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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Inflação bateu no teto, mas continuará (muito) alta até o fim do ano

11/05/2022 12h27

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A inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), foi a 1,06% em abril, e chegou a 12,13% no acumulado em 12 meses, na maior alta para o mês desde 1996, há 26 anos, portanto. O número de abril, que veio dentro do intervalo das estimativas, será, provavelmente, o pico do ano, tanto na variação mensal quanto no acumulado em 12 meses.

Projeções atualizadas depois da divulgação do IPCA de abril sinalizam altas mensais abaixo de 1% de maio a dezembro, mais próximas de 0,5% ao mês. Mas a inflação continuará muito forte ao longo do ano. As projeções, antes entre 7% e 8%, agora apontam inflação de pelo menos 9% em 2022, com já algumas previsões de que possa avançar até 10%. Detalhe: nas vésperas da eleição presidencial, as estimativas para setembro mostram IPCA ainda em dois dígitos.

Em abril, oito dos nove grupos de bens e serviços do IPCA registraram elevação de preços, com combustíveis e alimentos liderando de novo as altas. Os dois grupos responderam por 80% da variação da inflação no mês.

Forte também foi a alta em eletrodomésticos, item com preços 2,5% mais elevados em abril, refletindo limitações de oferta, por dificuldades no suprimento de peças. Energia elétrica, desta vez, depois da substituição da bandeira de escassez hídrica pela bandeira verde, teve deflação.

Os núcleos de inflação, que filtram os efeitos sazonais e as variações de preços mais voláteis, apresentaram, na média, estabilidade no mês. Mas subiram para 9,71% em doze meses, indicando pressões inflacionárias ainda fortes pela frente. Também o índice de difusão, que mede quantos bens e serviços da cesta do IPCA tiveram aumentos de preços no mês, de 78,25%, mais um recorde da série histórica, é um indicador de que a inflação está bastante disseminada.

Ao longo do ano, de acordo com as previsões, alimentos e combustíveis continuarão puxando a inflação para cima. A pressão dos combustíveis, no curto prazo, vem de defasagens ainda não corrigidas, em relação aos preços internacionais, não só em gasolina e gás, mas também em diesel, apesar do recente reajuste. Essa pressão pode refluir, caso seja adotada mudança efetiva na fórmula de reajuste dos combustíveis adotada pela Petrobras, mas o cenário para alimentos não vislumbra alívio tão cedo.

Além do peso dos próprios combustíveis, sobretudo do diesel, nos custos de produção e transporte dos alimentos, há outras razões, que vão além, inclusive, das condições climáticas, para prever um ainda longo período de alta nos preços dos alimentos. Segundo o economista Fabio Romão, da consultoria LCA, experiente analista de conjuntura econômica e especialista em acompanhamento de preços, uma pressão importante está vindo dos preços internacionais.

Não são só os impactos negativos da guerra no leste da Europa, com a interrupção do acesso de Rússia e Ucrânia, dois importantes participantes do mercado, ao mercado de grãos e fertilizantes. Romão tem observado, da parte de vários países produtores e exportadores, acentuado aumento do protecionismo em relação à produção e comercialização de alimentos, com reserva crescente de produtos para mercado interno — um exemplo, diga-se, que o Brasil, também grande produtor e exportador, deveria estar seguindo.

Em função dessa redução observada na oferta global, o economista elevou sua projeção para a inflação de alimentos em 2022 de já robustos 13,5% para 15,5%. É péssima notícia para os mais pobres e para o presidente Bolsonaro, em campanha pela reeleição.