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Bolsa vira pop nas redes sociais, mas cuidado com influenciador sem preparo

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

22/12/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Todos os dias, ações que se destacam na Bolsa vão parar em milhões de citações nas redes sociais
  • Com exposição da Bolsa nas redes, órgão regulador de mercado define regras para influenciador digital
  • Instituições financeiras também monitoram profissionais para ver se não estão falando mais do que devem

A Bolsa é pop. O investimento em ações que já foi visto como privilégio de milionários ou como jogatina de apostadores entrou no dia a dia de milhões de pessoas físicas. Com juros baixos que corroem os ganhos das tradicionais aplicações de renda fixa, mais pessoas passaram a buscar alternativas na renda variável. Ações e fundos imobiliários ganharam popularidade. E em tempos de vida digital, esses produtos foram parar nas redes sociais.

De tradicionais bancos às novas plataformas de investimento, quase todas empresas que vendem produtos financeiros no Brasil têm contas nas redes sociais. Esse movimento é bem visto por entidades de mercado, como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), porque reflete a democratização dos investimentos no país. Mas essa onda também preocupa o órgão regulador do mercado de capitais porque o ambiente digital amplia o risco de investidores caírem no conto errado de pessoas não preparadas - ou mal-intencionadas.

Cada um no seu quadrado

Essa presença de milhares de profissionais de mercado nas redes sociais levou muitas instituições financeiras a contratar serviços de empresas especializadas em dados e inteligência artificial.

Bancos, corretoras e plataformas de investimento querem saber se pessoas que atuam para elas - contratadas ou terceirizadas - não estão falando mais que devem. Existem regras que determinam o que cada tipo de profissional pode ou não fazer.

"A gente monitora perfis relevantes e a correlação desses perfis com eventos e dados, classificando o risco regulatório que uma publicação pode representar para uma instituição financeira, a partir das menções e do relacionamento de leitores com essas publicações", afirma Rafael Zenorinio, CEO da Refinaria de Dados, empresa de tecnologia.

Milhões de postagens todos os dias

A empresa coleta informações de mais de 20 mil fontes - incluindo sites do governo até contas de influenciadores digitais nas redes sociais. Com esse universo, a Refinaria de Dados criou uma plataforma chamada Buzz Financeiro, que mede diariamente menções nas redes sociais sobre ações mais negociadas, aquelas que mais caíram ou as que mais subiram na Bolsa.

Os robôs da Buzz Financeiro descobriram que as postagens dos perfis das redes sociais têm relação com o comportamento dos ativos na Bolsa. Veja algumas correlações.

  • Comentários e comportamento de ativos: Ações que apresentam maiores perdas costumam ser mais comentadas que papéis que subiram.
  • Humor e imagem da empresa: Ações que viram alvo de perfis de humor são afetadas. Empresas que viram memes ou motivo de chacota podem ter uma eventual tendência de perda acentuada.
  • Influenciadores e ativos: Quanto maior o número de seguidores de um influenciador, maior o impacto das postagens desse perfil na vida das pessoas.
  • Rede sociais e pequenas empresas: Volume alto de informações em um curto período sobre uma empresa menor ou menos negociada, as chamadas small caps, impactam mais o papel.

Dói mais o que a gente perde do que o prazer de ganhar. Por isso, acho que as pessoas falam mais do que perdem do que das ações que ganham.
Rafael Zenorinio, CEO da Refinaria de Dados .

CVM alerta sobre golpes

Os influenciadores financeiros digitais estão no radar da CVM, que apresentou mês passado situações que podem caracterizar uma atuação profissional de alguém não qualificado.

Os juros baixos têm acelerado o crescimento do público que investe, o que é bom, mas esse ambiente também pode atrair oportunistas e golpistas. Percebemos aumento de problemas. Com essas regras, a gente manda duas mensagens. Para o influenciador, dizer onde está a linha vermelha; e para o investidor, apontar o que precisa observar na hora de investir seguindo uma recomendação ou comentário.
Daniel Maeda, superintendente de Relações com Investidores Institucionais na CVM

A CVM diz que avisos como "não se trata de recomendação de investimento" ou "são opiniões apenas pessoais" não são suficientes para alguém não certificado escapar de ser denunciado por estar atuando de forma não regular ao sugerir esse ou aquele investimento.

Para o órgão regulador de mercado, o influenciador pode ser alvo de investigação se o perfil dele, que comenta produtos de investimento, apresentar algumas dessas características:

  • Habitualidade;
  • Benefícios, remunerações ou vantagens obtidas na oferta das recomendações, como cobrança de taxa de assinatura ou adesão;
  • Cobrança de mensalidades e anuidades do público;
  • Receitas indiretas recebidas em função do acesso de terceiros.

Fuja de dicas furadas

O problema de seguir dicas de um influenciador não certificado e não regularizado é que a pessoa pode perder dinheiro se for lesada e não ter a quem recorrer.

"Não adianta procurar a CVM só depois que deu ruim", diz Maeda, da CVM.

Veja algumas recomendações dadas pelo dirigente da CVM para não cair em dicas erradas de influenciadores digitais não certificados.

  1. Desconfie: O primeiro filtro é sempre o investidor. Antes de investir, busque informações: quem é o influenciador, de onde vem a informação dele?
  2. Cautela: O investidor precisa controlar a ansiedade e a ganância para não cair em promessas tentadoras.
  3. Checar o registro do profissional. Se a pessoa não tem registro em lugar nenhum isso já é suspeito. Aqui nesta matéria mostramos onde buscar essas informações.

Apenas 30% de aprovados nos testes

Segundo a Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros), que representa com exclusividade no Brasil a certificação CFP (Certified Financial Planner), apenas 30% das cerca em um universo de cerca de 3 mil candidatos que todos os anos buscam na entidade o certificado de planejador financeiro são aprovadas.

Nesse público, estão pessoas com formação em administração, economia ou engenharia. Na sua maioria, gente que já teve experiência em instituição financeira, como banco, gestora ou corretora. Esses candidatos são testados em conhecimentos sobre planejamento financeiro, tipos de investimento no Brasil e no exterior, questões fiscais, sucessórias e regulatórias.

Se nesse perfil de pessoas, a taxa de aprovação é de 30%, cabe a pergunta: como um influenciador sem certificação pode ser capaz de dar melhores orientações?

Dicas do planejador financeiro

Veja abaixo algumas recomendações da Planejar para quem segue influenciadores financeiros digitais.

  1. Desconfie de quem fala de forma genérica sobre um investimento como se aquilo servisse para todo mundo.
  2. Cuidado com quem fica prometendo ganhos fáceis com base apenas no histórico de um ativo. Resultado passado não garante que o feito vai se repetir no futuro.
  3. Risco e retorno são diretamente relacionados sempre. Análises que apresentam um produto de investimento com risco muito baixo e retorno muito elevado são suspeitas.

Nas redes sociais, o influenciador fala para milhares de pessoas. Mas o trabalho de recomendação de investimento deve ser muito personalizado. Uma solução que pode ser boa para um investidor pode ser péssima para outro.
Paulo Colaferro, vice-presidente da Planejar