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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Inflação já vinha alta e generalizada e agora pode passar de 6,5% em 2022

11/03/2022 12h37

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A inflação de fevereiro, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), veio alta e espalhada por todas as categorias de bens e serviços. A elevação de 1,01% é a maior para o mês de fevereiro desde 2015, ano em que a inflação foi a 10,67% e a economia mergulhou 3,5%.

Ainda que forte, a alta de preços no mês passado não ficou longe do que os analistas projetaram. Atentas para as pressões sazonais em Educação, as previsões eram de que o IPCA em fevereiro alcançaria 0,9%. Com base numa variação neste nível em fevereiro, as projeções para o conjunto de 2022 já avançavam de 5,5% para mais de 6%, no fim do ano.

Agora, depois do tarifaço nos combustíveis decretado pela Petrobras nesta quinta-feira (10), essas projeções já estão subindo no intervalo entre 1 ponto percentual e 1,5 ponto. Previsões, portanto, para a inflação deste ano sobem, em média, para 6,5%%, com picos para alta de 7% e 7,5%, no fim do ano.

Junto com a elevação nas projeções para o IPCA, subiram também as estimativas de alta da taxa básica de juros (taxa Selic), em 2022. De uma elevação prevista de 11,75% ao ano, em meados de fevereiro, a marcha dos juros definidos pelo Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, já tinha evoluído para 12,25% e agora, à luz dos aumentos nos combustíveis desta semana, avança até 14%, no fim do ano. A escalada dos juros é elemento com influência adversa, no curto prazo, sobre o crescimento da economia.

Nas projeções do economista Fabio Romão, responsável pelo acompanhamento dos preços na consultoria LCA, uma das maiores do país, o caminho para a inflação terminar 2022 nas vizinhanças de 6,5% passa pela persistência da alta de preços acima de dois dígitos, no acumulado em 12 meses, até junho. Índices mensais com altas abaixo de 0,5% só a partir de julho. Curiosidade: às vésperas da eleição, de acordo com as projeções, o IPCA ainda estará correndo, em base anual, na altura de 8%.

Na verdade, a inflação, medida mais estritamente pela média dos núcleos — aqueles índices que descontam efeitos sazonais —,vem em alta desde maio de 2020. Agora em fevereiro de 2022, a média dos núcleos bateu numa variação forte de 0,99%. Há um ano, em fevereiro de 2021, não passava de 0,51%. Na visão de Fabio Romão, o índice elevado reflete potencial importante de repasses.

Outro ponto preocupante é o espalhamento da inflação. Em fevereiro, o índice de difusão — número de itens com aumento de preços — igualou o recorde da série histórica, registrado em dezembro passado, com altas de preços em três de cada quatro itens da cesta de bens e serviços do IPCA.

Com a Petrobras segurando seus preços desde 12 de janeiro até o reajuste desta quinta-feira, a contribuição direta dos combustíveis para a inflação de fevereiro foi negativa — um recuo de quase 1%, na terceira queda mensal consecutiva. Esse quadro não vai se repetir pelo menos em março e abril, depois do realinhamento parcial dos preços da gasolina, do diesel e do gás de botijão às cotações internacionais.

A alta de preços no grupo Educação bateu em 5,6% em fevereiro, resultando na maior contribuição para a elevação do IPCA no mês, praticamente um terço do total. No grupo Transportes, não pelos combustíveis, mas pela alta nos preços dos automóveis — novos e usados —, a inflação subiu 0,46%, uma virada sobre o recuo de 0,11%, em janeiro.

Não há anormalidades, em relação ao padrão, no caso dos preços no grupo Educação. Mas, sim, no mercado de veículos, que enfrenta problemas de suprimento de peças e partes. A escassez tem provocado paralisações na produção e redução da oferta, do que resultam aumentos de preço. Este é um problema global, com origem na desorganização dos processos de produção causados pela pandemia de covid-19.

Com altas generalizadas, o grupo Alimentação e bebidas trouxe a segunda maior contribuição para a inflação de fevereiro, respondendo por 0,27 ponto percentual no conjunto da variação do IPCA, equivalente a um quarto do total. Subiram os preços de cereais, impactados pelas altas nas cotações internacionais, a tubérculos, raízes, legumes e hortaliças, afetados por adversidades climáticas sazonais.