Mães CEO: mulheres que começaram a empreender após a maternidade

Foram anos de dedicação exclusiva ao ensino de ballet até Damiana Martins Pereira, 42 anos, se tornar mãe de Enrico, 6 anos. Formada em dança e em pedagogia, a professora construiu toda sua vida profissional dentro de salas de aula. Trabalhava de 7h às 20h diariamente, se dividindo entre colégios, estúdios e o clube da cidade de Porto Ferreira, interior de São Paulo, conhecida como a "Capital Cerâmica Artística".

Nasce uma mãe empreendedora

Seu filho nasceu em 2018 e como ele a vontade de empreender. E, meses depois de sua chegada, surgiu a ideia de ter algo próprio. Inicialmente, o objetivo era investir em artigos educativos para crianças. Na época, buscou ajuda de amigos especialistas, já estava quase desistindo, mas a pandemia foi um divisor de águas e acabou por gerar a oportunidade. "Em 2020, fiquei horas em casa e sobrevivi", conta.

Comércio online foi o caminho. Com o boom das vendas pela internet, Damiana retomou a ideia do negócio próprio e voltou a estudar e conversar com pessoas. E, em 2021, nasce a Casa Dami, um e-commerce de artigos de decoração, com faturamento mensal de R$ 45 mil por mês.

Nunca pensei em empreender, mas a maternidade mudou a minha vida, amadureci muito e eu queria priorizar estar com meu filho. Busquei novos desafios para isso acontecer. Conheci outras possibilidades profissionais e cresci também como pessoa. Hoje, posso me organizar para participar da vida dele. Consigo levar meu filho ao médico, na natação, na terapia, por exemplo. Não abro mais mão disso tudo e não me vejo mais fazendo o que fazia antes.
Damiana Pereira, proprietária da Casa Dami

Negócio tem apoio da família. A empreendedora usa a sala de sua casa como escritório e conta com a ajuda de seus pais, que ofereceram um cômodo na casa deles para o estoque. A mãe ajuda a embalar os produtos e o pai a despachar. O sonho dela é crescer e unificar os espaços para importar também.

Novas oportunidades: viagem e investimento

Ainda dá aulas na parte da manhã. Apesar de ainda dar aulas no período da manhã em uma escola que trabalha há 16 anos na cidade "por vínculo afetivo e estabilidade financeira", Damiana conta que sua loja virtual oferece uma renda maior que dos antigos salários somados e ainda sobra. O que viabiliza aproveitar mais momentos que antes não eram possíveis, como viajar mais e investir.

Mas nada é fácil. No início, levei meses para vender. Tive que aprender um pouco de marketing, passar nota, fazer balanço e muitas outras coisas. Tem dias que trabalho à noite, fim de semana. E nem durmo mais [risos]. Mas ganhei muito, e em proximidade com meu filho.
Damiana Pereira, proprietária da Casa Dami.

Mais um filho e ampliação dos negócios

Vanessa Fagundes (meio), mãe Silvana Fagundes e Katharina, filha de 16 anos
Vanessa Fagundes (meio), mãe Silvana Fagundes e Katharina, filha de 16 anos Imagem: Arquivo Pessoal
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Dona da própria carreira. Prestes a dar à luz de sua segunda filha, Vanessa Fagundes, 40 anos, é mais um exemplo de que é possível ser mãe e ser líder de sua própria carreira.

Empreendedorismo vem de família. Diferente de Damiana, ela sempre empreendeu, já que seus pais eram donos de uma malharia que funcionava no fundo de casa. Hoje, com a mãe e a irmã, ela é dona da Psil Fashion, loja de roupas femininas plus size em São Paulo.

Adolescente, já vendia as roupas confeccionadas pela família. O talento para os negócios apareceu na adolescência, além de confeccionar as roupas, ainda ajudava os pais a vender em feiras de rua. As peças seguiam o biotipo da mãe, que era mais "gordinha e tinha muitas dificuldades de encontrar roupas".

Peças plus size. Fabricaram anos para grandes lojas atacadistas e as sobras vendiam no quintal de casa, na Vila Matilde, zona leste de São Paulo. Em 2001, abriram a própria loja, que funciona até hoje no Tatuapé.

Rede de apoio para continuar no trabalho. A primeira filha, Katharina, que nasceu em 2008, foi inserida na rotina profissional de Vanessa ainda bebezinha. Ela conta que muitas vezes levava a menina para o trabalho, mas contava com uma forte rede de apoio, especialmente, da mãe e irmã.

Minha filha nunca foi empecilho para nada. Ela nasceu e se criou neste ambiente. Hoje atende as clientes, é bastante comunicativa. Acho que ela tem talento para seguir, mas tem dúvidas, pois gosta também de veterinária [risos].
Vanessa Fagundes, proprietária da Psil Fashion

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Boom dos negócios veio em 2015. Depois do nascimento da filha, o negócio começou a decolar de vez, relembra Vanessa. A partir de 2015, com o boom das mídias sociais, o aumento das menções do plus size e o aparecimento das blogueiras específicas da área, deixou nosso trabalho mais em evidência. "No nosso primeiro mês de funcionamento da loja lá em 2001, vendemos R$ 800. Atualmente, o valor é de cerca de R$ 100 mil por mês e somos sete funcionários", diz.

Mais preparada nesta segunda gestação. Hoje,Vanessa se diz mais preparada e estruturada para conseguir viver a maternidade e os negócios, um apoiando o outro. Além da expectativa do nascimento da filha Isadora, ela conta que está bem perto de concretizar mais um sonho: juntar a sua loja com ateliê para oferecer a melhor experiência para o cliente. Além disso, até o fim deste ano, pretende abrir mais uma loja, na zona sul da capital paulista.

Eu sou muito apaixonada pela minha profissão e pelo meu negócio. Ter desafios e precisar do jogo de cintura e estar sempre antenada. Isso é importante para o filho vivenciar. Aprender na prática o que é decepção, cansaço, sucesso, alegria, que a vida é cheia de desafios, que ficamos frustrados, que não podemos desistir quando queremos algo, que atitude é importante e acima de tudo que o estudo é muito importante para conseguir chegar em algum lugar.
Vanessa Fagundes

Maternidade e mudança de carreira de mãos dadas

Dani Junco
Dani Junco Imagem: Arquivo Pessoal

"Todas as mulheres sofrerão transição de carreira após a maternidade. É para todas". É o que afirma a co-fundadora e CEO da B2Mamy, aceleradora para mães, Dani Junco. E com ela não foi diferente. Dani começou a trabalhar cedo, aos 16 anos, com marketing farmacêutico. E, em 2010, ela abriu sua própria agência de marketing farmacêutico.

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De empreendedora a ativista. A grande mudança ocorreu em 2015, quando grávida de cinco meses do filho Lucas, se questionou se a maternidade poderia inviabilizar seu progresso profissional. Um simples post desabafo em uma rede social fez Dani se deparar com muitas outras mulheres com as mesmas angústias.

Percebi que aquilo era um fenômeno social. O que acontece com a gente? Temos muita vontade de mudar o jeito que a gente ganha dinheiro, a forma com a qual nos relacionamos com o mundo. E esse mundo não recebe a gente bem? Pelo contrário. Muitos falam que 'nasce uma mãe, nasce uma empreendedora'. A minha transformação foi do como: 'nasce uma mãe nasce uma ativista'.
Dani Junco, co-fundadora e CEO da B2Mamy

Apesar de já ter um negócio consolidado no mercado, Dani apostou no seu propósito e, em 2016, criou a B2Mamy. Para investir em seu sonho, reduziu o custo de vida e precisou voltar a morar com sua mãe, em Santos, litoral de São Paulo. De lá para cá, a aceleradora já impactou mais de 100 mil pessoas por meio de cursos, capacitações e plataforma de educação, 450 startups aceleradas e R$ 27 milhões gerados dentro da Comunidade.

Obstáculos podem ser superados

Maternidade impulsiona o empreendedorismo. A pesquisa do Data Sebrae - Empreendedorismo Feminino de 2023, aponta que 68% das mulheres afirmam que a maternidade influencia fortemente a decisão de empreender.

Mulheres enfrentam mais obstáculos que os homens. Falta de confiança para a tomada de decisões e falta de apoio de fornecedores e clientes são os principais obstáculos para mulheres que desejam empreender, explica consultora de negócios do Sebrae-SP, Tais Camargo. A mesma pesquisa mostra que os homens recebem 43% de apoio de fornecedores e clientes, enquanto as mulheres 34%, sem contar que as mulheres assumem o dobro de responsabilidades nas questões domésticas.

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Esses fatores podem ser trabalhados por meio do comportamento empreendedor, mas também dependem de mudanças do ambiente empresarial e familiar. As mudanças da sociedade e familiares podem refletir na confiança dessas mulheres empreendedoras. A maneira de encarar os desafios, o compartilhamento das ações e obrigações familiares e a posição diante do preconceito de clientes e fornecedores, pode ser o ponto de partida.
Thaís Camargo, consultora de negócios do Sebrae-SP.

Planejamento, rede de apoio e jogo de cintura

Equilíbrio entre ser mãe e ser empreendedora é difícil e requer rede de apoio. Planejamento, organização, jogo de cintura são importantes para driblar os desafios e conciliar a maternidade e a administração de um negócio, explica Thais.

Na prática, vemos mães que trazem seus filhos para capacitações presenciais, que vendem com os filhos no colo ou amamentando, que negociam entre o deixar o filho na escola e o retorno. O cansaço da jornada tripla: empreender, ser mãe e cuidar das questões domésticas faz com que o tempo disponibilizado para o negócio seja menor, podendo gerar menor competitividade para essas empresas, o que influencia na sobrevivência do negócio.
Thais Camargo, consultora de negócios do Sebrae-SP.

É preciso dividir as tarefas. Mães que pretendem empreender devem ter em mente que a divisão do tempo, a organização das tarefas e afazeres e a dedicação aos filhos e ao negócio precisam ser equilibradas. As crianças requerem atenção e dedicação, assim como os negócios, mas não é uma questão de competição e sim de planejamento, organização, equilíbrio e muito jogo de cintura, explica Thais.

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