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Vai abrir um negócio? Saiba como calcular investimento e capital inicial

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Imagem: Shutterstock

Alberto Ajzental

23/06/2017 04h00

Na maioria dos casos, para começar um negócio, são necessários recursos. Os recursos podem ser monetários, humanos, de conhecimento e de tempo. Todos estes são conhecidos como capital - capital monetário, capital intelectual, capital humano etc.

Hoje vamos falar do capital inicial, aquele capital monetário necessário para colocar o negócio de pé e que pode incluir o caixa necessário nos primeiros meses do negócio, caso este não se encontre ainda sustentável neste período.

Fernando completará 52 anos no final deste mês. Desde 1982, ele toca em uma banda de rock com seus amigos em São Paulo. Eles fizeram muito sucesso e são conhecidos no país todo. Mas cansou das longas turnês, do assédio dos fãs, das longas entrevistas e das camas de hotel e se deu conta que mal viu seus filhos crescerem.

Resolveu se estabelecer. Parar um pouco quieto. E, para isso, mas para não ficar tão quieto, decidiu abrir um bar em Pinheiros, bairro descolado de São Paulo. Um bar temático, que reunisse um pouco da sua história, da sua banda, dos anos de estrada, os quadros de platina, as inúmeras fotos enquadradas, enfim, um pouco da memória que ele acumulou. Ele queria oferecer aquilo que mais amava: reunir os amigos, beber cerveja, ouvir boa música, aliás, ao vivo, pois queria proporcionar às novas bandas a mesma oportunidade que ele próprio teve lá no início de sua carreira.

Fernando foi conversar com um amigo, seu futuro sócio, que já tem um bar há mais de 20 anos. Juntos, começaram a falar sobre a necessidade de capital inicial.

Paulo, seu amigo, pegou o notebook, abriu uma planilha e criou os principais centros de custos de investimentos: ponto comercial, construção e reforma, projetos, despesas com taxas em órgãos públicos, equipamentos de cozinha, enxoval, uniformes, mobiliário, equipamentos de luz e som, letreiro, capital de giro, propaganda e promoção.

Depois de escrever todos os centros de custos, começou a escrever os itens de cada um. Em ponto comercial, acrescentou luvas, despesas com contratos e despesas legais. Em construção e reforma, enumerou hidráulica, elétrica, estrutura e acabamentos. E assim por diante. Depois começou a escrever os subitens, detalhando ainda mais cada um dos itens.

Feito isto, passou a precificar cada um dos centros de custos, itens e subitens. Como ainda era uma primeira abordagem, atribuiu valores mais abrangentes na forma de verba, sem tanto detalhamento, conforme sua experiência de mercado e conhecimento. Em obras, ligou para um amigo arquiteto especialista em reformas e, dado o tamanho do espaço comercial que iam alugar e do tipo de obra que pretendiam fazer, este deu uma ideia de quanto a obra custaria. O mesmo fez com os equipamentos de cozinha. Em outros itens, ele próprio atribuiu o valor.

Aí somou tudo e, fazendo uma conta grosseira, chegou a R$ 2 milhões de capital inicial. Paulo disse: “Talvez custe um pouco mais, quem sabe um pouco menos, vamos checar nossa planilha, ver se não esquecemos nada, refinar os valores, ver se cada valor faz sentido. Mais para frente tomamos alguns preços no mercado, pediremos orçamentos e faremos concorrências, mas agora já dá pra ter uma boa ideia de quanto vamos precisar investir. Pela minha experiência, faz sentido este número, mas sempre acabamos gastando um pouco mais. Mesmo que tenhamos tudo na ponta do lápis e colocamos algumas margens de segurança na previsão, sabe como é, sempre aparecem surpresas.”

Margem de segurança para cobrir imprevistos

Quanto melhor o detalhamento da previsão de capital inicial e quanto mais pesquisas de preço realizamos, mais próxima à realidade será a previsão. Porém, isto dá mais trabalho. Nas primeiras previsões utilizamos números aproximados para ter uma ordem de grandeza do investimento que servirá de base no cálculo de viabilidade econômico financeiro a ser realizado.

À medida que os projetos avançam, as tomadas de preço são realizadas e a previsão se apura, é razoável utilizar uma margem de segurança entre 5% e 10% do valor a ser investido somado às despesas. Esta margem serve para cobrir imprevistos, quer sejam itens não pensados a priori, erros de medição de quantidades, quebras de peças ou até acidentes. Desta forma o empreendedor não será pego de surpresa ao se ver sem o capital inicial necessário para iniciar seu negócio.

Negócios e ambiente de negócios são um assunto complexo e com muitas variáveis. Tenho como meta aqui avançar uma a uma, passo a passo, de forma calma e contínua, tal que eu possa apresentar, explicar, analisar e discutir com vocês cada passo que vamos dar daqui para frente. Hoje vimos cálculo do investimento e capital inicial. No próximo texto vamos conversar sobre cálculo das receitas.

Alberto Ajzental é engenheiro civil pela Poli-USP e mestre e doutor pela Eaesp-FGV. Foi e é professor de estratégia de negócios, marketing e de economia nas escolas ESPM-SP e Eesp-FGV. Autor dos livros “A Construção de Plano de Negócios” (Ed. Saraiva),” História do Pensamento em Marketing” (Ed. Saraiva) e “Complexidade Aplicada à Economia” (Ed. FGV).