Ex-detento lucra com anúncio em carro de som, web e rádio gospel na Rocinha
Nascido e criado na Rocinha, no Rio de Janeiro, o ex-detento Jorge Luis Linhares, 41, viu no empreendedorismo a saída para o preconceito contra ex-presidiários no mercado de trabalho. Hoje, ele vive de fazer propaganda para pequenos comerciantes da favela em carro e moto de som, em rádios locais e também na internet. O combo com os serviços custa a partir de R$ 160.
Entre seus clientes estão sorveteria, pet shop, clínica veterinária, restaurante japonês e loja de gesso. O combo passou a ser oferecido em março, depois que ele virou sócio de uma franquia Elefante Verde, de marketing digital. Até então, ele trabalhava apenas com o anúncio em seu carro de som.
"Minha ideia foi criar uma agência de publicidade alternativa, com vários serviços por um preço bem acessível. Assim, vou ganhar com as mensalidades e não com as vendas imediatas", afirma. Os contratos têm duração de 12 meses.
TV de LED e rádio gospel
O carro de som é equipado com TV de LED dos dois lados, onde também passam propagandas. Ele incluiu no combo chamadas na rádio gospel local da qual é arrendatário, que não dava lucro até então, e chamou dois colegas --o dono de uma moto de som, que faz a propaganda onde o carro não chega, e o dono de outra rádio local que não é gospel.
A parte de marketing digital inclui criação de site e de e-mail marketing, inserção em um guia de estabelecimentos local, oferta de cupons de desconto e espaço para avaliações de usuários online.
Preconceito e superação
Linhares foi viciado em cocaína, participou de furto, assalto a mão armada, envolveu-se com tráfico de drogas e foi preso seis vezes, totalizando seis anos na cadeia. Decidiu mudar de vida em 1999, após o nascimento do filho, mas foi demitido de uma lanchonete quando descobriram seu passado de crimes.
Viveu de doações, passou a vender anúncios para a rádio local de um amigo, mas a virada veio quando conseguiu fechar contrato para divulgação de uma grande loja de móveis e eletrodomésticos de Ipanema em um carro de som na Rocinha. Fez parceria com um amigo que tinha carro e pediu um adiantamento para comprar os aparelhos de som. Assim começou seu negócio, em 2002.
Franquia tem mais de 50 unidades
Segundo Fabio Melo Duran, um dos fundadores do Elefante Verde, é interessante para a franquia estar presente em favelas, pois são locais com um grande número de empreendedores e onde o marketing digital faz diferença para os pequenos negócios. "O uso de smartphones é muito grande nesses locais, as pessoas estão conectadas e esses empreendedores sabem disso", afirma.
Os planos de divulgação online da franquia, fora do combo oferecido por Linhares, custam de R$ 69,90 a R$ 299,90 e variam de acordo com os serviços contratados. A rede tem mais de 50 unidades no Brasil e deve inaugurar a segunda unidade em uma favela em maio, no Complexo da Maré.
A franquia Elefante Verde tem investimento inicial a partir de R$ 16,5 mil (inclui custos de instalação, taxa de franquia e capital de giro). O faturamento médio mensal é a partir de R$ 10 mil, com lucro médio de R$ 6.000 (para home office). O retorno do investimento se dá a partir de seis meses. Os dados são da empresa.
Negócio pode crescer e ser replicado, diz professor
Alberto Ajzental, professor de marketing e estratégia de negócios da FGV (Fundação Getúlio Vargas), diz que Linhares faz a ligação entre a oferta e a demanda locais e favorece o crescimento de uma economia autossustentável. "Ele tem a possibilidade de crescer junto com o comércio que ele fomenta. Isso é muito positivo."
Ele diz que o modelo adotado pelo empreendedor pode ser replicado em outros locais pelo Brasil e vê a possibilidade de somar outros serviços. "Ele pode criar uma rede de TVs com anúncios para instalar nos estabelecimentos, criar banners, outdoors."
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