Mariana Londres

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Reportagem

Até que ponto os juros americanos impactam no bolso dos brasileiros

Os olhos dos investidores do mundo todo estarão voltados nesta quarta-feira (6) para a fala do presidente do Banco Central americano (Fed), Jerome Powell, no Congresso dos EUA. A expectativa é que ele reforce a mensagem de que não há pressa em cortar as taxas de juros por lá, já que as pressões sobre os preços persistem e a economia continua forte.

Mas qual o impacto disso no Brasil?

O impacto é importante, mas indireto. Para gestores brasileiros, quanto mais cedo for o corte dos juros americanos, melhor. A queda dos juros lá fora traz investimentos de volta aos países emergentes, destravando a Bolsa brasileira, que tem andado de lado neste início de ano (e, portanto, trazendo dinheiro e valorizando as empresas brasileiras).

Uma redução dos juros nos EUA contribui ainda com o câmbio (dólar mais baixo), o que reduz as pressões inflacionárias por aqui dos itens importados e preços atrelados à moeda americana, como a gasolina, por exemplo.

É por isso que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem acompanhado atentamente o movimento dos juros americanos desde o ano passado e disse em diversas ocasiões que a economia internacional tem pesado mais na decisão de política monetária brasileira, já que há um problema fiscal no mundo todo, com as maiores taxas nos últimos quarenta anos.

O corte dos juros americanos abre espaço para o BC brasileiro cortar mais os juros brasileiros e deixar o crédito mais barato por aqui?

O corte dos juros americanos melhora o ambiente, mas não há uma relação direta, como me explicou o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.

"A gente ouve que se o juro americano cai, o BC vai ter mais flexibilidade de cortar aqui. Eu entendo, porque um câmbio mais baixo, e sem grandes choques, contribui para uma inflação mais controlada. Mas o BC trabalha com metas de inflação. E está preocupado com a inflação que está no Focus, para convergir [para o centro da meta]. Ele está preocupado com a inflação daqui a dez, doze meses, e esse gap precisa diminuir para o BC ter certeza se pode cortar mais ou menos os juros. A relação com os juros americanos não é direta".

É importante observar também que os diretores do Banco Central brasileiro têm reforçado que as consequências de cortes nos juros americanos são indiretas: câmbio mais baixo, inflação menor, otimismo para a economia.

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"Por isso sou menos otimista com uma Selic [a taxa básica de juros no Brasil, definida pelo comitê do Banco Central) tão cedo a 9% ou abaixo de 9% ao ano. O corte no Brasil depende de outras variáveis", diz Sung.

Essas variáveis são:

  • A incerteza no mercado externo como um todo.
  • A incerteza fiscal no Brasil, com mudança ou não da meta [hoje em déficit zero].
  • A inflação no Brasil que ainda está parcialmente ancorada. Há uma grande preocupação com a evolução da inflação de serviços e salários.

"O BC tem mostrado conservadorismo neste ciclo de corte, apontando os riscos em todos os comunicados".

Tanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, quanto diretores têm discutido como os salários podem impactar a inflação e como a inflação de serviços pode impactar a inflação.

"Não necessariamente há no curto prazo relação entre salários e inflação de serviços. Mas há um sinal amarelo. A inflação de serviços é mais difícil de ser impactada pela Selic. O mercado de trabalho tem se mostrado resiliente e vai dificultar um pouco a flexibilização da Selic. Eu sigo mais cauteloso com a inflação de serviços, especialmente os serviços subjacentes. Precisamos olhar com atenção, tanto aqui quanto os EUA", completa Gustavo Sung.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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