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Para treinar língua, curso em cidade menor lá fora tenta evitar brasileiros

Daniel Amgarten, fundador da Fuja dos Brasileiros, em Lucerna, na Suíça - Divulgação
Daniel Amgarten, fundador da Fuja dos Brasileiros, em Lucerna, na Suíça Imagem: Divulgação

Paulo Gratão

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/04/2018 04h00

Ainda na adolescência, Daniel Amgarten fez seu primeiro intercâmbio para a Inglaterra. Ele escolheu uma cidade fora do circuito mais conhecido para que pudesse ter mais contato com a língua inglesa.

Quando voltou ao Brasil, encontrou amigos que tinham passado um ano fora do país, em destinos populares e cheios de brasileiros, e voltavam com menos conhecimento do idioma. “Eles praticamente viviam no Brasil estando fora do país”, afirma.

O primeiro estágio de Amgarten foi em uma agência que tinha opção para cidades menores e aquilo lhe fez despertar uma ideia: por que não oferecer apenas cidades menos procuradas por brasileiros?

A ideia ficou adormecida até que ele resolveu resgatá-la para ser tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), em 2013. Daí nasceu a Fuja dos Brasileiros.

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Não dá para garantir que não encontrará brasileiros

O público da agência é diferente das agências de intercâmbio tradicionais, de acordo com o empreendedor: profissionais de 25 a 40 anos, que trabalham e viajam com o próprio dinheiro. “Eles geralmente têm apenas o mês das férias para estudar e querem fazer valer o investimento”, explica.

Amgarten afirma que em cidades menores o aluno vai encontrar escolas pequenas, com oito a dez turmas, em vários níveis de proficiência, o que é diferente da expectativa de alunos mais jovens, por exemplo, ou que têm mais tempo para ficar no exterior. Eles preferem destinos mais conhecidos, seja pelo leque de opções disponíveis seja por ter referências e gente conhecida. “Nosso público é o que tem menos tempo e quer ficar imerso no idioma”.

Entre as cidades que ele oferece, estão Nottingham e Bristol, na Inglaterra; Derry, na Irlanda do Norte; Cardiff, no País de Gales; Freiburg e Regensburg, na Alemanha; Perugia e Verona, na Itália; e Cannes, na França.

O fundador da Fuja dos Brasileiros admite que não é possível garantir que o estudante não cruze com nenhum falante de língua portuguesa, mas, segundo ele, a possibilidade de isso acontecer é menor.

“Trabalhamos com escolas que, em média, têm menos de 5% de brasileiros, forçando o aluno a se comunicar na língua local. Muitos dos nossos clientes retornam ao Brasil relatando não haver encontrado outro brasileiro na escola e/ou também na cidade de forma geral”.

Inglês, italiano, japonês, mandarim e árabe

O investimento médio para um intercâmbio em Londres é de R$ 900 por semana, incluindo escola e acomodações. Amgarten explica que em cidades menores o valor é similar, pois as escolas costumam ser mais caras, enquanto o custo de vida é mais baixo.

Além do inglês, outro idioma tem despontado entre os favoritos: italiano, o segundo mais buscado. “A procura por italiano foi uma surpresa até para nós. Trabalhamos com 14 destinos na Itália, que são cidades menores, enquanto as agências tradicionais trabalham geralmente com três”, afirma.

Entre os mais de 100 destinos oferecidos pela agência, os que mais receberam alunos da Fuja dos Brasileiros no ano passado foram Liverpool, na Inglaterra; Glasgow, na Escócia; Nápoles, na Itália; Toulouse e Lille, na França; Cartagena, na Colômbia; e Cardiff, no País de Gales.

Para este ano, a expectativa é enviar 200 alunos para o exterior. Para conseguir isso, a escola trouxe novos idiomas que têm mostrado potencial, na visão do empreendedor, e devem representar 10% das vendas, como japonês, mandarim, árabe e polonês.

Intercâmbio deve atender objetivos do aluno

Geralmente, o intercâmbio é a primeira viagem internacional do brasileiro, de acordo com a associação das agências de intercâmbio, a Belta (Brazilian Educational & Language Travel Association).

“O intercambista quer ir para um lugar mais conhecido. É a primeira viagem, aquela dos sonhos, um investimento que ele vai fazer e sobre o qual quer contar para os vizinhos. Não vai causar tanto impacto ir para uma cidade desconhecida”, explica a presidente da entidade no Brasil, Maura Leão.

Outro ponto que pode dificultar a escolha por cidades menores, na sua visão, é a logística.  “Há voos diretos para as cidades grandes, isso é levado em conta pelos alunos também”, afirma.

No entanto, Maura frisa que o aluno deve pensar nos próprios objetivos ao programar uma viagem de intercâmbio.

“Há gente com perfil para ir a Londres, por exemplo. Para quem gosta de ter contato com artes, cinema e teatro, as capitais são o melhor lugar. Se for para cidade menor, tem que saber que dificilmente terá isso, e o foco é completamente nos estudos. Isso não impede de ir conhecer capitais e pontos turísticos nos finais de semana, por exemplo”.

De acordo com dados recentes divulgados pela Belta, os países que mais recebem brasileiros para intercâmbio são, nesta ordem: Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Irlanda, Reino Unido, Nova Zelândia, Malta e África do Sul.

Onde encontrar:

Fuja dos Brasileiros - https://www.fujadosbrasileiros.com.br/

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