Nota da Moody's fortalece equipe econômica na defesa da revisão de gastos
A elevação da nota do Brasil pela agência de classificação de risco Moody's nesta semana é uma ótima notícia, mas foi vista com ceticismo por parte dos agentes do mercado. Para esta parcela de economistas e pesquisadores, os números mostram que há um longo caminho que ainda precisa ser percorrido para o grau de investimento, o que torna menos provável que ele seja alcançado já nos próximos anos.
Apesar do ceticismo, a busca pelo grau de investimento fortalece a equipe econômica na defesa da necessidade de uma correção de rota na política fiscal, ajudando a reduzir resistências dentro do próprio governo.
O que levanta dúvidas?
PIB (Produto Interno Bruto): O que todos querem saber é se a surpresa positiva do crescimento do Brasil nos últimos dois anos se sustenta em uma prazo maior. Para a Moody's, o desempenho econômico no Brasil está surpreendendo positivamente desde 2022 devido a fatores cíclicos e ao impacto de reformas estruturais. Para os céticos em relação ao grau de investimento, o crescimento da economia é insustentável em um prazo maior porque ele está turbinado por gastos públicos, o que numa economia de pleno emprego é inflacionário (o que por sua vez leva o BC a elevar os juros para conter a inflação, o que também freia o crescimento).
Para o crescimento do emprego não ser inflacionário, a remuneração do trabalho teria que aumentar na mesma produção da produtividade no trabalho, o que não ocorre hoje no Brasil. Outro sinal de insustentabilidade de crescimento é a rentabilidade das empresas, que está em queda, assim como as exportações em proporção do PIB.
Dívida: Outro risco que está sendo monitorado é a trajetória da dívida do governo brasileiro e se a âncora fiscal, hoje o arcabouço, será ajustada para também ser sustentável ao longo do tempo. O aumento dos gastos públicos (benefícios sociais, ganho real do salário mínimo, vinculações e indexações) tem pressionado a dívida, fazendo com que as previsões elevem o patamar da dívida em relação ao PIB. Quando o Brasil tinha grau de investimento, em 2008, a dívida pública bruta era de 56% do PIB. Hoje é de 74,4% (2023), podendo chegar a mais de 85% ao final de 2026 se nenhum ajuste for feito.
Arcabouço fiscal: Para a Moody's, o instrumento de contenção da dívida do governo, o arcabouço, precisa de ajustes já para reduzir o crescimento da despesa obrigatória. Ainda não há clareza sobre quais medidas serão tomadas pelo governo para conter o avanço dessas despesas e, assim, manter o arcabouço fiscal de pé. Apenas contendo esse avanço a dívida pública brasileira pode iniciar uma trajetória de queda.
Indicadores: Em termos de indicadores, o que o Brasil precisaria melhorar são as dívidas bruta e líquida, a parcela da dívida pré-fixada do governo brasileiro, as despesas e receitas do governo em percentual do PIB, as despesas com juros em percentual das receitas e a participação de estrangeiros na dívida.
O que melhoraria as condições para o grau de investimento?
Ajustes em benefícios, como limites para o BPC (Benefício de Prestação Continuada), idade mínima por exemplo, ou a sua desvinculação ao salário mínimo e ajustes no seguro-desemprego e no abono salarial fazem parte do cardápio da equipe econômica para reduzir o crescimento das despesas obrigatórias. Qualquer alteração nesse sentido enfrenta resistências dentro do governo, mas a equipe econômica tem agora o argumento de que há ganhos no horizonte com os ajustes.
Por que a Moody 's elevou a nota do Brasil?
A agência levou em conta o crescimento da economia do Brasil acima das expectativas, a melhora do perfil do crédito e também a maior previsibilidade nas políticas fiscais. Os dados em que o Brasil está melhor dos seus pares na classificação são os resultados do PIB nominal, da balança comercial, o volume das reservas internacionais e a necessidade de financiamento externo. A elevação da nota não deve ser acompanhada, por enquanto, por outras agências de risco.
24 comentários
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Cleiton do Prado Pereira
Eu já perdi a esperança de ver, ler ou ouvir uma achista, analista, articulista, jornalista, especialista em tudo um dia falar do pagamento de juros abusivos do BC como gastos desnecessários, de todos os gastos desnecessários do congresso e do judiciário. Todos vivem numa bolha onde saúde, educação, transporte, moradia, para o povo são gastos, o restante que se gastam com mordomias do congresso e do judiciário, pagamento de juros escorchantes a banqueiros, perdão de dívidas de latifundiários, não cobrança de impostos de indústrias, hipermercados, bancos, agiotas, rentistas, especuladores e sonegadores (lembrando que no Brasil se sonega cerca de R$ 500 bilhões ao ano), falarem que são GASTOS deles e não do GOVERNO.
Gladstone Eugênio Ramos
O mundo diz: o Brasil está no caminho certo, contas públicas e inflação sob controle, restabelecimento da arrecadação e ajuste fiscal andando de forma correta e os Farialimers: tá tudo errado, o Brasil está crescendo mas isso ruim, o pleno emprego gera inflação, os juros tem que subir. Bando de idiotas.
Carlos Alberto Ruschel Filho
Engraçado que os analistas de mercado que criticam a elevação da nota da Moody´s são os mesmos que SEMPRE ERRAM as projeções de crescimento e inflação no Brasil.