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Fundos de renda fixa investem em dívida de empresa para melhorar rendimento; conheça

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

14/01/2013 06h00

O investidor mais atento percebeu que os tradicionais fundos DI e de Renda Fixa perderam apelo nos últimos anos, principalmente devido à queda dos juros básicos da economia (a chamada taxa Selic, que recuou de 12,5% para 7,25% em menos de um ano).

O ano passado foi dos "fundos de inflação", ou, mais tecnicamente, dos fundos de Renda Fixa Índices, que entregaram aos poupadores, em média, um ganho de 21,7% em 2012. O resultado ficou bem acima dos 8,6% dos fundos DI, por exemplo. Os dados são da Anbima, a associação que reúne bancos e os demais vendedores de fundos.

É possível que, a partir deste ano, outra família de fundos ganhe a atenção dos investidores: os chamados fundos de Renda Fixa Crédito Livre (o nome técnico definido pela associação dos bancos).

Os fundos de renda fixa, incluindo os "fundos de inflação", são forrados de títulos da dívida pública federal, do tipo que qualquer investidor pode comprar por meio do programa Tesouro Direto. Já os fundos Renda Fixa Crédito Livre, além dos títulos públicos, enfatizam outro ingrediente: títulos emitidos por empresas privadas.

Quando uma empresa precisa de dinheiro, pode tomar emprestado nos bancos ou vender ações. Outra alternativa é oferecer títulos de dívida, como notas promissórias ou debêntures. Na prática, trata-se de tomar dinheiro emprestado de investidores, em vez dos bancos. Os poupadores adquirem esses papéis esperando receber o valor aplicado corrigido por uma taxa de juros.

Além de debêntures, também entram na receita desses fundos os CDBs de bancos e DPGEs (um tipo de CDB com garantia diferenciada), entre outros.

Esse mix de papéis tende a oferecer maior ganho para os poupadores. Necessariamente, a empresa precisa oferecer esses títulos em condições mais vantajosas em comparação com os títulos públicos, isto é, pagar juros mais altos. Mas essa diferença nos ganhos também implica em riscos mais altos ante a poupança e os fundos tradicionais.

Vale a pena correr mais risco?

Os fundos que investem em títulos de empresas privadas, os fundos de Renda Fixa Crédito Livre, proporcionaram um ganho, em média, pouco superior a 9% no ano passado. 

Em tese, parecem pouco atrativos comparados aos "fundos de inflação" ou aos fundos "comuns" de renda fixa.  Mas essas aplicações provavelmente vão perder seu poder de atração no curto prazo.

Como os juros básicos da economia (Selic) devem permanecer baixos, os fundos tradicionais vão continuar pouco atrativos, salvo cortes agressivos nas taxas de administração (as taxas cobradas pelos bancos nessas aplicações).

Especialistas também concordam que "os fundos de inflação" dificilmente vão repetir o desempenho excepcional visto no ano passado, quando uma situação pontual (a queda rápida dos juros) ajudou a inflar os ganhos desses produtos.

Para oferecer produtos de renda fixa com ganhos mais interessantes para seus clientes, os responsáveis pelos fundos vão ter que buscar mais papéis emitidos pelas empresas privadas. "Essa vai ser a tendência natural desse mercado", diz Luiz Jurandir de Araújo, professor de Finanças da Universidade Metodista de São Paulo.

Esses fundos diferenciados já são oferecidos para clientes de alta renda, mas, gradualmente, podem chegar aos correntistas de recursos mais modestos. Na maioria dos casos, a aplicação inicial mínima é de cerca de R$ 10 mil, mas já há casos de fundos que reduziram esse limite para R$ 5.000.

Trocando o 'risco governo' pelo 'risco empresa'

Quando o investidor coloca seu dinheiro nessas aplicações com crédito privado, deixa de estar exposto ao "risco governo" (chance muito baixa de calote) para correr o "risco empresa", que pode variar bastante.

A recomendação para o poupador é que evite aplicar em produtos desse tipo que rendam menos que 105% do CDI (o juro de mercado, bem próximo da taxa básica de juros do país). Hoje, os fundos DI e alguns CDBs, no melhor dos casos, não rendem mais que 95% do CDI. Somente assim esses fundos compensam o risco maior que o poupador se dispõe a correr.

Na prática, os gestores de fundos estão sendo bastante cautelosos, adquirindo papéis de grandes empresas (de risco mais baixo), o que ajuda a explicar o ganho moderado visto nessas aplicações. É provável, no entanto, que os responsáveis pelos fundos comecem a se arriscar mais no futuro próximo. 

Cada vez mais, novas empresas tomam dinheiro emprestado no mercado (via lançamento de títulos), o que aumenta a oferta e a variedade para os gestores montarem fundos diferenciados. 

Investidor deve trocar facilidade de sacar recursos por melhores ganhos

A Sul América Investimentos, que já administra um dos grandes fundos com crédito privado (patrimônio de R$ 1 bilhão), lançou, no ano passado, um produto desse tipo com carência de 90 dias, isto é, o investidor deve aguardar esse período antes de realizar o primeiro saque.

"Acredito que essa carência vai se tornar cada vez mais a praxe de mercado. E não se surpreenda se esses prazos ficarem ainda maiores", diz Marcelo Saddi, diretor da área de investimentos da Sul América.

A justificativa é simples: para obter melhores ganhos, o responsável pelos fundos precisa adquirir títulos privados de prazo mais longo, isto é, que vencem em anos, e não em meses ou dias. "Se eu for comprar um CDB de 30 dias para colocar no meu fundo, para permitir que o investidor tenha liquidez diária, o retorno não vai compensar", afirma.

A poupança e os produtos tradicionais de renda fixa facilitam ao poupador o saque dos recursos a qualquer momento, sem maiores custos (salvo a mordida do Imposto de Renda). Para melhorar o ganho de suas aplicações, avaliam especialistas, os correntistas vão ter que abrir mão da usual liquidez diária (a facilidade em resgatar os recursos aplicados). 

Um novo horizonte de riscos

Se o tradicional investidor de renda fixa quiser migrar parte do dinheiro depositado na poupança ou em um fundo DI, precisa saber que vai migrar de um nível de risco "baixo" para "moderado" (risco de perdas eventuais).

Olhar o passado de ganhos (ou de perdas) de um fundo de investimento pode fornecer uma ideia geral da  aplicação, embora não seja suficiente.

"A rentabilidade passada [de um fundo] pode ter sido muito boa, mas já aconteceu. Os riscos estão no futuro, não no passado", diz Luiz Jurandir, da Metodista de São Paulo.