Pizzaria de 100 anos começou com reunião de amigos após 'pelada' de futebol
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A Castelões Cantina e Pizzaria completou 100 anos em 2024, localizada no mesmo endereço desde a sua fundação, no Brás, em São Paulo. Os fundadores Vicente Donato e Ettore Siniscalchi começaram o negócio pelo futebol. Eles e funcionários de indústrias da região se reuniam após as "peladas" para comer pizza. Foi um sucesso, e os dois amigos abriram a pizzaria em 1924. Viraram sócios.
Relíquias vão ser revitalizadas
Itens originais da Castelões expostos. "O plano é revitalizar alguns itens, o que levará o cliente aos primeiros anos da Castelões. A ideia é proporcionar uma verdadeira experiência aos consumidores", diz Fábio Donato, 52, terceira geração da família e único dono da Castelões. Alguns desses itens são uma geladeira de madeira, o balcão original e caixas registradoras. O local tem ainda algumas coleções deixadas pelo avô, como a de latas de azeite, de uísques e de vinhos raros.
São itens icônicos que fazem parte da minha vida. Quando eu chegava, ainda pirralho, na cantina, meu pai me colocava em cima do balcão.
Fábio Donato, dono da Castelões
Algumas adequações serão feitas no local. Algumas delas são a reforma dos banheiros, o nivelamento do piso e a colocação de um visor no forno. "Elas estão sendo feitas gradativamente, para não afetar o funcionamento da casa", diz Fábio. A previsão é finalizar tudo até julho.
Como o negócio começou
Partida de futebol com os amigos. Três vezes por semana, Vicente Donato, brasileiro e filho de italianos, e Ettore Siniscalchi, italiano de Benevento, jogavam futebol com amigos funcionários de indústrias da região do Brás, depois do expediente. O jogo era em um campinho no final da rua do Gasômetro. Após as partidas, eles se reuniam para comer alguma coisa.
Cada um levava o que tinha em casa. "Eles levavam pão, queijo, frios e vinho. Depois, começaram a fazer frango a passarinho em um fogareiro de duas bocas. Um tempo depois, eles começaram a fazer pizza. Esses encontros aconteciam exatamente no local onde hoje está localizada a Castelões", diz Fábio, que não tem a informação de quem morava no local.
Donato e Siniscalchi faziam tanta pizza, que decidiram abrir um negócio. Assim, abriram a Castelões em 1924 naquela casa no Brás. O nome é o mesmo do time de futebol em que eles jogavam.
Pedreiro virou pizzaiolo. Foi preciso construir um forno à lenha no local. "O primeiro não deu certo, mas o segundo, já grande o suficiente para servir muitas pessoas, ficou perfeito", diz Fábio. O pedreiro Pedro Rosário, que construiu o segundo forno, virou o primeiro pizzaiolo da Castelões. Ele ficou na empresa até o final dos anos 1950.
Ampliação da pizzaria em 1935. Para ampliar o local, os sócios compraram a casa ao lado do imóvel. Em 1950, Siniscalchi se mudou para o Rio e vendeu sua parte na pizzaria para o sócio.
![Vicente Donato (à esq.) abriu a Castelões em 1924; foto de 1950 Vicente Donato (à esq.) abriu a Castelões em 1924; foto de 1950](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/d7/2025/01/23/vicente-donato-a-esq-abriu-a-casteloes-em-1924-foto-dos-anos-1950-1737662131368_v2_750x421.jpg)
Donato ficou à frente da Castelões até a sua morte, em 1987. O filho, João, assumiu o negócio. Ele havia começado a trabalhar na Castelões ainda na adolescência, em 1956. Quando ele morreu, em 2014, Fábio (seu filho e neto do fundador), que aos 15 anos começou a trabalhar apenas aos domingos na pizzaria, passou ao comando da empresa. Ele é o atual proprietário e pizzaiolo —desde 2022, sua namorada, Claudia Pinho, 48, é responsável por parte da cozinha (especialmente, sobremesas e coberturas das pizzas).
A primeira lembrança que tenho da Castelões é ajudar o meu pai a selecionar as linguiças. Elas eram preparadas pela família e penduradas para secar. Depois, a gente tinha que separar as linguiças por tamanho. Eu lembro de separá-las em montinhos, fazendo isso ao lado do meu pai. Eu tinha 3 ou 4 anos na época.
Fábio Donato, dono da Castelões
Pizza Castelões é a mais vendida
![A pizza Castelões é a mais vendida da casa A pizza Castelões é a mais vendida da casa](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/37/2025/01/23/a-pizza-casteloes-e-a-mais-vendida-da-casa-1737662455759_v2_750x421.jpg)
A Castelões tem 18 sabores no cardápio. "Elas ajudam a contar a história da casa e também a história das pizzas no Brasil", declara Fábio. A mais pedida é a Castelões, feita de muçarela especial, molho de tomate fresco e cobertos com fatias de calabresa de fabricação própria, o que adiciona um toque picante e de erva-doce à pizza. Custa R$ 136. "Não adianta ter muitas variações. Cliente que é cliente vem aqui comer a Castelões", declara.
Boa parte das receitas segue o preceito das originais, como as tradicionais de margherita, napolitana, aliche e Castelões. "Entretanto, é necessário reforçar que, apesar de ter uma identificação com a original, todas as pizzas passaram por melhorias no preparo. Essas alterações se adaptaram ao paladar do consumidor atual, mas mantiveram o sabor clássico", declara.
Em média, a Castelões vende por mês 1.500 pizzas. Está presente no delivery via Ifood. A empresa não abre faturamento nem lucro.
Evoluir, mas sem perder a essência
Ter modernização, mas sem perder a essência. "Mesmo para marcas tão tradicionais, como a Castelões, fazer evoluções no negócio não é prejudicial, desde que se mantenha o diferencial competitivo que fez aquela empresa se tornar referência no mercado. É fundamental se manter fiel à história da marca", afirma Alexandre Giraldi, consultor de negócios do Sebrae-SP.
O que poderia ser feito na Castelões? Para Giraldi, vale criar um ambiente na pizzaria com quadros que contassem, por meio de textos e fotos, a história centenária da marca e de suas pizzas tradicionais. "Isso reforça a narrativa da marca e cria conexão com os novos clientes que chegam ao local e apenas imaginam o que tem por trás daquele ambiente, da decoração com itens icônicos e até da pizza famosa", diz. Nas redes sociais, por exemplo, vale ter vídeos comemorativos, contar curiosidades, mostrar fotos antigas e as relíquias da decoração.
Sucessão em empresas de família deve ser planejada. "O sucessor, seja ele quem for, precisa passar por todo o treinamento técnico para que a sucessão seja positiva. Isso requer envolver o sucessor desde o começo. O planejamento deve ter data de início, meio e fim, criando etapas para que o sucessor passe por cada uma delas. É fundamental fazer o próximo sucessor se envolver no negócio e amar aquilo", declara Giraldi.
1 comentário
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Ozni Rici
Por coincidência, ontem estive na casa pela primeira vez. Pizza ótima, cara, mas que se justifica pela calabresa excelente e pelo trigo vindo da Itália. Sim, o ambiente precisa ser reformado, sem perder a origem. Ainda sinto saudades da antiga Pizzaria Zi Teresa, que tinha mais de 60 anos também, na av Consolação, que era de excelente qualidade e fartura e abria no horário do almoço. O absurdo custo Brasil vai dificultando demais para as empresas.