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Mercado engole Haddad, mas espera alguém mais técnico para Planejamento
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O mercado não simpatizou muito com a escolha de Fernando Haddad para ministro da Fazenda de Lula, mas até está aceitando a realidade, com a expectativa de que outros nomes importantes da equipe econômica sejam afinados com suas propostas.
O que acham de Haddad? Nas últimas semanas, o mercado já havia 'precificado' a indicação de Fernando Haddad como ministro da Fazenda de Lula, à medida que cresciam os indícios de que ele seria o escolhido. O nome nunca foi o favorito da Faria Lima, mas as resistências foram sendo reduzidas. Isso aconteceu por duas razões:
- Agentes econômicos viram sinalizações positivas de Haddad, em encontros com interlocutores.
- Há expectativa (sem nenhuma confirmação), de que o presidente eleito pode escolher um nome que agrade mais ao mercado nas secretarias mais importantes da Fazenda e no Planejamento.
Ou seja, se o "combo" da equipe econômica tiver um saldo pró-mercado não veremos grandes oscilações de Bolsa e dólar nos próximos dias.
Quais são os nomes considerados?
- Armínio Fraga
- Pérsio Arida
- Ana Clara Abrão
- Gabriel Galípolo
- Bernard Appy
- Marco Bonomo
São nomes que agradam ao mercado para secretarias importantes ou para o Planejamento, fazendo a dobradinha com Haddad na Fazenda, mas não há indícios de convites ou conversas avançadas. Todos têm atuação forte no mercado e são considerados técnicos com viés liberal.
Alguns outros nomes são rejeitados: Já os nomes de André Lara Resende, Nelson Barbosa, Guilherme Mello e Esther Dweck não são tão bem recebidos para a dupla com Haddad, especialmente pelo perfil mais acadêmico e pelas suas teses econômicas.
A maior resistência está em André Lara, pois ele defende a TMM (Teoria Monetária Moderna), mal recebida no mercado pela possibilidade de gastos públicos sem limitadores.
Fazem parte do grupo de Planejamento, Orçamento e Gestão da transição, além de Esther Dweck, os economistas Antonio Corrêa de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia e Enio Verri, deputado federal, e eles também são, portanto, cotados a ocupar postos na equipe econômica.
Perfil muito estatizante é a preocupação: De forma simplista, o que preocupa o mercado é ter no comando da Economia, independente do desenho da pasta (Economia ou Fazenda + Planejamento + Indústria e Comércio Exterior), ministros com perfil muito estatizante, sem capacidade de organizar a macroeconomia, sem responsabilidade fiscal e incapazes de fazer a interlocução necessária com o Congresso Nacional.
Haddad não reprova em nenhum desses quesitos, mas também não tira nota dez e por isso o mercado espera os demais nomes para complementar o perfil do ex-ministro da Educação.
A avaliação de fontes que ouvi nas últimas semanas é que falta em Haddad:
(1) ser economista: apesar de ter mestrado, ele nunca atuou na área e nem seguiu em pesquisas sobre o assunto, com isso as ideias dele sobre a economia não ficam tão claras.
(2) ser um grande articulador político: apesar de ter vasta experiência e trânsito, ele não é considerado um "Palocci", que também não era economista mas montou um "dream team" econômico.
Medo que o governo gaste demais: O temor maior é que a equipe econômica não seja capaz de frear um governo que eventualmente gaste demais, gaste mal, e sofra com juros altos, baixo crescimento e explosão da dívida.
Não há nenhum indício de que Haddad agirá sem responsabilidade fiscal, mas a presença de um nome pró-mercado nas pastas econômicas serviria até como um marcador para os rumos da condução econômica, se essa pessoa vier a deixar o governo, já haverá um sinal claro de mudança de rumos.
Para o Planejamento, que pode ter função esvaziada sob Lula 3 em relação a Lula 1 e 2, são também cotados nomes com perfil estritamente político, como o deputado Alexandre Padilha, Aloizio Mercadante, Jaques Wagner e Wellington Dias.
No caso de uma escolha puro-sangue de Lula, com dois políticos petistas à frente da Fazenda e do Planejamento, o mercado voltará os olhos para os nomes que ocuparão as secretarias Executiva, da Fazenda, do Tesouro e de Política Econômica.
Atualmente, o CMN (Conselho Monetário Nacional, que formula a política da moeda e do crédito para estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social) é formado pelo ministro da Economia, pelo presidente do Banco Central e pelo secretário de Fazenda, mas já teve o ministro do Planejamento na sua composição.
Dois pontos foram notados pelo mercado nas últimas semanas.
(1) O novo desenho do ministério econômico, ainda não confirmado, tende a enfraquecer o Planejamento (com BNDES e Apex sob o guarda-chuva do novo Mdic), o que reforça a suspeita de que os grandes nomes do mercado não aceitaram a missão de conduzir a pasta do Planejamento. Pérsio Arida disse publicamente que não iria para cargo no governo e Ana Carla Abrão me disse que não foi convidada e nem teria interesse em assumir eventual cargo.
(2) Lula deixou claro em coletiva há mais de uma semana que independente de nome, quem dará as rédeas para a Economia será ele.
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