IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Ganho no Tesouro Direto pode ser maior que taxa prometida na hora da compra

Téo Takar

Do UOL, em São Paulo

26/02/2019 04h00

Os títulos públicos prefixados (Tesouro Prefixado) ou atrelados à inflação (Tesouro IPCA) têm dado alegria aos investidores nos últimos meses, com ganhos muito superiores à taxa prometida (chegando a quase 10% em apenas um mês).

Se você não tem esses papéis, uma boa notícia: ainda há títulos que podem render, no curto prazo, mais do que a taxa de juros prometida para o vencimento (aquela que aparece na hora da compra).

Por que os preços variam?

Embora sejam títulos de renda fixa, os papéis do Tesouro estão sujeitos à marcação a mercado. O valor em reais do título é ajustado diariamente dependendo das expectativas do mercado para a taxa de juros. Se os investidores acham que os juros vão cair, os títulos são recalculados com base nessa nova taxa, e o valor do título aumenta. Se a expectativa é de que os juros subam, o preço do título cai.

"Por definição, um título do Tesouro Prefixado tem que chegar ao dia do vencimento valendo R$ 1.000. O que a marcação a mercado faz é calcular o valor presente, ou seja, quanto esse título valeria hoje, em função da expectativa de juros no dia", disse Filipe Villegas, analista da Genial Investimentos.

Por que os títulos se valorizaram tanto?

Nos últimos meses, as expectativas do mercado para os juros mudaram drasticamente. Antes das eleições, as taxas embutiam um "alto prêmio de risco", pois o mercado via como grande a possibilidade de ser eleito um governo não favorável às reformas estruturais, como a da Previdência. Com a vitória de Bolsonaro e as expectativas em relação à reforma da Previdência, os investidores ficaram mais "tranquilos", o que fez os prêmios despencarem.

Esse ajuste nas expectativas se refletiu nas taxas de juros dos títulos. Os prefixados, que chegaram a pagar mais de 10% ao ano antes das eleições, agora estão com juros de 7,65% ao ano no vencimento mais curto (em 2022) e de 8,89% no vencimento mais longo (2029). Com a queda nos juros, os preços dos títulos dispararam.

Portanto, quem já tinha o papel pode vendê-lo e embolsar o lucro ou, então, ficar com o papel até a data de vencimento e ganhar a taxa que estava combinada na hora da compra.

Ainda vale a pena comprar?

"A Selic está em 6,5% ao ano hoje. Se as reformas forem aprovadas, a Selic poderá ficar onde está ou cair mais. Portanto, um título que paga 7,65% ao ano está com prêmio. Se a expectativa [de queda de juros] se confirmar, os títulos vão se valorizar", disse Sandra Blanco, especialista em investimentos da Órama.

"Os prêmios não estão tão grandes como no ano passado, mas ainda há boas oportunidades. Talvez esta seja a última grande chance de ter ganhos extras com prêmios na renda fixa. Depois da reforma da Previdência, as taxas cairão ainda mais", disse Villegas.

E se o cenário mudar?

A marcação a mercado permite ter ganhos com títulos de renda fixa se resgatar o investimento antes do vencimento. Porém, sempre há o risco de as coisas não saírem como planejado. A reforma da Previdência, por exemplo, pode sofrer resistência no Congresso e atrasar ou não sair do papel. Nesse caso, a marcação a mercado vai trabalhar ao contrário, dando prejuízo se resgatar o título antes da data.

"Se o cenário mudar, basta o investidor continuar com o título até o vencimento. Ele receberá exatamente a taxa combinada no momento da compra, sem nenhuma perda", disse Sandra.

Então, qual título devo comprar?

Segundo Villegas, os papéis do tipo Tesouro IPCA com vencimento mais longo, em 2024, 2026, 2035 e 2045, são os que têm prêmios mais atraentes no momento. Esses títulos pagam hoje juros superiores a IPCA mais 4% ao ano (cerca de 8% ao ano).

Embora seja possível obter ganhos extras vendendo os títulos antes do vencimento, a recomendação dos especialistas é carregar os papéis até a data de vencimento. "Operar a curva de juros [para obter ganhos extras com os títulos no curto prazo] é sempre arriscado. O melhor é comprar um título cujo vencimento combine com a sua necessidade de recursos no futuro", disse Sandra.

Gostou deste texto? Assine a newsletter UOL Investimentos para receber informações como esta em primeira mão no seu email.

Entenda o que é o spread bancário e a relação com os juros que você paga

UOL Notícias