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Com Selic a 2% e inflação a 3%, R$ 1.000 na poupança perdem R$ 17,40 no ano

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

28/10/2020 18h20

Resumo da notícia

  • Banco Central deixa taxa básica de juros em 2% pela segunda vez seguida
  • Decisão do BC mantém rendimento nominal de aplicações em renda fixa
  • Mas com inflação em alta, ganho real está ficando cada vez mais negativo

O Banco Central repetiu a decisão tomada em setembro e manteve a Selic, a taxa básica de juros do país, em 2% ao ano. Com isso, aplicações de renda fixa que de alguma forma dependem desse indicador —como poupança, fundos DI e títulos Tesouro Selic— continuarão com o mesmo desempenho nominal. Já o retorno real, descontando a inflação, vai diminuir. Isso porque o custo de vida está aumentando, reduzindo cada vez mais o poder de compra do investidor.

No encontro anterior do Comitê de Política Monetária (Copom), a inflação acumulada em 12 meses, até o fim de agosto, medida pelo IPCA, era de 2,44%. Agora, está em 3,14%, de acordo com o último dado do IBGE.

Isso afeta diretamente o ganho real das aplicações em renda fixa. Compare abaixo alguns exemplos do que acontece com um investimento de R$ 1.000, considerando uma aplicação por um ano, no caso de uma inflação de 2,44% e de uma inflação de 3,14%. Lembrando que investimentos que pagam imposto são taxados em 17,5% para saques após 360 dias.

Tesouro Selic

  • Rendimento bruto: R$ 20
  • Rendimento líquido: R$ 16,50 (desconta R$ 3,50 de imposto)
  • Ganho real com inflação de 2,44%: perda de R$ 7,90
  • Ganho real com inflação de 3,14%: perda de R$ 14,90

Fundo DI (com taxa de administração de 0,5%)

  • Rendimento bruto: R$ 20
  • Rendimento líquido: R$ 12,35 (desconta imposto e taxa de administração)
  • Ganho real com inflação de 2,44%: perda de R$ 12,05
  • Ganho real com inflação de 3,14%: perda de R$ 19,05

Poupança nova

  • Rendimento bruto: R$ 14 (70% da Selic)
  • Rendimento líquido: R$ 14 (não paga imposto)
  • Ganho real com inflação de 2,44%: perda de R$ 10,40
  • Ganho real com inflação de 3,14%: perda de R$ 17,40

Juros negativos

Levantamento feito pela gestora de recursos Infinity Asset Management mostra que a taxa de juros atuais no Brasil, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, está negativa em 0,75%. Nessa lista, o Brasil tem a 12ª maior taxa real de juros entre 40 países.

Renda fixa serve para reserva de emergência

Mesmo como essa taxa negativa de juros, gestores de recursos dizem que a renda fixa tradicional é a melhor alternativa para a reserva de emergência —aquela parte das economias que pode ser utilizada para cobrir gastos inesperados.

Isso porque as incertezas continuam no cenário por pelo menos três móvitos: risco de uma segunda onda da covid-19 voltar a atrapalhar a economia, eleições americanas e dúvidas com relação aos gastos do governo e ao tamanho da dívida pública.

"Acredito que 2020 já está dado. O que pode provocar movimento nas taxas seria o encaminhamento de uma reforma importante, mas com eleições em novembro, isso não deve ocorrer. Já a eleição no Estados Unidos pode trazer volatilidade aos mercados", afirma o especialista em renda fixa da casa de análise Spiti, Guilherme Cadonhotto.

Para aplicações de longo prazo, a dica é mesmo diversificar as aplicações. "Esse semestre inteiro tem sido de incertezas. Por isso, tenho batido na tecla da diversificação e focar no longo prazo", afirma a analista da Rico Investimentos, Paula Zogbi.