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Ações na Bolsa: Veja setores que ganham ou perdem com crise entre EUA e Irã

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

07/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Analistas apontam papéis na Bolsa impactados pelo aumento da tensão geopolítica
  • Petróleo mais caro favorece petroleiras e prejudica companhias aéreas
  • Petrobras tende a ser favorecida se governo não mexer na política de reajustes da companhia
  • Gestores de recursos recomendam agir com cautela antes de sair comprando ou vendendo papéis

A Bolsa vai ser afetada de alguma forma pela crise entre Estados Unidos e Irã, dizem profissionais de instituições financeiras. O ataque americano que matou o mais importante general do Irã provocou de imediato a alta da cotação do petróleo no mercado internacional. Segundo gestores de recursos, o barril mais caro favorece as petroleiras, como a Petrobras, ao mesmo tempo em que prejudica aquelas empresas que gastam muito com combustíveis e energia, caso das companhias aéreas e siderúrgicas.

O tamanho desse impacto nessas empresas vai depender da duração do quadro de incerteza em relação à crise entre os governos americano e iraniano. Se a troca de ameaças persistir - ou, pior, forem transformadas em ações militares -, a oferta global de petróleo será afetada.

Isso vai manter a cotação do barril com tendência de alta por mais tempo, ampliando os impactos sobre as economias dos países e sobre as empresas.

Petroleiras ganham

As empresas do setor de exploração de petróleo serão beneficiadas pela situação atual, afirma o estrategista da Genial Investimentos, Filipe Villegas. Essas companhias têm um determinado custo para extrair óleo. Com a valorização do barril, a margem de lucro atual tende a aumentar.

A Petrobras, por exemplo, tem um custo de extração de petróleo na área do pré-sal que é da ordem de US$ 10 por barril. Como o preço do barril, que é cotado no mercado internacional, em bolsas de commodities, subiu, ficando em torno de US$ 70, a margem da empresa está crescendo. Levando em conta os negócios na Bolsa entre o dia 2 de janeiro, dia do ataque americano, e essa última segunda-feira (6), a ação preferencial da Petrobras (PETR4), que tem preferência do dividendo subiu 0,2%, enquanto a ação ordinária (PETR3), que dá direito a voto, variou 0,3% para cima.

Já o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, pondera que existe a questão da política de reajustes de preços da Petrobras para os derivados (gasolina e diesel) no mercado interno. Se a companhia não puder repassar os preços por muito tempo, parte do ganho de margem que a petroleira obtiver vendendo o óleo bruto se perderá no segmento de derivados, para bancar a estabilidade no mercado brasileiro.

"A Petrobras tem praticado o que ela se propôs em termos de preços de derivados de combustíveis. Agora, se houver uma situação em que o preço do petróleo ficar esticando muito mais que isso, surge o risco de a empresa alterar a política", disse Bandeira.

Além da Petrobras, outras petroleiras têm ações negociadas na Bolsa que também podem se beneficiar da situação atual. São companhias menores e que apresentam um menor giro de negociações diárias no pregão diário. São os casos da PetroRio, Enauta e Dommo Energia, que extraem óleo de plataformas no país.

Exportadoras podem se beneficiar

Os analistas de mercado dizem que o ambiente de incerteza no mercado global também tem favorecido o dólar em relação ao real no mercado brasileiro. Isso favorece empresas cuja maior parte das receitas é relacionada às exportações.

São os casos das fabricantes de papel e celulose Suzano e Klabin, ou da mineradora Vale. Entre o dia 2 de janeiro, dia do ataque americano, e essa última segunda-feira (6), esses papéis variaram, respectivamente, - 0,5%, + 1,6% e - 1,4%.

Mas o benefício dessas empresas depende da duração da crise global. Se o ambiente de conflito permanecer por muitos meses, a incerteza com relação ao futuro vai levar o setor privado e os governos a segurar investimentos, afetando o crescimento global.

Nesse caso, o menor ritmo de atividade econômica global vai enfraquecer o comércio internacional, e as exportadoras também venderão menos.

Transporte aéreo em apuros

Um setor que sofre de imediato com a alta do preço do petróleo é o da aviação. De cada R$ 100 que as companhias aéreas gastam a cada voo, de R$ 30 a R$ 40 são consumidos em combustíveis. No caso das empresas brasileiras, o problema é agravado porque o combustível é cotado em dólar. Ou seja, além de pagar a querosene de aviação mais cara, as transportadoras ainda têm que absorver a desvalorização do real.

E quanto maior o custo, menor o lucro dessas empresas, pois o espaço para repassar aumento de tarifa é limitado, pois a economia brasileira está ainda começando a reaquecer, dizem os profissionais de mercado.

Até porque, lembram, em ambiente de incertezas as pessoas e as empresas tendem a reduzir despesas com viagens, impactando a procura por passagens aéreas.

Refletindo essa situação, desde o dia 2, por exemplo, as ações da Azul e da Gol já recuaram, respectivamente, 6,5% e 7,1%.

O economista-chefe do Modalmais, Alvaro bandeira, diz que a mesma lógica vale para outros setores em que o insumo energia representa parte relevante custo operacional. É o caso das siderúrgicas, como CSN, ou de metalúrgicas, como Gerdau, que cederam desde o dia do ataque americano 3,2% e 2%.

O que fazer

O analista da Rico Investimentos Thiago Salomão recomenda cautela. Para ele, não é o caso de sair vendendo ou comprando ações já. "Se nada muito drástico acontecer, o mercado tende a se ajustar a essa nova normalidade, mais ou menos como vimos ao longo de 2019 com a guerra comercial entre EUA e China", afirmou.

Os gestores de recursos lembram ainda que muitas dessas ações, como Petrobras, CSN, Suzano, Klabin e Gerdau, têm participação no Ibovespa, o principal índice de ações da Bolsa. Mas há pesos diferentes - Petrobras, por exemplo, tem peso de quase 10,6%, se somadas as ações preferenciais e ordinárias —, enquanto Azul e Gol respondem por 0,87% e 0,23% no índice.

Por isso, o comportamento do Ibovespa tende a ser mais positivo que negativo, ao menos no horizonte deste semestre.

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