Veja como implantar práticas sustentáveis na sua empresa
Quem vê um anúncio ou passa em frente de uma loja da Vestcasa, rede de cama, mesa, banho, decoração e utilidades domésticas, mal imagina a estratégia do empresário Ahmad Yassin para oferecer preços competitivos dos seus produtos.
A rede, que nasceu como uma confecção, adotou a política de reduzir o número de embalagens - plásticas ou de papel - e de utilizar matéria-prima para a produção dos seus produtos vinda de reciclagem, desde que abriu as portas. A iniciativa do empresário Ahmad Yassin vem ao encontro das práticas ESG Environmental, Social and Governance ou ASG - Ambiental, Social e Governança, da sigla em português).
Nós viemos da indústria e sempre tínhamos a exigência de entregarmos os produtos em embalagens sem utilidade. A primeira coisa que cortamos, quando viramos varejista, foi a embalagem. Com isso, conseguimos reduzir o custo para o cliente e o descarte de material no meio ambiente.
Ahmad Yassin, dono da Vestcasa
Produtos feitos com material reciclado
A medida evita o descarte de 1,4 mil toneladas de plástico por ano e reduz preços dos produtos em até 70%, segundo ele. Todas as fibras que vão dentro de edredom, travesseiro e colchas são de material reciclado de garrafas pet. A linha de cadeiras e de alguns itens plásticos, como caixas organizadoras e mesas, são feitos com plástico reciclável, diz.
O que atrai é o preço. Apesar dos bons números, o cliente sabe pouco sobre as iniciativas ambientais da empresa, explica Yassin. "Eles são atraídos pelo bom preço."
Práticas sustentáveis atraem investimentos
ESG atrai consumidores e investimentos. A implantação de práticas sustentáveis vem crescendo tanto pela iniciativa das próprias empresas, que se mobilizam em prol do tema por propósito e cultura, quanto pela demanda da sociedade, riscos de impacto na reputação da marca e pressão de investidores. A afirmação é de Karen Cavalcanti, sócia diretora da Mosaiclab, empresa de inteligência de mercado da Gouvêa Ecosystem. Segundo ela, empresas com boas práticas de ESG tendem a atrair mais investimentos e financiamentos, muitas vezes em condições mais favoráveis.
Preocupação com o planeta. As empresas que investem em iniciativas sustentáveis precisam ter como primeiro foco que estão realizando isso com propósito de longo prazo de cuidar do planeta que vivemos, para termos recursos naturais para esta e próximas gerações.
Marcas com boas iniciativas em ESG, que realmente fazem transformações acionáveis e comunicam isso de forma clara, tendem a ter mais clientes simpatizantes, o que reverbera positivamente na reputação, fortalecendo a lealdade e recomendação de consumo.
Karen Cavalcanti, sócia-diretora da Mosaiclab, empresa de inteligência de mercado da Gouvêa Ecosystem.
Processo de produção neutro em carbono
Criada em 2023, a Packster é uma empresa de embalagens sustentáveis que usa materiais recicláveis na sua produção. A atenção da empresa também abrange a análise de toda a cadeia produtiva. Segundo o CEO, Jack Strimber, a Packster só compra produtos de empresas que empregam práticas ESG.
Nós surgimos no mercado com o objetivo de oferecer para nossos clientes uma jornada mais sustentável, com qualidade e que cabe no bolso. Nosso processo de produção, além de ser neutro em carbono, garante o menor impacto no aquecimento global e criação de ozônio petroquímico.
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Quero receberJack Strimber, CEO da Packster
Processo de fabricação de embalagens também precisa ser sustentável. O executivo conta que, apesar de as pessoas estarem mais conscientes hoje sobre a importância de se reciclar as embalagens, poucos sabem que o processo de fabricação das embalagens pode ser muito mais sustentável, com menos desperdício por conta da produção sob demanda.
As embalagens estão em praticamente todos os produtos. "Reforço que poucas pessoas percebem a importância da embalagem, mas se você parar para refletir, todos os itens que você consome são embalados. A embalagem de plástico é muito importante e permite que o produto seja armazenado, transportado e conservado sem perda e sem desperdício", diz.
Segundo ele, a maioria das marcas de consumo, tanto as grandes quanto as novas, enxergam valor em associar sua marca a práticas mais sustentáveis e responsáveis. O nível de adoção, no entanto, varia conforme as prioridades de cada marca.
O Grupo Fujitsu, que atua no setor de tecnologia da informação, está envolvido em iniciativas para alcançar a neutralidade carbônica nas suas atividades. A companhia anunciou recentemente a aceleração de seus planos para alcançar a neutralidade de carbono nos seus negócios em vinte anos. "Definimos o ano fiscal de 2030 como o novo objetivo para reduzir as emissões de carbono para zero, além de zerar as emissões líquidas de gases com efeito de estufa em toda a cadeia de valor do Grupo Fujitsu até ao ano fiscal de 2040", conta Alex Takaoka, Head of Customer Engagement Fujitsu do Brasil.
Descarte sustentável de pneu
A Cantustore, distribuidora de pneus, tem um programa de descarte e reaproveitamento dos pneus, respeitando a lei que obriga o setor a reciclar ou oferecer o descarte correto de 70% dos pneus comercializados. A empresa fez uma parceria com uma ONG em Manaus para recolher os pneus jogados nas ruas e dar destino correto ao material, além de colaborar com a saúde pública, evitando a dengue, frisa Dirce Bunde, gerente de Gente & Gestão da CantuStore.
100 toneladas de pneus recolhidos e reciclados. O Programa Brasil Rodando Limpo, iniciativa da Associação Brasileira de Empresas de Reciclagem de Pneus Inservíveis (Abrerpi) em parceria com a Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus (Abidip), já recolheu e reciclou mais de 100 toneladas de pneus inservíveis que estavam descartados de forma irregular na periferia de Manaus, já área de Floresta Amazônica, segundo ela.
Cuidado com o impacto ambiental. A companhia também possui uma equipe de gestão ambiental e conta com profissionais de engenharia para cuidar dos aspectos e impactos ambientais relacionados a sua operação.
Entre as iniciativas, estão: programa de gerenciamento de resíduos sólidos, monitoramento de efluente sanitário, avaliação de ruído ambiental, captação e uso de água da chuva, programa de gerenciamento de vazamentos de óleos e graxas, programa de educação ambiental, gerenciamento de água parada para se evitar a proliferação do mosquito-da-dengue entre outros.
A sustentabilidade é um caminho sem linha de chegada e é necessária a evolução constante, sempre dando um passo a mais. A CantuStore planeja em breve quantificar 100% de suas emissões e reconhecer sua pegada de carbono por meio do inventário de carbono com metodologia aprovada pela ONU. Também está em nossos planos adotar energia solar fotovoltaica na Matriz e filiais para que possamos estar alinhados com essa política e possuir uma matriz energética equilibrada na etapa de armazenagem dos pneus.
Dirce Bunde, gerente de Gente & Gestão da CantuStore
Práticas ESG no Brasil em relação a outros países
Hidroelétricas e agricultura sustentável. Em termos de matriz energética há predominância de hidroelétricas e desenvolvimento de parques de energia eólica e solar e que nos coloca em destaque na parte ambiental da sigla ESG, frente outros países, bem como a força da agricultura sustentável, comenta Karen.
Agricultura "dá um banho" em outros países. Neste quesito, a nossa agroindústria está de parabéns, de acordo com Marcus Rizzo, diretor da consultoria Rizzo Franchise, e está dando banho em qualquer outro país.
Desigualdade é um problema. Por outro lado, o Brasil ainda enfrenta muitos desafios ligados ao "social" como desigualdade econômica, de acesso à educação e serviços básicos de qualidade e questões ligadas a "governança" como transparência e corrupção, segundo ela.
Brasil ainda tem muito que caminhar. Em um comparativo geral, de acordo com Karen, estamos ainda muito distantes de países como Noruega, Áustria, Dinamarca, Suécia, Suíça entre outros que tem forte os pilares de ESG na sociedade, empresas e governo, possuem políticas ambientais fortes, sistemas de governança eficazes e um compromisso sólido com questões sociais. Para Rizzo, ainda falta muito para o Brasil crescer na implementação das práticas ESG.
Enquanto não atendermos as condições básicas como: saneamento, água e luz — só o mínimo para todos — será apenas marketing e narrativas. Quando lembro da Vale em Mariana ou agora da Braskem em Maceió será que posso cobrar de um simples cidadão que joga o lixo no chão?
Marcus Rizzo, diretor da consultoria Rizzo Franchise
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