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Empresa de SC quer pôr na rua neste ano carro elétrico carregado na tomada

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Florianópolis (SC)

28/02/2018 04h00

Imagine um carro projetado no Brasil e que é abastecido na tomada de casa. Essa é a proposta do Li, projeto da empresa Mobilis, de Palhoça, na Grande Florianópolis.

A expectativa da empresa é que o veículo chegue às ruas no segundo semestre deste ano. Ele é um dos primeiros elétricos produzidos em grande parte no Brasil: cerca de 70% das peças são produzidas aqui, com exceção da bateria de lítio e de pequenos componentes eletrônicos, que são importados da China.

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Por trás do projeto estão quatro jovens: o engenheiro elétrico Paulo Zanetti, 28, os engenheiros mecânicos Thiago Hoeltgebaum, 28, e Mahatma Marostica, 33, e o administrador Marcos dal Moro, 34.

Bateria de íons de lítio

O Li ganhou esse nome porque a base da sua tecnologia é a bateria de íons de lítio. Segundo os sócios, essa bateria é simples, não requer combustível, dispensa manutenção e tem validade de dez anos.

"Nos empenhamos em criar um carro sustentável. A primeira manutenção do Li demora uma década. Nos carros tradicionais, é feita a cada seis meses. Sem contar que o custo da rodagem é, em média, entre cinco e sete vezes mais baixo que o dos veículos com energia de combustão, dependendo do preço da gasolina", diz Hoeltgebaum.

Para andar uma distância de 60 km a uma velocidade média de 100 km/h, o Li precisa de uma carga de seis horas na tomada. Segundo o empresário, essa carga custa em torno de R$ 4. "Você pode recarregá-lo enquanto está dormindo", diz.

Empresa foi criada em 2013

A Mobilis surgiu em novembro de 2013, depois de um bate-papo em um evento sobre mobilidade elétrica em Joinville (SC). No início, eram apenas três sócios: Paulo Zanetti, Thiago Hoeltgebaum e Mahatma Marostica.

Os três haviam estudado na Universidade Federal de Santa Catarina. Zanetti era recém-formado. Thiago Hoeltgebaum fazia mestrado e planejava criar um triciclo elétrico. E Marostica tinha experiência como gerente de produtos em uma montadora e desejava criar um veículo compacto.

O investimento inicial só veio em 2016: foram R$ 400 mil --metade vinda do trio, metade de investidores-anjo. O trio fundador passou a dedicar-se exclusivamente à nova empresa --ainda sem retorno, dizem que vivem com o dinheiro guardado antes da Mobilis.

Também em 2016, o administrador Marcos dal Moro se uniu à sociedade. Alugaram um espaço e contrataram quatro estagiários. Em 2017, houve um novo investimento de R$ 400 mil --também metade dos sócios e metade de investidores.

'Carrinho de golfe'

Entre 2016 e 2017, a empresa construiu dois protótipos de veículos elétricos. O primeiro foi a plataforma P2, um "chassi funcional", com todos os componentes de um veículo montado. O segundo, mais avançado, foi o "Li de condomínio", uma espécie de carrinho de golfe.

O "Li de condomínio" foi projetado para circular em ambientes fechados, como campos de golfe, hotéis, condomínios e empresas. Ele não tem portas, tem espaço para duas pessoas e suporta até 300 kg. O protótipo mede 2,66 metros de comprimento, 1,59 metro de largura e 1,58 metro de altura.

A empresa projetou o veículo com duas opções de bateria: com 50 ou 80 km de autonomia, considerando uma velocidade média de 40 km/h e uma carga de 6 horas.

Em seu portfólio, a Mobilis apresenta o Li em três versões:

  • Trail: com tração traseira e pneus off-road, ideal para aventuras e percursos em terrenos irregulares;
  • Comfort: mais urbano e com espaço para até quatro pessoas; e
  • Work: com espaço mais amplo para o transporte de cargas.

As três versões são oferecidas no mercado sob encomenda. Não há nenhum modelo disponível para pronta entrega. No ano passado, um Li de condomínio foi vendido por R$ 50 mil.

R$ 2,5 milhões para colocar carro na rua

Esses R$ 50 mil são, até agora, todo o faturamento da empresa. Ainda não houve lucro. Os sócios dizem esperar um salto no faturamento para 2019 e lucro em 2023.

Neste ano, o foco é conseguir R$ 2,5 milhões junto a fundos de investimento para colocar o Li nas ruas. O modelo novo deve incluir portas e ar condicionado, e ter um aumento da velocidade. O preço deve subir para R$ 60 mil.

As vendas devem ser concentradas nas regiões Sul e Sudeste do país, segundo a empresa.

"Mais agilidade" que grandes montadoras

Segundo os sócios, a ideia inicial não é concorrer com as grandes marcas, mas aproveitar o porte menor da empresa para avançar em pesquisas.

"Como somos menores, temos mais agilidade para testar as tecnologias que surgem no mercado. Não precisamos nos amarrar no passado. As grandes montadoras são reféns de uma inércia administrativa e não podem mudar com tanta velocidade", diz Zanetti.

Os sócios também pretendem ter um modelo diferente de atendimento aos clientes. A proposta é que o espaço da fábrica seja o mesmo da concessionária. "Nossa fábrica, em Palhoça (SC), atua como montadora, ponto de venda e rede de manutenção", diz o empresário.

O planejamento é o principal ponto de alerta para a saúde da empresa, segundo Soraya Tonelli, coordenadora regional do Sebrae da Grande Florianópolis. "Investir em um novo negócio exige muito cuidado e planejamento, ainda mais num segmento com concorrência bastante acirrada e grandes players de mercado que estão também investindo em inovações e tecnologia", disse.

Bateria poderia ser nacional, diz especialista

A opção pela bateria de lítio tem alguns pontos positivos, na opinião de Ricardo Takahira, membro da Comissão Técnica de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade). "É uma tecnologia bastante disponível, diferente do ouro e da prata; é mais leve, mais barata e tem grande autonomia."

Para ele, o ponto negativo é não ser produzida no Brasil. "O mundo inteiro é dependente da Ásia, que manda nesse mercado das baterias elétricas. O Brasil deveria entrar nessa corrida tecnológica investindo em pesquisas eletroquímicas. O vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, é rico em lítio. Esse material poderia ser produzido aqui", diz.

Segundo Takahira, estão sendo testados no mundo carros elétricos que usam tecnologia de íons de lítio, cobalto e até oxigênio.

Ainda sobre a bateria, o especialista diz que o veículo elétrico pode ter uma autonomia maior se o motorista dirigir em uma velocidade menor que 100 km/h, o que é comum nas grandes cidades. Segundo ele, a bateria pode até ser conectada à rede doméstica com um adaptador e gerar energia para casa.

Onde encontrar:

Mobilis - http://mobilis.me/

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