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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dança de cadeiras na Economia pode ser início do fim do superministério

27/04/2021 18h02

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Depois de dois anos e quatro meses de existência, o superministério da Economia pode estar às vésperas de perder o prefixo "super". As mexidas anunciadas nesta terça-feira (27), além de configurarem o início de uma dança interna de cadeiras mais ampla, seriam também o prenúncio de mudanças mais profundas, incluindo a redivisão da pasta em outros ministérios.

O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, que na prática ocupa o cargo de vice-ministro da Economia, cederá lugar ao atual secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal. Também foi anunciada a saída de Vanessa Canado, assessora especial para questões tributárias. O nome mais comentado para substitui-la é o do economista Isaias Coelho, especialista em questões tributárias e professor de cursos de extensão e especialização da FGV Direito-SP.

É dado como certo que as mudanças não vão parar por aí. Carlos Da Costa, titular da secretaria de Produtiviade e Competitividade, no cargo desde o início da atual gestão, estaria de malas prontas para uma posição em organismo internacional. Uma agência multilateral no exterior seria também o destino de Martha Seillier, secretaria do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), na Economia desde o ano passado.

Mais do que isso, estaria em estudo a recriação de alguns ministérios que foram absorvidos na Economia sob o comando de Guedes. Planejamento, Trabalho/Previdência e Comércio Exterior são as subpastas mais mencionadas. Políticos do Centrão, aliados do governo, estão por trás das sugestões para que o governo refaça o desenho ministerial.

Parte do movimento em favor do esquartejamento da Economia - e, em consequência, da redução do poder de Guedes - reflete sequelas do desgastante processo de aprovação do Orçamento de 2021. Políticos da base aliada do governo e Guedes entraram em choque, com os primeiros pressionando por maior espaço no Orçamento para a adoção de emendas parlamentares enquanto Guedes, recorrendo a truques e manobras, batia pé para impor cortes nas previsões de gastos.

O apetite de parlamentares do Centrão e da base do governo por cargos na Esplanada dos Ministérios também pode ser adicionada na conta das pressões por mudanças na Economia. As ambições nesse sentido tendem a aumentar com a instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia, no Senado Federal.

O nome do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, ex-secretario de Previdência na superpasta de Guedes, mas hoje adversário do ex-chefe na disputa por verbas públicas, é um dos mais frequentemente ventilados para um recriado ministério do Planejamento e Orçamento ou para um também recriado Trabalho e Previdência. Para o lugar de Marinho, um candidato é o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), típico representante do Centrão.

Com a presente dança da cadeiras, dos oito secretários especiais do ministério da Economia, apenas dois ocupantes iniciais permanecem em seus cargos - e mesmo eles estão prontos a deixar as posições que ocupam. É um sinal do desgaste de Guedes no governo, cada vez mais tido como um gestor que, dispondo de amplos poderes, tem entregado menos do que prometido. Não será nada mais do que natural, diante da perda de superpoderes, que Guedes venha a assistir ao esquartejamento de seu superministério.

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