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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

IPCA-15 antecipará deflação em junho e deixará BC com cara de tacho

26/06/2023 11h56

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Prevista para ser divulgada nesta terça-feira (27), a inflação de junho, medida pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15), se confirmadas as projeções, marcará o ponto mais baixo da variação de preços em 2023. A maioria das previsões aponta ligeiro recuo, com variação negativa do índice, em relação a maio.

Nas estimativas de Fabio Romão, economista da influente LCA Consultoria, com longa experiência em acompanhamento de preços, o IPCA-15 de junho registrará desinflação de 0,07% sobre maio. Com esse resultado, descerá a 3,28%, no acumulado em 12 meses, alcançando o centro da meta para 2023, de 3,25%.

Desde março deste ano, o IPCA, em 12 meses, se acomoda dentro do intervalo de tolerância do sistema de metas, que aceita variação de 1,75% a 4,75%. Mas, atingir o centro da meta é uma novidade que não acontecia desde outubro de 2020, em plena pandemia, quando a inflação ficou em 3,92% para um centro da meta de 4%.

BC se "desancorou" das expectativas

A marcha benigna da inflação em 2023 está deixando o presidente e os diretores do Banco Central, que decidem o nível da taxa básica de juros (taxa Selic), no Copom (Comitê de Política Monetária), com cara de tacho. Apesar da resistência do BC em apontar o caminho de recuo nos juros, em sua comunicação com o mercado, os analistas insistem em manter previsões de cortes a curto prazo.

No Boletim Focus desta segunda-feira (26), a Selic, no fim do ano, estará no nível de 12,25% — 1,5 ponto percentual abaixo do nível atual, de 13,75%. É de se notar que a previsão de corte dos analistas não mudou depois da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que manteve a taxa onde se encontra há quase um ano e não indicou cortes à frente. Ou seja, a "desancoragem das expectativas", que o Copom aponta como razão para manter os juros reais mais altos do mundo, mudou de sinal: é o BC que se desancorou do mercado.

Inflação de alimentos em intenso recuo

Os preços em queda, ou com altas mais moderadas, de maio para junho, nos grupos de alimentos, transportes e saúde, explicam o recuo mensal do IPCA-15. No caso dos alimentos, cuja variação de preços afeta mais intensamente o bolso dos mais pobres, o recuo previsto é intenso, saindo de 0,94%, no IPCA-15 de maio, para uma variação negativa de 0,36%, em junho.

Para o IPCA cheio de junho, as projeções para a inflação do grupo alimentos e bebidas são ainda de quedas mais fortes, fechando em -0,45%. Considerando apenas a alimentação no domicílio, as previsões apontam recuo de 0,7%, no IPCA-15, e de 0,8%, no IPCA cheio.

Outros fatores estão contribuindo para o recuo da inflação. Um deles é a redução dos preços de automóveis, com o programa de descontos lançado pelo governo. Também os recentes anúncios pela Petrobras de novos cortes nos preços da gasolina vendida às refinarias tem levado analistas a redução suas previsões. Também a queda nas cotações do dólar reforçam as projeções de deflação mais intensa em junho.

Alta a partir de julho será moderada

Mas é a base de comparação mais favorável que assegura a derrubada da inflação em 12 meses para o centro da meta de inflação. Em junho de 2022, a inflação, medida pelo IPCA-15 tinha alcançado 0,69%. Essa variação alta, ao ser substituída por um resultado negativo, determina recuo forte na variação medida no acumulado em 12 meses.

A base de comparação, porém, virou a partir de julho do ano passado, quando a inflação começou a recuar. A partir do mês que vem, a variação mensal do IPCA será substituída por um resultado mais alto do que o registrado no mesmo mês de 2022. Assim, o acumulado em 12 meses deverá voltar a subir.

Houve deflação em agosto e setembro do ano passado. Depois de subir apenas 0,16% em julho, o IPCA recuou fortes 0,37% em agosto e ainda desceu mais em setembro, com nova deflação de 0,37%. No último trimestre de 2022, o IPCA mensal subiu pouco (0,16% em outubro, 0,53% em novembro, e 0,52% em dezembro)

A esperada alta da inflação, no acumulado em 12 meses, a partir de julho, contudo, tende a ser benigna, segundo as projeções. Em julho e agosto deve rodar em torno de 0,3% e não passar de 0,5% até o fim do ano.

Todas as previsões estão convergindo para uma alta da inflação, no conjunto de 2023, de 5% ou até um pouco menos. Já há quem esteja prevendo que a variação do IPCA ficará dentro do intervalo de tolerância do sistema de metas, abaixo de 4,75%.