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Nos EUA, empresas apostam em insetos como nova mania gastronômica

Claire Martin

Do New York Times

08/08/2014 06h00

Em outubro de 2012, Megan Miller saiu de um pet shop em San Francisco (EUA) carregando um saco cheio de larvas de farinha se contorcendo em terra. Quando ela chegou ao seu apartamento, levou-as direto para sua cozinha.

Como as larvas assumem o sabor daquilo que comerem, incluindo terra, Miller as colocou em uma bacia de aveia e maçã para que comessem por vários dias. Então, escaldou as larvas em água fervente, assou e jogou no seu liquidificador, com ameixas secas, canela, óleo de coco e banana. Moldou a massa em barras e colocou na geladeira.

Em dezembro de 2013, Miller deixou seu emprego e começou a trabalhar em horário integral no novo campo da gastronomia de insetos. Ao lado de dois sócios, Leslie Ziegler e Eric Woods, ela fundou a Bitty Foods, uma empresa que mói grilos e os mistura com mandioca e coco. O resultado é uma farinha que a empresa vende online, juntamente com cookies preparados com a farinha de grilo.

Miller e outros empreendedores americanos neste campo acreditam que os insetos ricos em proteína, e os grilos em particular, deverão dar início a uma febre tipo a quinoa.

Ela espera que a Bitty Foods tenha apelo junto às pessoas que seguem a chamada dieta paleolítica, que foge dos carboidratos e se apoia na carne, frutas e legumes. A empresa também vende seus grilos para clientes de produtos sem glúten, público que gastou US$ 10,5 bilhões (R$ 23,9 bi) em 2013 e deverá desembolsar US$ 15 bilhões (R$ 34,2 bi) em 2016, segundo a empresa de pesquisa de mercado Mintel.

Uma xícara de farinha de grilo da Bitty Foods contém 28 gramas de proteína, e Miller acredita que poderia substituir a farinha de trigo em tudo, de massa a pão e bolo.

"Minha visão é que aumentaremos o conteúdo de proteína em todos os pratos que comemos", ela diz. "E precisaremos de uma fonte de proteína abundante e realmente sustentável para isso."

Insetos são o alimento do futuro?

Miller e outros empreendedores de insetos comestíveis também acham que os grilos poderiam ter apelo para pessoas preocupadas com sustentabilidade ambiental. Um relatório de 2013 da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) exaltando o potencial dos insetos para estabilização da oferta mundial de alimentos ajudou a impulsionar a indústria de insetos comestíveis.

Após a divulgação do relatório, "repentinamente, havia uma tonelada de pessoas superinteressadas em insetos comestíveis", diz Kevin Bachhuber, que em maio abriu a Big Cricket Farms em Youngstown, Ohio. Sua fazenda é dedicada exclusivamente à criação de insetos para consumo humano.

O galpão de 465 metros quadrados pode produzir mais de 22 mil quilos de grilos por mês. Chefs profissionais, cozinheiros domésticos curiosos e organizações não governamentais, interessadas em misturar os grilos aos seus pacotes de refeições prontas para comer, fizeram sondagens.

Por ora, os grilos e a farinha de grilos ainda são relativamente caros. Bachhuber vende seus grilos, que ele envia congelados para seus clientes, por US$ 4,50 (R$ 10) a US$ 9 (R$ 20) a libra (0,45 kg).

Uma xícara de farinha de grilo da Bitty Foods exige cerca de 4.000 grilos, segundo Miller. O preço de varejo pelo saco de 20 onças (566 gramas) de farinha de grilo dela é de US$ 20 (R$ 45). Em comparação, um saco de farinha típico custa cerca de US$ 1 (R$ 2,27) por libra nos mercados. Miller acha que quando houver grilos mais amplamente disponíveis para compra, o preço poderá cair.

Cookies, bolinhos e pães de grilo

A Bitty Foods atualmente vende várias centenas de pacotes de cookies por semana pelo seu site, segundo Miller. Há duas semanas, o Florence Group, com sede na Área da Baía de San Francisco, se tornou um investidor na Bitty Foods.

"O sabor parece de torrada escura", diz o chef Tyler Florence sobre a farinha de grilo. O plano de Florence e Miller é o de ajustarem a farinha da Bitty Foods e usá-la como base para outros produtos. Os novos produtos "parecerão realmente familiares, mas o mais importante é que o sabor será delicioso", diz Florence.

Massa ou muffins de farinha de grilo terão que ser muito apetitosos para superar a repulsa americana por comer insetos. "Obviamente, há o fator nojo, logo há o risco de que ninguém vá comprá-lo", segundo Kelly Goldsmith, professor de marketing da Escola Kellogg de Administração da Universidade do Noroeste.

"Se você conseguir que o consumidor comum, que não é interessado por novidades gastronômicas e nem interessado em alimentos sem glúten, prove esses cookies, e o sabor deles não for ótimo", alerta Goldsmith, "não haverá uma segunda compra".

(Tradução de George El Khouri Andolfato)