Com crise política e eleições, o que esperar do emprego daqui em diante
Após dois anos de dados muito ruins de desemprego, os últimos números indicam uma mudança de tendência.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego no país teve a primeira queda estatisticamente significativa desde o final de 2014. A taxa chegou a 13%, com 13,5 milhões de desempregados no segundo trimestre. Dados do Ministério do Trabalho mostraram a criação de 67.358 vagas com carteira no primeiro semestre. O país havia fechado vagas no primeiro semestre de 2016 (-531.765) e de 2015 (-345.417).
Apesar dos resultados apontarem um alento na crise econômica, economistas são cautelosos e dizem que o país ainda vive uma estabilização do desemprego. Eles também ressaltam que o aumento do trabalho foi apoiado na agricultura e no emprego informal, sem carteira assinada. Então, quais são as perspectivas para o futuro?
Mais emprego no 2º semestre ou só em 2018?
Hélio Zylberstajn, professor da USP (Universidade de São Paulo), evita previsões de longo prazo, mas diz acreditar que os próximos meses podem registrar melhora. "O segundo semestre, em geral, é mais favorável ao emprego do que o primeiro", diz. "Por causa da sazonalidade, a gente deve ter algum pequeno crescimento nos próximos meses, mas eu não me atrevo a prever mais do que isso."
Para George Sales, professor da Faculdade Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), o crescimento do emprego só será sentido em 2018, "passando janeiro, fevereiro, que são meses mais amenos". Segundo ele, os empresários ainda estão cautelosos e devem esperar alguns meses para começar a investir e contratar mais intensamente.
"Dois fatores fazem ele (empresário) ter a certeza de esperar. O primeiro fator é a mudança das regras trabalhistas, que só vão entrar em vigor a partir de novembro. Então por que eu vou me antecipar, se vai haver flexibilização nas regras trabalhistas que me permite ter alguma vantagem como empreendedor?", afirma.
O segundo fator, para ele, é a queda na taxa de juros. Além da redução de 10,25% para 9,25% ao ano, anunciada na quarta-feira (26), o Banco Central sinalizou que pode derrubar os juros abaixo dos 8,5% na sua próxima reunião, em setembro. Segundo ele, não compensa para os empresários investirem agora, se poderão fazer isso lá na frente a um custo mais baixo.
Carlos Ramos, professor da UnB (Universidade de Brasília), afirma que a recuperação do emprego só acontecerá, de fato, quando a economia voltar a crescer mais intensamente. "Vai ter mês positivo, mês negativo, mas você vai ter recuperação do emprego mesmo quando (o Produto Interno Bruto) realmente começar a crescer 2%, 3%, 4%, durante vários anos", diz. O BC prevê que o PIB cresça 0,5% neste ano.
Ano deve ter resultado negativo
Os economistas também avaliam que, mesmo com resultado positivo no primeiro semestre, a tendência é que o Brasil feche 2017 com fechamento de vagas com carteira. Isso porque, historicamente, dezembro tem um grande número de fechamento de vagas, também por motivos sazonais, mesmo quando o país não atravessa uma crise econômica.
Assim, para que o saldo do ano seja positivo, é preciso uma grande abertura de vagas entre janeiro e novembro --maior do que está sendo registrada até agora.
Crise política
A imprevisibilidade das eleições do ano que vem também afeta a economia e a geração de empregos, segundo Carlos Alberto Ramos.
Ele diz que a "incerteza é muito grande" para 2018, mesmo que o atual governo consiga a aprovação da reforma da Previdência. Ao lado da trabalhista, ela é vista como um fator que pode dar segurança para empresários investirem.
"Há incerteza com as eleições, se as reformas serão mantidas", afirma. "Você não sabe o novo contexto institucional, se vai ganhar o (deputado federal Jair) Bolsonaro, (o ex-presidente) Lula, e você não sabe a política econômica deles", diz.
Para George Sales, a atual crise política já afeta os dados de emprego atuais, que poderiam estar melhores, principalmente após o acordo de delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que levaram à denúncia contra o presidente Michel Temer.
"(O dado de emprego) era para estar apontando (para cima), sim, se não tivesse acontecido o que aconteceu a partir de maio, com a instabilidade da política que a gente teve", diz.
Por outro lado, Zylberstajn afirma que o cenário político teve pouco impacto no emprego, de acordo com os dados do Caged. "Desde o meio de maio a gente está com uma instabilidade política muito grande, mas o número de maio e junho do Caged não foi afetado."
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