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Que negócios a XP vai fazer com os aeroportos Campo de Marte e Jacarepaguá?

Campo de Marte fica localizado em área nobre de São Paulo: XP arrematou a concessão do local por 30 anos - Gabo Morales/Folhapress
Campo de Marte fica localizado em área nobre de São Paulo: XP arrematou a concessão do local por 30 anos Imagem: Gabo Morales/Folhapress

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/08/2022 15h54

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A XP Infra arrematou a concessão de dois aeroportos: Campo de Marte (SP) e Jacarepaguá (RJ). Por um valor de R$ 141,4 milhões, a empresa foi a única a oferecer um lance no leilão que deu o direito de administrar os dois locais pelos próximos 30 anos.

Mas o que chamou a atenção é que não houve nenhuma outra empresa interessada no leilão. O que pode ter atraído a XP para o investimento? Conheça a seguir um pouco dos dois aeroportos e quais negócios podem ser explorados.

Qual o atrativo econômico dos dois aeroportos? Esses locais têm um potencial de negócios que vai além do modelo tradicional de aviação. Ambos são direcionados para a aviação geral, que inclui voos particulares e táxi aéreo, mas não a aviação comercial feita por companhias aéreas.

Com isso, podem se tornar novos polos do segmento, atraindo empresas do setor, além de outro filão muito importante para esses locais: o aluguel de imóveis e a cessão de hangares.

Os estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental que serviram de base para a concessão do bloco formado pelos dois aeroportos revelaram que ambos possuem um forte potencial para a comercialização de ativos imobiliários.

Ganho com aluguéis: Em 30 anos (prazo da concessão), Jacarepaguá deverá obter apenas 25% de sua receita a partir das tarifas de operação aeroportuária. Os outros 75% deverão vir do chamado real estate, que inclui o aluguel de espaços em seu entorno, muitos deles já existentes, como lojas e um hospital veterinário, o que torna a operação altamente lucrativa.

Campo de Marte, por sua vez, tem a previsão de receber 41% de seu faturamento por meio de receitas tarifárias, enquanto os outros 59% terão maior peso vindo da cessão de hangares, além de aluguéis.

Os espaços não utilizados para operações aeroportuárias podem ser alugados para empresas de logística e galpões, por exemplo, seguindo o exemplo de outros aeroportos privados em construção no país, como o Aerovale (SP) e o Antares (GO).

Qual pode ser o lucro da concessão? Para Ricardo Fenelon Jr., advogado especialista em direito aeronáutico e ex-diretor da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), os dois aeroportos se destacam por estarem em locais privilegiados das cidades, além de não terem operações da aviação comercial. "Já era esperado que quem levasse esse bloco teria um perfil diferente. Tanto que nenhum operador conhecido participou da disputa", diz Fenelon.

A prioridade para a XP é tornar esse negócio mais rentável do que ele foi apresentado no estudo econômico, afirma o advogado. Ele diz que as projeções mostram possibilidade de lucro de R$ 236,6 milhões no período da concessão.

Quem serão os concorrentes? De acordo com Raul Marinho, gerente técnico da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral), Jacarepaguá e Campo de Marte não deverão competir de maneira significativa com os outros aeroportos maiores nas proximidades.

Campo de Marte vai concorrer pouco com Congonhas e mais com aeroportos menores, como Jundiaí, Sorocaba e Amarais (Campinas). Jacarepaguá vai concorrer muito pouco com Santos Dumont, diz Marinho.

Atração de voos particulares: Para Oswaldo Sansone Rodrigues Filho, professor do curso de Aeroportos na faculdade de engenharia civil do Mackenzie, Congonhas pode aumentar sua capacidade de voos comerciais, diminuindo espaço para voos particulares. O Campo de Marte poderia receber essa demanda.

Carros voadores e helicópteros: Os pousos e decolagens hoje realizados nesses locais também devem sofrer mudanças. Sansone acredita que a XP poderá trazer inovações na operação no futuro.

"Imagino que tenha se sentido atraída pela localização desses aeroportos: São centrais, localizados em áreas nobres. Ainda devem estar de olho nos voos de helicópteros e nos de eVTOLs [carros voadores elétricos de decolagem e pouso vertical]", diz Sansone.

Esse modelo de aeronave vem sendo desenvolvido mundo afora, inclusive pela brasileira Eve, subsidiaria da Embraer, e devem entrar em operação até o final da década.

Campo de Marte tem condições técnicas plenas? Para Raul Marinho, algumas limitações impedem que diversos aviões que hoje usam Congonhas possam migrar para o Campo de Marte. Um deles é o conjunto de alterações que devem ser feitas na pista do aeroporto.

Com a concessão, a XP deverá realizar uma série de melhorias nos dois locais. Campo de Marte, por exemplo, terá de incluir espaços de segurança nas cabeceiras se os aviões perderem o controle.

Como não há espaço para onde a pista crescer, eles iriam tirar distância útil de pousos e decolagens, limitando a quantidade de aeronaves que poderiam voar ali. "Marte não conseguiria ser hub da aviação executiva. Ele poderia ser um hub parcial, mas não funcionaria com jatos maiores devido a essa limitação no tamanho da pista", diz Marinho.

Vejas a movimentação dos aeroportos em 2021:

Pousos e decolagens

  • Campo de Marte: 55.671 operações
  • Jacarepaguá: 68.687 operações
  • Congonhas: 126.227 operações
  • Santos Dumont: 72.370 operações

Passageiros 2021

  • Marte: 96.897 passageiros
  • Jacarepaguá: 167.028 passageiros
  • Congonhas: 9.677.569 passageiros
  • Santos Dumont: 6.799.614 passageiros