Corretora negocia ação de graça? Cuidado: pode cobrar mais em outros itens
Depois de reduzir a zero a taxa de corretagem nas aplicações em títulos públicos no Tesouro Direto, a nova tendência entre as corretoras é isentar também as operações na Bolsa de Valores. Em tempos de juros baixos na renda fixa, a estratégia é um chamariz para o investidor que pretende se aventurar na renda variável. No entanto, é preciso ficar atento para não pagar mais caro em outros serviços.
O movimento de corte de corretagem começou em julho com a Toro Investimentos, que estreou no mercado com uma proposta inovadora, de cobrar corretagem somente quando a operação dá lucro. Em setembro, a Modalmais anunciou isenção de taxas para operações de contratos e minicontratos de dólar e índice Bovespa Futuro. Também no mês passado, a Clear decidiu zerar a corretagem para negócios com ações.
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O que deveria ser positivo para o investidor pode, na verdade, representar uma armadilha. "Está faltando transparência. O investidor não pode ser ingênuo de achar que uma operação na Bolsa não tem custo", declarou Caio Villares, presidente da Ancord, associação que reúne as corretoras de valores.
Segundo Villares, algumas corretoras estão usando a corretagem zero como peça de marketing para atrair clientes. Porém, as instituições estão aumentando os valores cobrados por outros serviços, sem informar esse fato claramente ao cliente.
"Não se pode interferir na estratégia comercial de cada um. Mas temos que adotar os mesmos pesos e as mesmas medidas. A comparação tem que ser feita com base nos mesmos parâmetros", disse Villares.
"Um grande grupo financeiro consegue adotar essa estratégia [de taxa zero] mais facilmente por causa do 'cross-selling', ou seja, da oferta ao cliente de outros produtos mais rentáveis, como fundos de investimentos, CDBs ou previdência."
Villares disse que, para uma corretora cortar uma receita importante, como a taxa de corretagem, necessariamente ela precisa encontrar outra fonte de receita para compensá-la ou reduzir despesas para continuar lucrativa. "O cliente é atraído pela corretagem zero, mas, no fim das contas, acaba pagando outras despesas que muitas vezes ele não percebe."
Estratégia "ganha-ganha" custa mais caro
A Toro Investimentos começou a funcionar em julho deste ano com a promessa de revolucionar o segmento de corretoras no país. Os clientes que seguem as recomendações feitas pelos analistas da Toro só pagam a corretagem se a operação der lucro. Caso contrário, o cliente fica isento da taxa.
"É uma estratégia de ganha-ganha. Nós só ganhamos se o cliente ganhar também", disse Gabriel Kallas, um dos fundadores da Toro.
Porém, a taxa na Toro é mais salgada do que nas outras corretoras, equivalente a 10% do lucro da operação. Por exemplo, se o cliente comprar R$ 10 mil em ações da Petrobras por indicação da Toro e vender por R$ 11 mil, terá que pagar R$ 100 de corretagem. A maioria das corretoras cobra, no máximo, R$ 10 por operação, independentemente do valor do negócio, ou se der lucro ou prejuízo.
Modalmais: acesso mais caro a plataforma profissional
No mês passado, a Modalmais anunciou a cobrança de taxa zero para negociações de contratos de dólar e índice Bovespa futuro. O valor da corretagem para compra e venda de ações e opções foi reduzido de R$ 4 para R$ 2,49 por operação realizada pela internet (homebroker).
A corretora também diminuiu os subsídios de alguns serviços extras oferecidos aos clientes, como as plataformas profissionais, que oferecem ferramentas que permitem a realização de operações mais complexas no mercado financeiro.
"Cobrávamos R$ 150 mensais dos clientes que queriam acesso a uma plataforma profissional. Agora, deixamos de subsidiar esse produto. O cliente que optar pela corretagem gratuita terá que pagar o custo total da plataforma, de R$ 250 mensais", afirmou Rodrigo Puga, presidente da Modalmais.
"Nossos clientes são principalmente os 'traders' (investidores arrojados, que realizam várias operações diariamente). No fim das contas, para esse tipo de cliente é vantajoso ter a corretagem gratuita, mesmo tendo que pagar mais caro pela plataforma profissional", disse Puga.
A Modalmais também oferece uma plataforma gratuita (homebroker) para os investidores menos experientes e que desejam comprar ou vender ativos na Bolsa sem grandes custos.
A corretora Clear, que faz parte do grupo XP, diminuiu em setembro sua taxa de corretagem, de R$ 0,80 para zero. Assim como a Modalmais, o foco da instituição são os investidores arrojados. Procurada pela reportagem, a corretora informou que não vai comentar sua estratégia comercial.
Zeragem compulsória mais cara
Uma prática comum nas corretoras é a "zeragem compulsória". Ela atinge principalmente os investidores mais arrojados. Quando o cliente está perdendo muito dinheiro no mercado, a corretora pode encerrar o investimento sem a permissão do cliente, para que ele não perca mais dinheiro do que a quantia depositada na instituição.
É uma situação frequente em corretoras com grande número de clientes "traders", como a Modalmais e a Clear. Nessas corretoras, o investidor é autorizado a movimentar o equivalente a até 50 vezes o valor depositado como garantia na instituição.
Essa espécie de "cheque especial" é o que se chama no mercado financeiro de alavancagem e só vale por um dia. Antes de a Bolsa fechar, o cliente tem que liquidar a operação.
Quando o cliente está perto de "estourar" o limite de alavancagem ou quando ele não liquida a operação até meia hora antes do fim do pregão, a corretora executa a zeragem compulsória e cobra uma taxa salgada para realizar tal procedimento.
Na Clear, a taxa de zeragem compulsória é de até R$ 40 por operação. A Modalmais segue a chamada "Tabela Bovespa", que é o valor padrão cobrado pelas corretoras sempre que uma transação passa pela mesa de operações da instituição. A Tabela Bovespa prevê cobrança de R$ 25 mais 0,5% do valor da operação. Uma operação de R$ 10 mil, por exemplo, pagará uma taxa de zeragem compulsória de R$ 75.
Se o cliente fizer a zeragem das operações de risco por conta própria e dentro do horário permitido, o custo será zero. As informações constam dos sites das corretoras, mas não são fáceis de encontrar, tampouco são claras para leigos.
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