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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Conta de luz dará alívio, mas inflação nunca esteve tão espalhada e resiste

08/04/2022 12h35

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Depois do recorde de março, a inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), dará alívio nas variações mensais, mas nem tanto nas projeções para a alta de preços no conjunto de 2022. As previsões para o final do ano continuam subindo, situando-se, depois de conhecidos os números de março, em torno de 8%.

O alívio previsto nos índices mensais vem da adoção da bandeira verde nas tarifas de energia, sustentada pela normalização dos reservatórios das hidrelétricas, com origem na regularização do regime de chuvas. O recuo nos valores das contas de energia deve chegar a 20%.

Depois de subir 1,62% em março, bem acima das estimativas, e expressando a maior alta para o mês em 28 anos, desde março de 1994, antes do Plano Real, as previsões para a variação do IPCA em abril, já com menor pressão de energia elétrica, são de uma alta nas vizinhanças de 1%. A partir de maio, como a bandeira verde já estava nos cálculos, a influência das tarifas de energia nas projeções da variação do IPCA tende a arrefecer.

Nas projeções do economista Fabio Romão, responsável pelo acompanhamento da inflação na consultoria LCA, uma das maiores e mais influentes do mercado, depois da bandeira verde, a inflação terminará 2022 com alta de 8%. Se fosse mantida a bandeira de escassez hídrica, a inflação chegaria, no fim do ano, um pouco abaixo de 8,5%.

Sem considerar o alívio indireto em outros bens e serviços afetados pelos custos de energia, a mudança favorável da bandeira tarifária, propiciaria redução de pelo menos 0,5 ponto percentual na inflação do ano. Ainda assim a variação do IPCA em 2022 seria mais do dobro do centro da meta definido para o ano, de 3,5%, e superaria com folga o teto do intervalo de tolerância, fixado em 5%.

Combustíveis — não só preços de gasolina e diesel, mas também do gás —, alimentos no domicílio e energia puxaram a pesada alta da inflação em março. No acumulado em 12 meses, a variação do IPCA foi a 11,3% e apenas nos três primeiros meses de 2022 já bateu em 3,2%, a um passo da meta para o ano inteiro.

O impacto do preço dos alimentos no IPCA também tende a não ceder tão cedo. Se condições climáticas desfavoráveis a culturas de ciclo curto, como as de tomate e de cenoura, cujos preços explodiram em março, podem reverter, os grãos e derivados, com a alta das cotações das commodities alimentícias no mercado internacional, continuarão pressionando os custos de ampla variedade de produtos mai consumidos, de pães e massas a carnes.

Mesmo que o governo consiga espaçar os aumentos dos combustíveis, eles continuarão afetando negativamente o IPCA, dado sua influência em grande parte dos demais preços dos bens e serviços. O índice de dispersão em março confirma que a inflação está espalhada por grande parte dos grupos e itens.

Dos 377 itens que compõem a cesta do IPCA, 287 registraram aumentos de preços, em março. Recorde de 76,1%, numa dispersão que, historicamente, gira em torno de 65%. Não parece se tratar, porém, de uma situação temporária ou sazonal.

Os núcleos de inflação, aquelas medidas que retiram dos índices de preços altas extraordinárias, típicas de um período do ano ou provocadas por eventos inesperados, estão em níveis elevados, próximos de 1% mensal - a média dos núcleos acompanhados pelo Banco Central subiu 0,98% em março, bem mais do dobro da alta de 0,41% observada em março do ano passado.

Em resumo, a marcha da inflação continua firme. Em abril, de acordo com as projeções, vai superar 12%, com recuo lento a partir daí. Deve ficar nos dois dígitos até agosto, e, em setembro, o índice anunciado às vésperas da eleição presidencial, ainda deverá alcançar 9,5%.

Pressão sobre o Banco Central e as taxas básicas de juros. Mais freios no horizonte para a atividade econômica, o emprego e a renda.