Katherine Rivas

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Reportagem

Petrobras, Copasa: as ações que pagam dividendos acima da Selic

Com mais um corte da Selic, desta vez de 0,25 ponto percentual para 10,50%, a taxa ficou no seu menor patamar desde fevereiro de 2022. A renda variável, principalmente a que garante uma renda passiva direto na conta, passa a se tornar mais atraente.

Neste cenário, há 19 ações na Bolsa de Valores que conseguem entregar um retorno com dividendos (dividend yield) superior à taxa básica de juros. Nomes como Petrobras, Metal Leve, Vulcabras, Copasa e Mitre Realty lideram os rendimentos.

De todas estas companhias, contudo, apenas 12 teriam capacidade de entregar um dividend yield superior a 10,50% nos próximos 12 meses, revela projeção de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria. É considerada a premissa de que as empresas devem manter a mesma política de distribuição de dividendos dos últimos 12 meses e ter um lucro igual ou maior ao registrado no último ano.

Mesmo com rendimentos interessantes, nem todas as companhias podem ser úteis para uma estratégia de dividendos de longo prazo. É preciso estar atento a perenidade, geração de caixa consistente e os fundamentos, segundo analistas consultados pela coluna. Nesta reportagem, apresentamos algumas empresas que podem representar oportunidade e um yield elevado nos próximos meses.

Quais ações pagam mais que a Selic de 10,50%?

Abaixo você encontra as companhias que pagam dividendos acima da Selic de 10,50% ao ano e qual seria o retorno que teriam capacidade de entregar nos próximos 12 meses. Lembrando que o dividendo projetado leva em conta que as empresas mantenham a mesma política de distribuição de dividendos dos últimos 12 meses e tenham um lucro igual ou maior ao registrado no último ano.

  1. Petrobras (PETR4) - DY realizado (29,73%); DY projetado (17,65%)
  2. Petrobras (PETR3) - DY realizado (26,76%); DY projetado (16,67%)
  3. Metal Leve (LEVE3) - DY realizado (24,56%); DY projetado (24,88%)
  4. Vulcabras (VULC3) - DY realizado (21,32%); DY projetado (19,22%)
  5. Copasa (CSMG3) - DY realizado (20,04%); DY projetado (18,07%)
  6. Mitre Realty (MTRE3) - DY realizado (18,74%); DY projetado (16,88%)
  7. CPFL Energia (CPFE3) - DY realizado (15,26%); DY projetado (14,25%)
  8. CSN Mineração (CMIN3) - DY realizado (13,84%); DY projetado (12,92%)
  9. Brasilagro (AGRO3) - DY realizado (13,59%); DY projetado (12,30%)
  10. Auren (AURE3) - DY realizado (13,58%); DY projetado (16,32%)
  11. Metalúrgica Gerdau (GOAU4) - DY realizado (13,33%); DY projetado (13,58%)
  12. Bradespar (BRAP4) - DY realizado (13,01%); DY projetado (14,69%)
  13. Cemig (CMIG4) - DY realizado (11,85%); DY projetado (10,38%)
  14. Kepler Weber (KEPL3) - DY realizado (11,66%); DY projetado (8,39%)
  15. Valid (VLID3) - DY realizado (11,02%); DY projetado (7,06%)
  16. Lavvi (LAVV3) - DY realizado (10,98%); DY projetado (6,29%)
  17. Marcopolo (POMO4) - DY realizado (10,96%); DY projetado (5,81%)
  18. Cury (CURY3) - DY realizado (10,94%); DY projetado (6,21%)
  19. Banco do Brasil (BBAS3) - DY realizado (10,8%); DY projetado (8,20%)

Fonte: Elos Ayta Consultoria
DY realizado = dividend yield nos últimos 12 meses
DY projetado = dividend yield para os próximos 12 meses - desde que as empresas mantenham a mesma política de distribuição de dividendos dos últimos 12 meses e tenham um lucro igual ou maior ao registrado no último ano.

Quanto essas empresas pagaram na mediana dos últimos cinco anos?

Além de projeções, é muito importante o investidor ter em conta o histórico de remuneração das companhias nos últimos anos. Isso serve para entender se os dividendos são recorrentes ou fruto de algum evento extraordinário e se tem potencial dessa remuneração se repetir.

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Rivero aconselha observar a mediana dos últimos cinco anos, para uma visão mais conservadora dos proventos das empresas. Em companhias com menor tempo de Bolsa, foi calculada a mediana desde a abertura de capital. Veja abaixo:

  1. Petrobras (PETR4) - Mediana do DY (29,73%)
  2. Petrobras (PETR3) - Mediana do DY (26,76%)
  3. Metal Leve (LEVE3) - Mediana do DY (17,17%)
  4. Vulcabras (VULC3) - Mediana do DY (4,18%)
  5. Copasa (CSMG3) - Mediana do DY (10,46%)
  6. Mitre Realty (MTRE3) - Mediana do DY (5,22%)
  7. CPFL Energia (CPFE3) - Mediana do DY (11,14%)
  8. CSN Mineração (CMIN3) - Mediana do DY (12,12%)
  9. Brasilagro (AGRO3) - Mediana do DY (9,73%)
  10. Auren (AURE3) - Mediana do DY (12,07%)
  11. Metalúrgica Gerdau (GOAU4) - Mediana do DY (10,74%)
  12. Bradespar (BRAP4) - Mediana do DY (13,01%)
  13. Cemig (CMIG4) - Mediana do DY (10,88%)
  14. Kepler Weber (KEPL3) - Mediana do DY (6,09%)
  15. Valid (VLID3) - Mediana do DY (3,03%)
  16. Lavvi (LAVV3) - Mediana do DY (10,15%)
  17. Marcopolo (POMO4) - Mediana do DY (4,08%)
  18. Cury (CURY3) - Mediana do DY (6,81%)
  19. Banco do Brasil (BBAS3) - Mediana do DY (9,08%)

Fonte: Elos Ayta Consultoria

Qual é a relação entre Selic e dividendos?

Existem pelo menos quatro efeitos que a queda da taxa Selic pode ter no mercado de ações e principalmente nas empresas que distribuem dividendos, explica Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital.

Um deles passa pelo custo menor das dívidas, principalmente das empresas que possuem dívidas indexadas ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário e principal indicador da renda fixa). Segundo Nobile, o custo do financiamento diminui permitindo que as empresas utilizem recursos de forma mais eficiente, seja investindo em novos projetos ou pagando proventos.

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Com uma Selic mais baixa, a taxa interna de retorno (TIR) dos projetos de investimento se torna mais atrativa. "Empresas podem investir em projetos com maior taxa interna de retorno, o que impulsiona o crescimento e a rentabilidade", destaca Nobile.

Alguns setores específicos que são sensíveis à queda da Selic acabam se beneficiando. É o caso do por exemplo o setor elétrico, com alívio das suas dívidas e do setor bancário - que pode emprestar recursos com taxas menores e ver redução da inadimplência.

Nobile cita ainda a estabilidade de geração de caixa, em empresas perenes como as do setor de energia elétrica, saneamento e telecom, que com a queda da Selic podem aproveitar para distribuir mais dividendos.

Ações com potencial

Para Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, empresas como Petrobras (PETR4), Copasa (CSMG3), CPFL Energia (CPFE3), Metalúrgica Gerdau (GOAU4), Kepler Weber (KEPL3), Auren (AURE3), Cemig (CMIG4) e Banco do Brasil (BBAS3) poderiam ser utilizadas para uma estratégia de dividendos de longo prazo. Entre as preferidas do analista estão a Petrobras e o Banco do Brasil.

Petrobras (PETR4)

Na Petrobras, Duarte destaca que a companhia paga proventos generosos e tem uma política clara de distribuição. Considerando o histórico desde 2021, a companhia já chegou a remunerar os seus acionistas com R$ 16,78 por ação no ano. A petroleira estabelece, na sua política de remuneração, distribuir 45% do seu fluxo de caixa livre - o fluxo de caixa menos investimentos e aquisições - desde que tenha uma dívida líquida inferior a US$ 65 bilhões.

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"A qualidade do petróleo é outra das vantagens competitivas. É uma das poucas empresas do mundo que explora petróleo em águas profundas", afirma.

Entre os pontos negativos de investir na petroleira, Duarte aponta o fato de ser estatal e a ingerência política na companhia, como visto nos últimos meses com diversos ruídos de mercado. Além disso, a Petrobras carrega volatilidade por conta dos preços do petróleo que podem desvalorizar e pressionar os resultados da empresa.

O dividend yield projetado por Duarte para os próximos 12 meses é de 18%, com preço-teto de compra de R$ 40 para as ações PETR4.

Outro que gosta da tese é Gustavo Poladian, sócio e analista de renda variável da Meraki Capital, que acredita que com o patamar atual do petróleo brent - acima de US$ 80 o barril - a Petrobras deve continuar gerando um caixa robusto. Ele destaca que apenas com os dividendos anunciados referentes ao 1° tri e os ordinários que devem ser pagos nos próximos trimestres, o dividend yield da companhia poderia chegar a 13%.

"Também existe a possibilidade de pagar os 50% restantes na reserva de dividendos, o que elevaria o dividend yield para 17%", destaca.

Segundo Poladian, a Petrobras produziu acima do seu guidance (projeção) no 1° trimestre e historicamente sempre executa um capex (investimento na companhia) abaixo do plano estratégico. "Se isso se confirmar, além da produção maior, teremos um yield maior", afirma o analista.

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Banco do Brasil (BBAS3)

Duarte cita também o Banco do Brasil (BBAS3), que é um banco estatal. A instituição tem como premissa remunerar os seus acionistas com um payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) de 45%. Segundo a gestão da empresa, este payout deve se manter pelo menos até 2026.

Duarte destaca que o Banco do Brasil é uma boa empresa para quem busca dividendos no longo prazo. A companhia costuma divulgar um calendário anual com 8 pagamentos antecipados e complementares, de forma que os investidores saibam as datas de anúncio, datas de corte e de pagamento dos proventos antecipadamente. Confira aqui companhias que pagam dividendos com regularidade.

Para o analista da Ticker, os pontos positivos são a forte exposição ao agronegócio, que é um segmento forte na economia brasileira, além da forte participação no crédito consignado que é um dos mais seguros atualmente, por ser descontado diretamente da folha salarial dos servidores públicos, controlando assim a inadimplência.

Já entre os pontos negativos, Duarte destaca o fato de ser uma empresa estatal, que pode estar exposta a interferência política do governo. Um dos principais riscos seria o governo utilizar o Banco do Brasil para oferecer crédito sem qualidade afetando a rentabilidade da instituição.

Além deste risco, Duarte lembra que por estar exposto ao agronegócio, o banco pode enfrentar certa volatilidade, já que o segmento depende muito de ciclos de commodities. Recentemente por exemplo, o banco registrou aumento na inadimplência da carteira agrícola no 1° trimestre por conta de atrasos com produtores de soja.

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Para o Banco do Brasil (BBAS3), Duarte projeta um dividend yield de 10% nos próximos 12 meses, com preço-teto de compra de até R$ 27.

Cury (CURY3)

Outra companhia da lista que atualmente paga acima da Selic é a Cury (CURY3), uma incorporadora de baixa renda. Para os próximos 12 meses, contudo o yield pode recuar. Poladian, da Meraki Capital, projeta um dividend yield de 8,1%, caso a empresa opte por pagar todo o lucro líquido de 2024. Até o momento, com os anúncios feitos, a Cury deve alcançar um yield de 6,5%, segundo o analista.

Poladian explica que a Cury tem se mostrado, nos últimos anos, a melhor operadora do setor, apresentando a maior velocidade de vendas e crescimento de lançamentos além da maior margem bruta, forte geração de caixa e rentabilidade.

"O segmento de incorporação de baixa renda opera no crédito associativo, ou seja, o repasse para o banco é feito na planta, diferente da alta renda que acontece na entrega do empreendimento, com isso, as empresas que conseguem ter uma boa velocidade de venda, possuem uma maior entrada de recurso no início do projeto, com isso necessitam de menos capital para crescer sua operação", explica Poladian.

Para o analista, em 2024, a Cury deve crescer mais de 20% nos seus lançamentos e acima de 30% no seu lucro líquido. Contudo, um dos riscos que o mercado menciona é até que ponto a empresa consegue crescer sem afetar a rentabilidade da operação. "As empresas que expandiram suas operações nesse setor não conseguiram manter o nível de rentabilidade. Por enquanto a Cury tem conseguido crescer e com a rentabilidade melhorando", pontua Poladian.

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