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Para mercado financeiro, falas 'golpistas' de Bolsonaro afastam investidor

Raphael Coraccini e Antônio Temóteo

Colaboração para o UOL e do UOL, em São Paulo

08/09/2021 16h56

A Bolsa de Valores registrou queda de quase 4% nesta quarta-feira (8) depois das declarações antidemocráticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas manifestações realizadas ontem (7). Segundo analistas, o temor do mercado é de que as falas do presidente possam empacar ainda mais a agenda de reformas econômicas.

Analistas e investidores estrangeiros ouvidos pelo UOL avaliam como negativa a postura do presidente da república e temem que ele aumente os gastos para tentar se reeleger em 2022. Veja abaixo como o mercado financeiro recebeu as falas de Bolsonaro.

Preocupação maior é de as reformas empacarem

Para VanDyck Silveira, CEO da Trevisan Escola de Negócios, o que se viu no dia 7 de setembro foi um discurso "golpista, de provocação, exaltação à pauta antidemocrática e ruptura institucional", mas parte disso já estava contabilizado nas quedas recentes da Bolsa.

Para ele, o discurso de Bolsonaro tem sido o mesmo nos últimos três anos. "As falas não foram piores do que aquilo que ele já havia falado", afirma.

Ele destaca que a Bolsa deve seguir apresentando bastante instabilidade diante da crise política, econômica e fiscal.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, avalia que a crise já não pode ser reduzida a uma volatilidade. "Não dá mais para chamar de instabilidade política, porque instabilidade seria uma exceção, e desde o começo temos momentos assim", afirma.

André Perfeito, economista-chefe da Necton, avalia que a queda da Bolsa é um reflexo de que o mercado reagiu mal às possíveis consequências das manifestações do presidente e que não há uma "solução à vista que possa trazer alívio". Para ele, o mercado já está exigindo retornos maiores considerando que "as reformas irão simplesmente parar, tanto na Câmara quanto no Senado".

O analista Mário Braga, da consultoria global Control Risks, declarou que o presidente tem adotado essa postura de ataques e escalada das ameaças ao STF para manter mobilizados os eleitores mais radicais. Ele ainda afirmou que essa postura pode prejudicar a agenda de reformas e de propostas de interesse do governo no Legislativo.

"O presidente faz isso em um momento de baixa popularidade, inflação em alta, desemprego, e risco de apagão. Como consequência desses ataques, o presidente do STF e da Câmara se manifestaram publicamente. O desdobramento concreto é a dificuldade na aprovação de propostas no Congresso e na resolução do problema dos precatórios", declarou.

Cenário é de eleições antecipadas

Rodrigo Natali, diretor de estratégia da Inversa Publicações, empresa de análise de investimentos, diz que as falas de Bolsonaro devem continuar a acontecer, o que deve reduzir a influência delas no mercado porque os investidores passarão a entender que são parte da retórica do presidente.

"O ponto do Bolsonaro é sempre ter uma briga, e em algum momento vão perceber que é só uma bravata e que as coisas voltam ao normal", afirma.

Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, avalia como negativa a postura do presidente e destaca que o cenário é de eleições antecipadas.

"Isso pode fazer com que a agenda de reformas fique paralisada —o que é bem ruim para a Bolsa", afirma. Ele também avalia que os juros e o dólar podem engatar novas altas, aumentando a preferência por outros investimentos.

O time econômico do Banco Original também avalia que a agenda de reformas fica comprometida com o que chama de "antecipação" do cenário eleitoral, mas crê que a interferência na Bolsa deve ser limitada.

"O efeito maior deveria ser sobre juros e câmbio, dadas as incertezas fiscais, e menos sobre a Bolsa, que pode ter algum alívio com a perspectiva de 'não elevação' da carga tributária se a reforma, de fato, não vingar", afirma o comunicado emitido pelo banco.

Investidores estrangeiros temem alta do gasto público

Dois gestores de fundos estrangeiros ouvidos pelo UOL declararam que as manifestações de 7 de setembro fortaleceram Bolsonaro. Eles não quiseram ser identificados na reportagem.

Segundo um deles, com manifestações pacíficas e sem destruição de prédios públicos, o presidente ganhou apoio político das ruas para manter o país polarizado.

"Na prática, isso se traduz em paralisação completa do país. Os investidores adiarão as decisões de aplicar no Brasil. E só voltarão a investir no Brasil depois que os preços dos ativos desabarem. O temor é de Bolsonaro abrir a torneira para gastar e tentar se reeleger", afirma.

O outro investidor estrangeiro declarou que o presidente se dedica ao confronto com o STF e esquece de problemas graves na economia, como o risco de apagão, inflação em alta e redução do ritmo de atividade econômica.

"Bolsonaro só pensa em eleições. Ele se fortaleceu politicamente com as manifestações, mas o STF não vai ceder. O risco maior é ele aumentar o nível de gastos públicos para tentar se manter no poder. Isso pode piorar ainda mais a percepção dos investidores", disse.

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