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Estrangeiros surfam na alta da Bolsa, enquanto brasileiros ficam só olhando

Alex Almeida/Folhapress
Imagem: Alex Almeida/Folhapress

Téo Takar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/09/2017 04h00

Ao contrário do que muita gente imagina, os recordes seguidos da Bolsa de Valores ainda não estão estimulando os pequenos investidores a investir em ações. Números oficiais da Bolsa mostram que, nos primeiros 14 dias de setembro, os investidores estrangeiros foram os grandes compradores de ações brasileiras e responsáveis pela forte alta do mercado.

Nesse período, as compras de ações por estrangeiros superaram as vendas em R$ 2,789 bilhões. Na contramão, os pequenos investidores brasileiros venderam mais ações do que compraram: -R$ 1,550 bilhão. Grandes investidores institucionais brasileiros, em sua maioria fundos de investimento e fundos de pensão, também venderam mais ações do que compraram: -R$ 1,089 bilhão.

Ao longo dos últimos meses, esse comportamento tem se repetido: os estrangeiros têm liderado as compras na Bolsa brasileira, enquanto o investidor local vem se desfazendo de ações.

No acumulado de 2017, os estrangeiros compraram mais ações do que venderam, e a diferença é positiva em R$ 13,8 bilhões. Isso ajudou o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, a registrar alta de mais de 26% no período.

Otimismo com economia, política em 2º plano

Analistas afirmam que, apesar da turbulência política, os investidores enxergam uma retomada do crescimento da economia. Além disso, a queda dos juros básicos (Selic), que reduz a atratividade da renda fixa, também é um fator de estímulo para a Bolsa.

"O Ibovespa está em alta há oito semanas seguidas. E o estrangeiro tem uma parcela importante nesse movimento. Estamos numa fase de euforia, principalmente com os dados econômicos. A inflação deve fechar o ano perto dos 3%. As previsões já apontam crescimento de mais de 2% para o PIB [Produto Interno Bruto] no ano que vem. E a taxa de juros deve recuar ainda mais, para a casa dos 7% ou até abaixo disso", diz o analista Pedro Galdi, da corretora Magliano.

Ele afirma que os investidores estão deixando o noticiário político em segundo plano. "Depois do susto provocado pela delação da JBS em maio [a Bolsa chegou a cair mais de 10% em 18 de maio, quando as gravações envolvendo o presidente Michel Temer vieram a público], o mercado vem se recuperando", diz.

"E agora que o Joesley Batista deu um tiro no próprio pé [o empresário, um dos donos da JBS, foi preso por ter omitido informações após a divulgação de novas gravações], parece que o mercado relaxou e partiu de vez para as compras", afirma o analista da Magliano.

Galdi acredita que a nova denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer não deverá afetar o rumo da Bolsa. A expectativa é que a investigação não seja autorizada pela Câmara dos Deputados, da mesma forma como ocorreu com a primeira denúncia contra o presidente.

Juro baixo torna renda fixa menos atraente

A redução da taxa Selic de 9,25% para 8,25% ao ano, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no começo de setembro, foi mais um ingrediente para estimular os investidores a abandonarem as aplicações de renda fixa e migrarem para a renda variável --caso das ações.

"A tendência é que, conforme os juros caiam mais ainda, esse movimento de migração [para a Bolsa] aumente, não apenas entre os estrangeiros, mas também entre grandes investidores locais", diz Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae.

"Com os juros caindo para 7% ao ano ou menos, os fundos de pensão, por exemplo, que são obrigados a entregar uma meta atuarial [rendimento] equivalente a inflação mais 6% ao ano, terão que buscar a diferença de ganho na Bolsa", afirma Spyer.

Cenário externo favorece vinda de estrangeiros

As taxas de juros extremamente baixas (ou até negativas), nos países desenvolvidos também explicam por que grandes investidores estão levando seus recursos para mercados que oferecem ganhos maiores, com um pouco mais de risco --caso do Brasil.

Nesta quarta-feira (20), o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve manter os juros básicos da economia dos Estados Unidos entre 1% e 1,25% ao ano e pode sinalizar que não pretende fazer nenhum novo aumento da taxa neste ano.

Caso essa expectativa se confirme, o fluxo de investidores estrangeiros em busca de ganhos no mercado brasileiro pode aumentar ainda mais, dizem os especialistas.

Bolsa ainda está barata para estrangeiros

Os investidores estrangeiros "carregam no bolso" o tempo todo dólares; só na hora de efetivar a compra de ações na Bolsa é que eles fazem a troca da moeda americana para o real. Por essa razão, é muito comum esse investidor olhar para a Bolsa brasileira como se todas ações aqui fossem cotadas em dólar.

Uma forma de fazer essa conta é converter o Ibovespa, dividindo a sua pontuação atual, em reais, pela cotação do dólar. Por exemplo, se o Ibovespa está em 76 mil pontos e o dólar está cotado a R$ 3,10, o Ibovespa equivalente em dólar seria de 24.516 pontos (76.000 dividido por 3,10). Esse cálculo é feito em tempo real nas mesas de operações das corretoras.

Logo, do ponto de vista do estrangeiro, a Bolsa brasileira ainda não superou o recorde histórico de 2008, segundo os dados da empresa de informações financeiras Economatica. Enquanto o Ibovespa ajustado em dólar está na faixa dos 24 mil pontos atualmente, o recorde do índice em dólar foi de 44.616 pontos, em maio de 2008.

Essa diferença entre o Ibovespa nominal (em reais) e o Ibovespa em dólar é justamente efeito do câmbio: o dólar subiu em relação ao real, tornando o investimento no Brasil ainda mais atraente para os estrangeiros.

"Para o estrangeiro, a nossa Bolsa ainda está muito longe de bater recorde. O potencial de valorização ainda é de mais de 80% se você levar em conta que o recorde histórico foi de 44 mil pontos em dólar", diz Pablo Spyer, da Mirae.