Cresce aposta de corte de 0,5 ponto na Selic, mas resta convencer o BC
A marcha de inflação, medida pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), com a ligeira deflação registrada em julho, apontou para um cenário um pouco mais confortável para que o Copom (Comitê de Política Monetária) decida iniciar um ciclo de reduções na taxa básica de juros (taxa Selic) com um corte de 0,5 ponto percentual, na reunião prevista para a próxima quarta-feira (2).
Se, porém, perderam um pouco de força, sobrevivem argumentos para iniciar essa trajetória mais devagar, com um corte de 0,25 ponto. As apostas numa redução de 0,5 ponto ganharam reforço, mas não seria surpresa se a decisão venha a ser por um corte menor, de 0,25 ponto, diante da comunicação mais dura até aqui transmitida ao mercado pelo Banco Central. Antes da deflação do IPCA-15 de julho, o boletim Focus, que traz a mediana das projeções do mercado, ainda previa corte de 0,25 ponto, na reunião do Copom em agosto.
O IPCA-15 ficou 0,07% negativo em julho, ante projeções de queda de 0,04%. No ano, a inflação avança 3,09%, recuando para alta de 3,19%, no acumulado em 12 meses, menor do que a subida de 3,4% em junho, e abaixo do centro da meta de inflação para 2023, fixado em 3,25%.
Inflação subirá até setembro, mas voltará a cair
Projeções para o IPCA cheio de julho são de ligeira elevação. Nas estimativas de Fabio Romão, economista da LCA Consultores, experiente no acompanhamento de preços, o IPCA de julho ficará praticamente estável, com alta de 0,05%. No acumulado em 12 meses, será o início de um período de subida moderada e comportada da inflação mensal, com pico previsto, no acumulado em 12 meses, de 5,3% em setembro.
Por enquanto, a inflação, medida pelo IPCA, nas previsões de Romão, fecharia 2023 com alta de 4,9%, ainda um pouco acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, que é de 4,75% par este ano. Para 2024, porém, as projeções já são de inflação dentro do intervalo de tolerância, com avanço de 4%.
Serviços e núcleos cedem, mas continuam mais altos
A alta de preços nos serviços, ponto de sustentação da rigidez do Copom em manter a taxa Selic em 13,75%, cedeu com mais intensidade em julho. A inflação nos serviços avançou 0,36% no IPCA-15 de julho, ante alta de 0,56% em junho. Mas ainda sobe 5,6%, no acumulado em 12 meses, acima da variação do índice cheio.
Também a médias dos núcleos de inflação acompanhados pelo BC — medidas de variação de preços que excluem movimentos sazonais ou inesperados —, outro fator invocado pelo Copom para insistir em manter a Selic no nível em que se encontra desde agosto de 2022, recuaram em julho, mas continuam acima do IPCA-15 cheio. A alta da média dos núcleos, no IPCA-15 de julho ficou em 0,07% (0,35%, em junho), caindo de 6,21%, no acumulado em 12 meses, no mês passado, para 5,56%.
O cenário previsto para a inflação em 2023, nas projeções de Fabio Romão, mostra deflação em alimentos no domicílio e alguma pressão em serviços, com alta de 6,2%. O impacto negativo mais forte viria dos preços monitorados — combustíveis e transportes, produtos farmacêuticos, planos de saúde — que indicam subida acima de 9% no ano.
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