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Dólar sobe a R$ 5,326 e Bolsa despenca 3,78% com fala golpista de Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo

08/09/2021 17h23Atualizada em 08/09/2021 19h28

O dólar comercial disparou 2,89% nesta quarta-feira (8) e fechou a sessão cotado a R$ 5,326 na venda, um dia após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fazer ameaças golpistas durante atos realizados no 7 de setembro, em Brasília e São Paulo. É o maior valor do dólar em mais de duas semanas, desde 23 de agosto (R$ 5,382), e a maior alta percentual diária em mais de um ano, desde 24 de junho de 2020 (3,32%).

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), despencou 3,78%, após duas altas seguidas, terminando o dia aos 113.412,84 pontos. É a maior perda percentual diária desde 8 de março (-3,98%) e o menor patamar alcançado desde 24 de março (112.064,19 pontos).

Com os desempenhos de hoje, o dólar agora acumula alta de 2,98% em setembro, enquanto o Ibovespa tem forte queda de 4,52%. Em 2021, a tendência é semelhante, com ganhos de 2,65% para a moeda americana e perdas de 4,71% para o indicador.

O valor do dólar divulgado diariamente pela imprensa, inclusive o UOL, refere-se ao dólar comercial. Para quem vai viajar e precisa comprar moeda em corretoras de câmbio, o valor é bem mais alto.

Reação ao 7 de setembro

Investidores operaram hoje com cautela elevada após novos ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao STF (Supremo Tribunal Federal), feitos durante atos de caráter antidemocrático e golpista de 7 de setembro.

Na manhã de ontem, em Brasília, Bolsonaro ameaçou o presidente do STF, Luiz Fux; à tarde, em São Paulo, declarou abertamente que não respeitará "qualquer decisão" do ministro Alexandre de Moraes, incitando seus apoiadores contra membros do Judiciário. O presidente ainda xingou Moraes de "canalha" e pediu sua saída diante de cerca de 125 mil pessoas na Avenida Paulista, segundo a Polícia Militar.

Na avaliação de juristas consultados pelo UOL, ao dizer que desrespeitará eventuais decisões do Supremo, Bolsonaro comete crime de responsabilidade — o que, em tese, poderia motivar a abertura de um processo de impeachment contra o presidente.

Mercado está pessimista

No mercado, segundo especialistas consultados pela Reuters, a avaliação é de que o patamar de risco agora é mais alto, com reformas "decentes" praticamente inviáveis, chance mais alta de a 'bomba' dos precatórios (dívidas judiciais da União) explodir e a preservação do teto de gastos se tornando a única meta econômica crível do governo Bolsonaro.

[Bolsonaro] esticou demais a corda. Na minha visão, o governo já perdeu toda a capacidade de fazer reformas decentes. Agora, quanto menos fizer e gastar tempo com isso, melhor.
Joaquim Kokudai, gestor na JPP Capital

Paralelamente, com a atmosfera eleitoral já tomando conta do governo, analistas entendem que agora a meta é evitar disrupções mais severas no cenário político. Há dúvidas até mesmo se os líderes da equipe econômica — Paulo Guedes, ministro da Economia, e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central — poderiam conter qualquer sanha gastadora de Bolsonaro.

"Pelos últimos discursos, parece que Guedes e Campos Neto estão muito mais alinhados para viabilizar as intenções do governo do que para contê-las", disse à Reuters Carlos Duarte, da Planejar. "O mercado hoje aceita Guedes muito mais pelo medo de quem viria depois do que por expectativa dos feitos do ministro. É mais pela ideia de que ele é alguém que busca tapar os buracos dentro do jogo".

Agora, segundo Victor Scalet, estrategista macro da XP, resta aos investidores aguardar os próximos desdobramentos, já que qualquer sinal de alívio na frente fiscal poderia dar uma folga para os mercados brasileiros. "Mas é preciso ter encaminhamento dos precatórios, saber como vão ficar os gastos com o Bolsa Família no ano que vem e ver se o teto vai ficar de pé", ressaltou.

(Com Reuters)