Quando vale a pena pegar um empréstimo e ficar endividado?
O empréstimo costuma ser visto como o vilão das finanças pessoais. E não seria por menos, já que pegar dinheiro em bancos ou outras instituições financeiras é o principal responsável por levar brasileiros para os órgãos de proteção ao crédito, como o Serasa e o SPC.
Apesar da fama de malvado, o empréstimo pode até ser o mocinho em algumas situações, segundo especialistas em educação financeira ouvidos pelo UOL. Tomar dinheiro emprestado com juros mais baixos para pagar dívidas salgadas, financiar imóvel e até mesmo para pagar um curso são algumas delas.
Pegar empréstimo para pagar dívidas caras
Ricardo Natali, educador financeiro associado à Abefin (Associação Brasileira dos Educadores Financeiros), disse que o empréstimo nunca é desejável, e o ideal é sempre poupar e ter dinheiro disponível para eventualidades. No entanto, a realidade não é essa no Brasil, onde 66,5% das famílias estão endividadas.
Por isso, se a pessoa já está com dívidas no cheque especial e no cartão de crédito --modalidades que, pelas taxas altas, são conhecidas como suicídios financeiros-- faz todo sentido buscar empréstimos com taxas mais acessíveis para pagar os débitos.
Ricardo Natali
De acordo com Natali, a melhor opção é buscar empréstimos consignados, que descontam em folha de pagamento, ou modalidades em que é possível dar bens como garantia, como carro, imóvel, joias etc.
Qualquer bem entregue tende a baratear as taxas de juros, porque a pessoa dá para a instituição financeira uma garantia que de que vai honrar o empréstimo.
Ricardo Natali
Financiamento da casa própria
De acordo com Natali, comprar a casa ou apartamento à vista seria o melhor caminho para quem não quer mais viver de aluguel. No entanto, a maioria não tem esse dinheiro todo à disposição. O financiamento geralmente é a única opção.
Só que a pessoa vai pagar a mais pelo dinheiro que está tomando emprestado. Por isso, minha dica é buscar algo que caiba no seu bolso. Pesquise com muito cuidado, pois é uma decisão importante da vida.
Ricardo Natali
Ele recomenda que a pessoa leia com muita atenção o CET (Custo Efetivo Total) do contrato do empréstimo. Esse documento reúne todos os encargos da operação, além dos juros. "Sempre há taxas embutidas."
Dívidas para investir em conhecimento
Fabio Louzada, membro da comissão de educação financeira da Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros), disse que vale a pena fazer empréstimos para investir em cursos e experiências que acrescentem conhecimento.
Chamo isso de empréstimo de alavancagem, porque é um tipo de dívida que você contrai e que tem a chance de fazer com que você aumente o seu potencial de, por exemplo, ser contratado, promovido ou mesmo conseguir um novo emprego e ter a sua hora de trabalho mais valorizada no mercado.
Fabio Louzada
Ele mesmo tomou dinheiro emprestado com esse fim. Não tinha dinheiro para fazer um exame que poderia melhorar sua carreira. "A solução que encontrei foi buscar crédito no banco para alcançar o meu objetivo. O resultado valeu a pena, e a certificação abriu portas para mim."
Louzada diz, porém, que é preciso avaliar os juros. O ideal é pegar taxas baixas, como as do crédito pessoal, e nunca usar o tão perigoso cheque especial.
Quanto de renda comprometer?
Assim como os outros especialistas, Josilmar Cordenonssi, professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, também diz que o ideal é ter um dinheiro para ser usado em emergências ou mesmo para ser aplicado em cursos.
Mas, se a pessoa não tem dinheiro guardado, o recomendado é que tente comprometer apenas 30% da renda atual com o empréstimo. Acima disso, é preciso acender a luz amarela, pois qualquer problema que dê a pessoa acaba ficando com nome sujo no mercado.
Josilmar Cordenonssi
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