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Seguro de carro é quase R$ 3.000 mais caro em bairro pobre do que em rico

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Téo Takar

Do UOL, em São Paulo

17/08/2018 04h00

O seguro é uma das principais despesas de quem possui automóvel. Proteger esse patrimônio pode custar entre 5% e 10% do valor do carro. O brasileiro gasta, em média, R$ 3.587 por ano (quase R$ 300 por mês) para ter a garantia de ressarcimento no caso de roubo, furto, incêndio ou colisão do veículo.

A diferença no preço do seguro para um mesmo carro e motorista pode variar mais de 100% de uma seguradora para outra, segundo a TEx, empresa de tecnologia que faz cotações simultâneas em 17 seguradoras para corretores. Os preços variam de acordo com o perfil do motorista e o local onde mora. Um seguro em Itaquera, bairro periférico de São Paulo, custa quase R$ 3.000 a mais que um feito nos Jardins, região de classe alta da capital paulista.

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Seguradoras usam pontuação para definir preços

O preço do seguro para um mesmo veículo e um mesmo motorista pode variar muito de uma seguradora para outra. A explicação para que uma empresa cobre o dobro ou mais do que sua concorrente está nas políticas comerciais e nos controles de risco adotados por cada companhia.

“As seguradoras utilizam formulários parecidos, com perguntas que visam traçar o perfil do motorista segurado e entender como o veículo é usado, onde ele roda mais. Porém, cada empresa adota pesos diferentes para as respostas dadas, definindo um ‘score’ [pontuação]. É com base nesse ‘score’ que a seguradora define o preço”, disse Emir Zanatto, diretor de operações da TEx.

Segundo ele, a pontuação para cada resposta é reavaliada frequentemente pelas seguradoras, com base na chamada sinistralidade, ou seja, na quantidade de eventos que provocam o acionamento do seguro, como furtos ou acidentes.

“É possível que um determinado modelo de carro esteja com uma sinistralidade maior em uma determinada seguradora. Para evitar se expor demais ao risco daquele modelo, a seguradora sobe o preço”, afirmou Zanatto.

Por outro lado, uma seguradora pode optar por reduzir o valor do seguro para determinados clientes de uma faixa etária, considerada de menor risco, ou que residam em um certo local, que possui baixa sinistralidade, justamente para atrair esses clientes.

Quase R$ 3.000 de diferença entre Jardins e Itaquera, em SP

O endereço de residência do segurado é um dos fatores que mais pesam na cotação do seguro. Os cálculos das seguradoras estão diretamente relacionados aos índices de criminalidade.

Quanto maior a incidência de roubos, furtos e outros crimes em determinada cidade ou bairro, mais caro será o seguro. Algumas seguradoras chegam a se recusar a fazer o seguro, dependendo do modelo do carro e do endereço do segurado.

“As seguradoras são sempre bastante conservadoras. Elas monitoram os indicadores de segurança pública e possuem seus dados próprios de sinistralidade da frota segurada”, disse Zanatto.

Um levantamento feito pela TEx mostra que o preço do seguro do Chevrolet Ônix, um dos carros mais vendidos do país, pode variar até 140% dentro de São Paulo, dependendo do bairro da capital.

Seguro Onix - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Na simulação, foram consideradas duas mulheres com o mesmo perfil: solteiras, com 24 anos e motoristas do mesmo modelo, um Ônix 2017. Porém, uma mora nos Jardins, na zona oeste da capital. A outra reside em Itaquera, na zona leste.

A diferença no valor dos seguros chega a R$ 2.806, ou 140%. A moradora dos Jardins pagará R$ 1.998, enquanto a mulher que reside em Itaquera terá que desembolsar R$ 4.804 para ter a mesma cobertura.

Seguro é mais barato em Santa Catarina

O preço médio do seguro de um automóvel no Brasil é de R$ 3.587 por ano, segundo o levantamento da TEx, que analisou 2,3 milhões de cotações realizadas por corretores entre maio e junho.

Santa Catarina é o estado com seguro mais barato, em média de R$ 2.932, enquanto Roraima é o estado mais caro para proteger um veículo, com custo anual médio de R$ 8.720.

No estado do Rio de Janeiro, segurar um automóvel custa R$ 4.187 em média, 28% a mais do que em São Paulo (R$ 3.273).

Alguns estados, como Mato Grosso (R$ 4.985) e Goiás (R$ 4.436), apresentam valores médios mais elevados por causa do grande número de carros caros segurados nesses locais. “São estados com muitas picapes e SUVs, que são modelos grandes, de maior valor.”

Mais prudentes, mulheres pagam menos que homens

As seguradoras consideram as mulheres mais prudentes no trânsito do que os homens. Por isso, elas pagam menos pelo seguro do que eles, na maioria das vezes, considerando a mesma faixa etária.

Para chegar a essa avaliação, as empresas analisam os índices de sinistralidade (roubos e acidentes) e os dados oficiais de multas de trânsito.

“De forma geral, as mulheres têm maior zelo com o carro, dirigem com mais cautela e tomam menos multas do que os homens”, disse o diretor operacional da TEx.

O estudo feito pela empresa mostra que o seguro de um Chevrolet Ônix 2017 custa R$ 1.998 para uma mulher solteira, de 24 anos, que reside nos Jardins, em São Paulo.

Um homem solteiro com a mesma idade e que more no mesmo endereço pagará R$ 2.146 para proteger o mesmo carro, ou seja, 7,5% a mais.

Falta de experiência encarece seguro dos mais jovens

O seguro de um jovem de até 25 anos pode custar o dobro de uma pessoa com idade acima de 56 anos para o mesmo veículo e que more no mesmo endereço.

“O jovem possui um histórico curto como motorista para que a seguradora possa avaliar seu risco. Além disso, o jovem tem uma vida social mais ativa. Isso colabora para que o índice de colisões e roubos nessa faixa etária seja maior.”

Seguro jovem - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Classes de bônus ajudam a reduzir preço em, no mínimo, 25%

As seguradoras oferecem um sistema de bonificação aos clientes que funciona como estímulo para a renovação do seguro. O primeiro seguro é considerado como bônus classe zero.

Se não houver sinistro durante a vigência do seguro, o bônus subirá para classe um na renovação, e continuará aumentando, de um em um a cada renovação anual sem sinistro, até atingir a classe dez.

O sistema de bônus é igual para todas as seguradoras. É possível fazer o seguro em uma empresa e, no ano seguinte, renovar em outra seguradora, sem perder direito ao aumento do bônus.

Porém, o tamanho do desconto oferecido em cada classe de bônus varia de uma seguradora para a outra. O maior desconto ocorre na primeira renovação (mudança da classe zero para a classe um), em torno de 25% do valor do seguro original.

Na segunda renovação sem sinistro (mudança da classe um para classe dois) as seguradoras dão até 10% de desconto sobre o preço do seguro na classe um. Da classe três até a classe cinco, os descontos se acumulam, mas são menores, de até 5% a cada renovação.

Da classe seis até a classe dez, o desconto acumulado praticamente não muda, ficando entre 40% e 50% do preço original do seguro (classe zero).

“A partir da classe seis, o bônus não gera tanto desconto no preço. As classes maiores funcionam como um crédito em caso de sinistro. Se ocorrer um acidente, o segurado não subirá de classe de bônus. Mas o preço da renovação não irá subir muito porque ele já possui um bônus alto.”

Algumas seguradoras permitem transferir os bônus entre familiares (cônjuge ou filhos). A transferência de seguro com bônus é vantajosa principalmente para os motoristas mais jovens, que normalmente pagam mais caro pelo seguro.

Alguns modelos são “preferidos” pelos ladrões

Se você ainda não comprou seu carro ou está pensando em trocar de modelo, vale a pena consultar o banco de dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados) para descobrir se o automóvel desejado está entre os mais roubados.

“A taxa de roubo e furto pode ser responsável por mais de 50% do preço do seguro. Antes da compra do veículo, é altamente aconselhável comparar os preços do seguro dos modelos desejados e pesquisar quais são menos roubados”, afirmou Zanatto.

roubo carro - iStock - iStock
Imagem: iStock

Segundo um estudo da corretora Bidu Seguros, o Chevrolet Prisma possui o melhor custo-benefício para as mulheres, com o seguro equivalente a 3,4% do valor do veículo novo. Para os homens, a melhor relação de custo é o Fiat Argo, com seguro valendo 5,7% do preço do carro novo, em média.

Em compensação, o Volkswagen Gol tem preço relativo do seguro mais caro para os homens, de 9,3% do valor do carro, em média. Para as mulheres, a pior opção é Jeep Compass, com custo de seguro equivalente a 4,8% do preço do carro.

Se a opção for comprar um veículo usado, o segurado pode pagar um seguro proporcionalmente maior do que o de um carro novo. Segundo a TEx, um veículo com até dois anos de uso tem seguro até 15% mais barato do que um similar com cinco anos.

“Os carros mais velhos possuem seguros mais caros por causa do custo de reparo. É preferível comprar um veículo popular mais novo do que um veículo potente mais velho”, disse Zanatto.

Avalie a necessidade de contratar coberturas extras

As seguradoras oferecem uma série de serviços e coberturas extras, que aumentam o custo final do seguro, mas podem gerar economias para o segurado.

Alguns exemplos são a oferta de carro reserva por alguns dias em caso de sinistro, cobertura para quebra de vidros, assistência mecânica 24 horas, guincho, desconto em estacionamentos, chaveiro, encanador, eletricista e outros serviços para a casa do segurado.

Guincho - Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem - Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Imagem: Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem

Um desconto de 15% em um estacionamento que custa R$ 250 por mês, por exemplo, pode gerar uma economia de R$ 450 em 12 meses. O desentupimento de um cano em casa pode gerar uma economia de R$ 250, segundo cálculos da TEx.

Por outro lado, pagar uma cobertura adicional para ter direito a guincho por até 600 quilômetros, em vez de 100 quilômetros, no caso de um sinistro, só faz sentido para pessoas que viajam bastante.

“O ideal é sempre consultar um corretor, que poderá avaliar quais são as coberturas que realmente atendem suas necessidades”, declarou Zanatto.

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