José Paulo Kupfer

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Opinião

IBC-Br de junho confirma economia aquecida, mas tendência é ritmo arrefecer

A marcha da atividade na economia brasileira em 2024 continua forte. É o que confirma a expansão, em junho, do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), que o Banco Central calcula mensalmente, divulgado nesta sexta-feira (16).

No mês, o indicador avançou 1,4% sobre maio, muito acima das previsões, que, na média das projeções, apontavam alta de 0,5%. No segundo trimestre do ano, em relação ao primeiro, o crescimento foi de 1,1%. No primeiro semestre de 2024 sobre o mesmo período de 2023, o crescimento foi de 2,1%.

Expansão generalizada

Em junho e no segundo trimestre, indústria, comércio e serviços, setores acompanhados pelo IBC-Br, apresentaram crescimento. Pesquisas privadas também apontam expansão forte da agropecuária, nos dois períodos. Para calcular o IBC-Br, o BC considera o resultados das pesquisas setoriais mensais do IBGE.

O crescimento de junho, e do segundo trimestre, deve ser considerado ainda mais robusto depois das revisões moderadas de meses anteriores, apresentadas pelo BC juntamente com os resultados de junho. Houve revisões positivas para o crescimento em todos os meses do primeiro semestre. Em maio, por exemplo, a expansão foi de 0,41%, e não de 0,25% como divulgado na época.

Tomando como base a média móvel trimestral, que aproxima os resultados do IBC-Br aos do PIB (Produto Interno Bruto), no trimestre encerrado em junho, a atividade registrou expansão de 2,8% sobre o segundo trimestre de 2023, e de 1% sobre o primeiro trimestre de 2024.

O impulso na atividade econômica transmitido pelo crescimento no segundo trimestre indica avanço do PIB em 2024 de 2,9%. Com as projeções de recuo do IBC-Br em julho e em outros meses, neste segundo semestre, o ritmo de atividade está sendo compatível com as estimativas de crescimento da economia em torno de 2,5%, neste ano.

Transferências e massa salarial

Analistas têm seguidamente destacado a "resiliência" da atividade em 2024. Entre eles, contudo, não são muitos os que reconhecem que a expansão dos gastos públicos é um outro lado da moeda desse crescimento. O avanço dos gastos não é a única explicação para o impulso na atividade, mas certamente é uma delas.

A expansão fiscal forte na pandemia, que gerou poupanças acumuladas gastas ao longo do tempo, foi reforçada por novo e forte crescimentos das despesas públicas, principalmente pela via das transferências de renda e de obras públicas, em 2023, com base na PEC da Transição. O ritmo de gastos continuou acelerado em 2024, com alta de 10,5% de janeiro a junho, na comparação com o mesmo período do ano passado, e de 15% no acumulado em 12 meses até junho.

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É evidente o reflexo desse ritmo mais acelerado de crescimento no mercado de trabalho. A taxa de desemprego se encontra abaixo de 7% e estimativas sinalizam redução ainda maior até o fim do ano, fechando 2024 com desocupação em torno de 6% da força de trabalho. O destaque vai para o setor de serviços, puxador de empregos no mercado de trabalho como um todo.

Além do maior absorção de mão de obra no mercado de trabalho, os salários também estão em alta. Com isso a massa salarial está crescendo em 2024 numa marcha anual próxima 10%.

Crédito também cresce

O aumento da massa de salários na economia impulsiona ainda o mercado de crédito para as famílias. É o que explica que o avanço registrado neste momento na economia tenha origem não só na intensificação da produção de bens não duráveis e semiduráveis e na oferta de serviços em geral, mas também de bens duráveis, diretamente vinculados à concessão de crédito.

Emprego e renda são os principais impulsionadores do crédito para as famílias. É preciso não esquecer que os efeitos da redução dos juros até maio ainda não foram dissolvidos, o que também colabora para manter mais aquecidas as compras a crédito.

As perspectivas a médio prazo, no entanto, são de algum esfriamento na atividade econômica. Pressões para conter gastos públicos — a expansão em julho já registrou ritmo menor do que no primeiro semestre — e manutenção ou mesmo elevação dos juros básicos — que influenciam todas as modalidades de crédito e devem levar a uma alta no custo do dinheiro — devem ajudar a refrear o ritmo de crescimento da economia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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