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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Guedes estufa o peito, mas economia não está entre as que mais crescem

20/09/2022 10h30

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Na comparação com o desempenho de 50 países entre as maiores economias do mundo, o crescimento médio anual do Brasil ficou na 32ª posição nos primeiros três anos do governo Jair Bolsonaro. De 2019 a 2021, a expansão da atividade foi de 0,59% a cada ano, em média. No mesmo período, a média dos demais países ficou em 1,54%.

O resultado mostra que a economia brasileira, diferentemente do que costuma apregoar o ministro da Economia, Paulo Guedes, está longe de surpreender o mundo.

O levantamento, publicado nesta segunda-feira (19) pelo UOL, reproduzindo reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo", foi elaborado nas projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional). Mesmo a expansão de 2021, quando a economia brasileira avançou 4,6%, recuperando-se da natural e forte queda ocorrida na primeira onda da pandemia de covid-19, não revela nada surpreendente, na comparação com outros países.

No mundo, o crescimento em 2021 foi de 5,8%, 1,2 ponto percentual a mais do que no Brasil. Só na América Latina, em 2021, a economia brasileira cresceu menos do que em outros cinco vizinhos — Argentina, Chile, Colômbia, Peru e México.

Guedes tem enchido o peito e afirmado que os economistas vivem errando projeções sobre a marcha da atividade econômica no governo Bolsonaro. Repete que previam queda de 10% em 2020, mas a economia só caiu 3,9%. Fala que estimavam crescimento mínimo ou mesmo recessão em 2022, enquanto a trajetória e as tendências apontam para avanço de 3%.

O ministro, convenientemente, esquece que as projeções mais pessimistas foram feitas antes dos pacotes de transferência de renda para vulneráveis, na primeira onda de covid-19, e das "bondades" eleitorais temporárias de 2022. No primeiro caso, depois da hesitação inicial de Bolsonaro, com Guedes na linha de frente das vacilações, o Congresso forçou o governo a injetar uma montanha de R$ 500 bilhões, algo equivalente a 8% do PIB (Produto Interno bruto), na economia. Em 2022, são pelo menos R$ 300 bilhões, mais de 3% do PIB.

Mesmo com essas volumosas injeções de recursos, o crescimento médio anual projetado para todo o primeiro mandato de Bolsonaro alcançaria 1,16%. Seria superior à expansão média do grupo de países ricos formados por Estados Unidos, Reino Unido, Japão e Canadá, entre 2019 e 2022, mas inferior ao crescimento da economia americana, considerada isoladamente, e para o conjunto de economias da zona do euro, ainda que afetadas pela escassez energética causada pela guerra na Ucrânia, no mesmo período.

Com seus projetados 3% de crescimento em 2022, o Brasil não ficaria na linha de frente das economias com maior crescimento no ano. As previsões do FMI apontam que Índia, Vietnã, Malásia e Filipinas, por exemplo, cresceriam pelo menos o dobro da economia brasileira. E o mundo como um todo avançaria 3,2%, ligeiramente acima da expansão prevista para a economia brasileira, que, com isso, recuaria mais uns pontinhos no ranking internacional.

Economistas notam que a expansão da economia brasileira poderia se beneficiar mais da ociosidade existente entre os fatores de produção, mas isso não vem acontecendo. Crescer ocupando espaços e estruturas já existentes é mais fácil do que avançar na esteira de novos investimentos em expansão de capacidade.

Depois de crescer em média 4,6% ao ano, entre 2007 e 2010, ante 1,87% no mundo, no melhor momento da economia brasileira, na comparação mundial, em duas décadas, a atividade decaiu e chegou ao ponto mais baixo no período, que vai de 2015 a 2018. Nesse intervalo, sob o impacto da forte recessão de 2015 e 2016, a economia brasileira recuou, em média, 0,96% ao ano, ficando no último lugar do ranking dos 50 países mais relevantes.

De lá para cá são sete anos de crescimento abaixo do potencial de expansão da economia. O longo período de baixa expansão ajuda a explicar a atual dificuldade de romper a barreira da fraca expansão dos negócios.

Assim como o desemprego de longa duração desqualifica o trabalhador, uma economia que cresce abaixo do que poderia por muito tempo corre o risco de "enferrujar". Essa "ferrugem" pode estar na origem das expectativas de nova desaceleração do crescimento projetada para 2023.