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'Guarda-móveis' lucram com falta de espaço em casas e empresas

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

19/01/2015 06h00

Os preços elevados do mercado imobiliário têm impulsionado um negócio ainda pouco conhecido no Brasil: o "self-storage" ou guarda-móveis. Com o metro quadrado caro, os imóveis estão menores e, muitas vezes, falta espaço para armazenar objetos nas casas e empresas. Dessa dificuldade surgiu um mercado rentável para o aluguel de boxes.

São depósitos que variam de 1m² a 100m², disponíveis em contratos mensais. Eles costumam ficar próximos dos centros, em vias de fácil acesso, para que os clientes sintam como se fossem uma extensão de suas casas. Os empresários do ramo evitam a denominação guarda-móveis. Segundo eles, o termo não dá a ideia de proximidade do meio urbano, que seria o diferencial do serviço.

“O 'self-storage' é usado por pessoas que precisam guardar móveis enquanto reformam a casa, por exemplo, ou que precisam de espaço para guardar itens que não usam no dia a dia, como prancha de surfe. Já as empresas usam o espaço para guardar estoque ou arquivo morto”, diz  Flavio Del Soldato, presidente da Asbrass (Associação Brasileira de "Self-storage"). 

A falta de burocracia, a flexibilidade e a facilidade de acesso são algumas vantagens do "self-storage". Apenas com documentos pessoais e comprovante de residência é possível alugar um box. O pagamento é antecipado. O valor médio é de R$ 70 o metro quadrado por mês. A altura do box é de 3 metros. Quanto maior a área alugada, menor o valor do metro quadrado.

O box é trancado com o cadeado do próprio cliente e a empresa de armazenamento não tem acesso ao seu interior. “Não são permitidos produtos químicos, perecíveis e ilegais, como drogas ou armas. Se algo for descoberto, a responsabilidade é do cliente”, afirma Soldato. O cliente informa apenas o valor aproximado dos itens guardados para que seja feita uma apólice de seguro.

Operação é simples, mas investimento é alto

O negócio tem uma operação relativamente simples, de acordo com o presidente da Asbrass. Dois funcionários para atendimento ao cliente e dois para a manutenção do prédio são suficientes para a empresa funcionar. É necessário, ainda, investir em monitoramento e segurança.  

Mas o investimento é alto. Se por um lado o metro quadrado caro cria demanda para os "self-storages", por outro, o custo imobiliário impacta no capital necessário para abrir e manter o negócio.

A MetroFit tem uma unidade em São Paulo com 500 boxes de tamanhos variados e vai inaugurar uma segunda unidade com 720 boxes ainda este mês, em Santo André. Até agora o investimento foi de R$ 180 milhões, mas a empresa pretende aplicar mais R$ 300 milhões apenas este ano no desenvolvimento de outras duas unidades. 

A principal dificuldade do setor, segundo o dono, é encontrar bons imóveis. “Procuramos galpões dentro das cidades que estão vazios há muito tempo”, diz o austríaco Hans Peter Scholl, 35, fundador e presidente da empresa, que atua no ramo desde 2012 e possui até um ambiente climatizado especial para vinhos.

Divulgar serviço exige gasto pesado em marketing

Tornar o produto conhecido também exige fôlego finaceiro. “Investimos pesado em marketing para atrair potenciais clientes e explicar como funciona o 'self-storage'. Quando entendem o que é e como funciona, eles enxergam valor no produto”, afirma Allan Paiotti, presidente do GuardeAqui. A empresa tem oito unidades em São Paulo e pretende chegar a 50 nas regiões Sul e Sudeste até 2017.

O presidente da Asbrass estima que existam 80 empresas do tipo no Brasil, ofertando 300 mil m² de área de boxes de "self-storage", distribuídos em 134 endereços. A maioria fica no Estado de São Paulo. Nos últimos dois anos, a oferta aumentou no Estado, diminuindo preços para o consumidor e também a margem de lucro dos empresários.

“Até 2013, era possível uma margem de 32%, em média, mas, em 2014, caiu para 23%. Esperamos uma acomodação do mercado nos próximos anos”, afirma. As empresas ouvidas não divulgaram faturamento e lucro. Uma medida para saber se o negócio vai bem é a taxa de ocupação. A empresa que locar entre 80% a 85% dos boxes seria um sucesso.