Conheça quatro mitos que influenciam ao investir seu dinheiro
Mitos podem ter um base real ou não. No universo das aplicações financeiras, alguns mitos foram verdades sólidas durante anos, quando a taxa básica de juros (a Selic, que influencia o custo dos empréstimos a empresas e consumidores) era de dois dígitos.
Mas o ano de 2012 mudou muito esse panorama: o governo promoveu cortes agressivos na taxa básica –que caiu de 12% para 7,25%-- e mudou as regras para um dos investimentos mais populares e confiáveis para os brasileiros: a poupança. Ao mesmo tempo, a inflação passou a ganhar ainda mais importância nas decisões de investimentos.
Confira abaixo alguns mitos na área de investimentos, que merecem a reflexão dos poupadores nesse ambiente de juros mais baixos, “nova poupança” e preços mais altos nos corredores dos supermercados.
1) A poupança sempre garante, pelo menos, a inflação
A poupança passou por mudanças drásticas a partir de 4 de maio do ano passado. Depósitos feitos a partir dessa data passaram a render sob uma nova regra, que abateu boa parte dos ganhos dessa aplicação.
No ano passado, o ganho proporcionado pela poupança (6,48%) mal bateu o IPCA (5,84%) e perdeu para o IGP-M (7,82%), somente para citar os dois índices de preços mais utilizados.
É bastante provável que a partir deste ano essa seja a nova realidade da aplicação mais popular do país. Por dois motivos: primeiro, porque os índices de preços não devem ceder tão cedo, na visão de muitos economistas; segundo, porque a nova regra da poupança “amarrou” fortemente o rendimento dessa aplicação à taxa básica de juros do país, definida pelo Banco Central.
Embora não haja consenso entre analistas se a taxa de juros vai subir ou cair nos próximos dois anos, ninguém espera ajustes bruscos, que poderiam trazer a taxa Selic de volta para a casa dos dois dígitos.
“A poupança é uma aplicação voltada principalmente para o investidor que está começando a acumular dinheiro, quando você precisa realmente de um produto de mais fácil entendimento. A partir do momento em que esse investidor já dispõe de uns R$ 5 mil acumulados, há produtos que são mais interessantes”, diz Ricardo Humberto Rocha, professor da Saint Paul Escola de Negócios, de São Paulo.
A partir desse valor, com alguma pesquisa, já é possível encontrar fundos de investimentos e CDBs com melhores condições para o poupador.
2) O CDI é o melhor amigo do investidor
Bancos emprestam dinheiro entre si a uma taxa de mercado apelidada de CDI, que segue de perto a taxa básica de juros do país. Esse CDI também serve de referência para os ganhos de muitas aplicações populares nas agências bancárias, tais como fundos DI e CDBs.
Como os investidores desses produtos já perceberam, os ganhos nessas aplicações perderam um pouco do apelo dos últimos anos, e por uma razão simples: a taxa básica de juros caiu com força, levando junto a taxa de mercado.
Além desse fator, as aplicações já citadas sofrem com o peso das taxas de administração cobradas pelos bancos --que podem ser muito altas em vários casos-- e da mordida do Imposto de Renda. Também é muito complicado achar um produto que pague ao poupador o CDI integral (hoje, em torno de 7%).
A realidade do mercado é mais dura: nas agências bancárias, as aplicações à disposição oferecem, na melhor das hipóteses, uma “fatia” do CDI, em torno de 90%.
Por esses motivos, em muitos casos, tem sido mais vantajoso deixar dinheiro aplicado na poupança (desde que rendendo pela regra antiga) do que aplicar em um fundo DI.
Não era assim no passado recente: o CDI ganhava com folga da inflação, o que permitia ao investidor ter ganhos mesmo pagando caro por suas aplicações de renda fixa.
Esse cenário pode voltar a ocorrer no curto prazo? Dificilmente, respondem os especialistas.
“É muito baixa essa probabilidade [que o CDI volte a bater a inflação]. A tendência para os próximos anos é continuar caindo”, diz Fernando Caio, especialista da Fucape Business School, do Espírito Santo.
E no curto prazo? Se a inflação realmente começar a assustar, especialistas avaliam que o governo vai ser pressionado pela opinião pública a tomar alguma medida.
Essa medida não necessariamente significa dar um choque de juros, como nos anos anteriores. Outra alternativa possível é tirar dinheiro de circulação, forçando os bancos a emprestarem menos.
3) Toda aplicação precisa de liquidez diária
Anos de inflação alta forçaram os bancos a oferecer aplicações com facilidade de resgate do dinheiro no dia a dia. Mesmo quando os índices de preços deram algum sossego, essa característica das aplicações financeiras permaneceu no Brasil.
Mas nos próximos anos, especialistas advertem que pode se tornar uma tendência de mercado oferecer aplicações que estimulam o poupador a se comprometer com prazos maiores para deixar o dinheiro guardado antes do primeiro saque.
“Não precisa ser assim. Se o investidor se sentir confortável com a aplicação que está fazendo, naturalmente ele vai deixar o dinheiro investido por mais tempo”, afirma Ricardo Torres, professor da Brazilian Business School, de São Paulo.
“Ao aceitar isso [a exigência de prazos maiores de aplicação], o investidor somente vai facilitar a vida dos gestores [de fundos de investimentos]”, acrescenta. O problema, como afirma o professor, é que dá margem para que o dinheiro seja aplicado em investimentos de maior risco, que têm potencial de oferecer ganhos diferenciados, mas que também podem dar “sustos” aos poupadores desavisados.
4) Investimento em ações é para “ricos”
O investimento em ações, embora longe de ser popular como os CDBs ou os fundos de renda fixa, ganhou características mais amigáveis nos últimos anos.
“Hoje, com qualquer R$ 100 você aplica em fundo de ações oferecido pelos bancos. Somente precisa tomar cuidado com as taxas de administração, e não ir para algum produto que cobre 4,5% ao ano”, diz Raphael Cordeiro, especialista da boutique de investimentos Inva Capital, do Paraná. “Para aplicar em ações, é necessário somente ter algum estômago para suportar risco, e ter uma estratégia”, declara.
Em tese, o panorama de juros cada vez mais baixos deve "empurrar" os poupadores para investimentos de maior risco, a exemplo da Bolsa de Valores, como já aconteceu nos EUA e na Europa.
Cordeiro recomenda que o poupador classifique o dinheiro a ser aplicado em “perfis”, de curto e longo prazo. “O dinheiro que está sendo guardado para comprar um carro no prazo de um ano tem que ter um destino diferente do dinheiro que visa a aposentadoria”, afirma.
No segundo caso, o poupador pode tirar proveito de aplicações de renda variável (como Bolsa de Valores), que têm maiores chances de ganho em um horizonte de alguns anos.
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