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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Haddad não é 'Posto Ipiranga', mas não será um 'pau-mandado'

09/12/2022 12h48

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Com Fernando Haddad na Fazenda, a partir de 1º de janeiro, mudará completamente a relação do governo com o Legislativo e os representantes do mercado financeiro. Haddad, diferentemente do ministro Paulo Guedes, não será um "Posto Ipiranga" do presidente. O presidente Lula será, ele mesmo, o "Posto Ipiranga" do governo.

Isso significa que Haddad atuará como executor de políticas econômicas definidas por Lula. Mas, nessa nova forma de relação entre o presidente e o ministro, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação não será um poste ou um simples "pau-mandado".

Como deve ser o relacionamento com Lula? Não se deve confundir, no caso de Haddad, lealdade com subserviência. O futuro ministro da Fazenda é leal a Lula, mas tem formação, conhecimentos e atitude para expor ideias e brigar por elas. Em razão desse tipo de comportamento, Haddad é até tido como "arrogante", mesmo com sua fala mansa e gestos educados característicos.

Na política, e também nos seus posicionamentos em relação à economia, Haddad tem sido carimbado há bastante tempo como o mais tucano dos petistas. Mesmo assim, e apesar do longo processo de "venda" do nome de Haddad, promovido por Lula, influenciadores do mercado financeiro ainda não engoliram completamente a indicação do novo ministro da Fazenda.

Por que o mercado ainda não engoliu Haddad? Luís Stuhlberger, o respeitado gestor dos fundos de investimentos Verde, por exemplo, teme que, com Haddad na Fazenda, as agências internacionais de risco rebaixem a nota de crédito do Brasil. Por trás desse temor está a ideia de que o novo ministro defende ideias econômicas heterodoxas, privilegiando políticas que exigem elevação dos gastos públicos.

(As linhas de pensamento econômico são divididas, num primeiro nível, em duas correntes: ortodoxos e heterodoxos. Ortodoxos dão ênfase ao equilíbrio econômico, sobretudo na área das contas públicas, defendendo que não se pode gastar mais do que se arrecada, seja no caso de uma família, seja no caso de um país. Heterodoxos consideram que, diferentemente das famílias, ao gastar e investir, o governo pode compensar o aumento da dívida com crescimento da economia e aumentos na arrecadação.)

No mercado financeiro, os temores em relação a políticas econômicas de aumento de gastos, se sustentam em alguns argumentos.

POR QUE O AUMENTO DE GASTOS PREOCUPA

  • Aumento de gastos leva a aumentos na dívida pública
  • Dívida pública mais elevada, se sua trajetória é considerada insustentável, promove desconfianças em relação à capacidade de o governo honrar sua dívida
  • clima de desconfiança conduz a aumentos nas cotações do dólar
  • aumentos na cotação do dólar levam a altas nas taxas de inflação
  • para combater altas da inflação, o Banco Central passa a adotar política monetária contracionista, aumentando as taxas de juros
  • taxas de juros mais altas aumentam os riscos dos negócios, inibem o investimento privado e produzem cortes na demanda por bens e produtos, afetando negativamente a atividade econômica
  • Menor atividade econômica vai se refletir, logo à frente em redução nas taxas de emprego e em recessão econômica

Para, no entanto, poder formar um melhor juízo do que poderá ser a política econômica com Haddad à frente da Fazenda, falta conhecer a equipe. Ainda não se sabe quem ele levará para o ministério, e os ministros que ocuparão o Planejamento e outras pastas da esfera econômica.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL