Quais os aviões que mais sofrem acidente no Brasil (e quais os motivos)?
Com acidentes aeronáuticos ganhando cada vez mais destaque, algumas aeronaves passam a ter um foco maior devido à preocupação (muitas vezes infundada) sobre sua segurança.
O ano de 2024 bateu o recorde de acidentes registrados no país nos últimos 10 anos, com 175 ocorrências ante 172 registradas em 2015, que ficou em segundo lugar. Foram 152 pessoas que perderam a vida apenas no ano passado, frente a 79 em 2015.
Entretanto, é sempre importante analisar com cautela os dados. Aviões que voam pouco tendem a ter menos chance de se acidentar. Já aqueles em maior quantidade e realizam mais ciclos de pouso e decolagem, estão mais expostos a situações críticas.
Qual tem mais acidentes?
Analisamos os dados entre 2018 e 2024 disponibilizados pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão ligado à FAB (Força Aérea Brasileira). Durante o período, foram registrados 1.077 acidentes aeronáuticos no país, sem contabilizar incidentes e incidentes graves.
Em todos os anos, o modelo de avião que mais se acidentou foi o Ipanema, usado para operações agrícolas. No período, foram 184 acidentes, com 37 mortes no total.
Veja o ranking de acidentes por tipo de aeronave envolvida:
- Embraer Ipanema: 184 acidentes
- Ultraleve sem designação específica: 99 acidentes
- Aeronave sem designação específica: 56 acidentes
- Cessna 188: 54 acidentes
- Robinson R44: 44 acidentes
- Seneca: 42 acidentes
- Cessna 182: 38 acidentes
- Outros sem especificação: 35 acidentes
- Pawnee PA25: 30 acidentes
- Air Tractor AT5T: 28 acidentes
Esses dados não indicam que o avião é seguro ou não, afinal, nenhum avião é feito para cair, mas para voar. Muitas questões estão ligadas ao tipo de operação, manutenção e uso.
Tipo de operação faz toda diferença
Entre as dez aeronaves mais envolvidas em acidentes no período, quatro são agrícolas. Entretanto, a análise fria dos números pode levar a conclusões equivocadas sobre falhas de segurança ou vulnerabilidade do projeto da aeronave, de acordo com Enio Beal Jr., piloto da aviação executiva e sócio da Jinkout Business Aviation.
"O problema não é o tipo de avião, mas, sim, o da operação. Voos a baixa altura, manobras constantes, proximidade com obstáculos —tudo exigido pela missão que executam, são desafios diários para os pilotos agrícolas", afirma Beal.
Segundo o piloto, há uma elevada quantidade de variáveis envolvendo os acidentes. Desde manutenção adequada, treinamento dos pilotos, respeito às regras e limites, tipo de operação, entre outras. "Dois aviões idênticos podem voar com riscos completamente distintos", afirma o consultor.
Ele ainda faz uma analogia com a aviação militar: em um cenário de guerra, tendem a cair mais aviões militares do que comerciais, justamente por estes estarem mais expostos a riscos e terem suas operações em maior número.
No caso do Ipanema, esse é o avião com o maior número de exemplares no país, chegando a 1.346 unidades, em um total de 2.539 aeronaves agrícolas no país em 2023 segundo o Sindag (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola). Com isso, há mais chances de um deles se envolver em um acidente, justamente pela quantidade em operação, do que outros aviões com menos presença no mercado.
Uma analogia seria comparar uma Ferrari a carros de montadoras em série. A chance de um dos carros da marca italiana se envolver em um acidente é menor justamente por ter uma menor presença no trânsito em comparação com outros modelos fabricados em larga escala.
Mesmo diante desses fatores, Beal diz que os números assustam: "É preciso um trabalho constante de conscientização do perigo e respeito aos limites para buscar a meta de acidente zero", diz o piloto.
Ranking de operações
Os acidentes aconteceram em sua maior parte na operação privada, seguida pela agrícola. Operações regulares e não regulares, que são aquelas feitas por empresas aéreas para o transporte de cargas e passageiros, ficaram em último lugar, com o menor número de acidentes.
Veja o ranking:
- Privada: 484 acidentes
- Agrícola: 298 acidentes
- Instrução: 84 acidentes
- Táxi-aéreo: 49 acidentes
- Experimental: 47 acidentes
- Sem operação definida: 39 acidentes
- Policial: 24 acidentes
- Especializada: 23 acidentes
- Aerodesportiva: 14 acidentes
- Regular: 9 acidentes
- Não regular: 6 acidentes
De qualquer maneira, é sempre preciso entender os diversos fatores envolvendo os acidentes em busca de evitar que novas ocorrências se tornem tragédias.
Entre o tipo de problema que causou o acidente, temos as seguintes ocorrências no mesmo período:
- Falha ou mau funcionamento do motor: 252 ocorrências
- Perda de controle em voo: 204 ocorrências
- Excursão de pista (sair da pista): 184 ocorrências
- Operação a baixa altitude: 113 ocorrências
- Indeterminado: 106 ocorrências
- Perda de controle no solo: 88 ocorrências
- Falha ou mau funcionamento de sistema ou componente: 71 ocorrências
- Outros: 52 ocorrências
- Colisão com obstáculo durante a decolagem ou o pouso: 50 ocorrências
- Contato anormal com a pista: 47 ocorrências
De qualquer maneira, é sempre preciso entender os diversos fatores envolvendo os acidentes em busca de evitar que novas ocorrências se tornem tragédias.
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