. Sinal de que a economia deverá andar em marcha um pouco mais acelerada, em linha com as projeções de um crescimento de 3,5%.