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Dá para investir pagando menos imposto; veja como fazer isso

Estamos vendo uma série de notícias sobre aumentos de impostos e, do ponto de vista das finanças pessoais, buscar estratégias dentro da lei para reduzir o impacto dos tributos em nosso patrimônio pode fazer uma grande diferença ao longo do tempo.

Para se ter uma ideia da diferença que isso pode fazer, pense em um título público como o Tesouro IPCA+, que paga um juro fixo mais a inflação. Quando for resgatado, o imposto incidirá sobre o total de rendimentos, que inclui a inflação. Sim, pagamos Imposto de Renda sobre a inflação.

No longo prazo a diferença é brutal, e a comparação entre investimentos isentos ou não mostra que os retornos reais (acima da inflação) podem chegar a ser mais do que o dobro do que seriam no caso de investimentos que pagam impostos (a depender dos cenários de inflação e dos prazos dos períodos analisados).

Então, como fazer? Basicamente existem três grandes medidas para te proteger dos impostos, quando falamos sobre investimentos:

  1. Não pagar, sempre que for possível de forma legal (investimentos isentos)
  2. Pagar o mínimo (checar as alíquotas e buscar as menores)
  3. Diferir o máximo (pagar no futuro mais distante que puder)

Ah, existe ainda um veículo específico que não apenas faz você não pagar, mas devolve uma parte do imposto que você já pagou ao receber sua renda, mas vamos falar dele mais para o final.

Então, como podemos colocar essas medidas em prática e encontrar os veículos que nos permitem aproveitar da melhor forma essas características?

A primeira medida (não pagar) pode ser obtida com investimentos em ativos que são isentos, como LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas (projetos de infraestrutura). Os ganhos com ações também podem ser isentos, se as vendas ficarem abaixo de R$ 20 mil em um mês.

O problema é a escolha desses papéis, que contêm riscos importantes, em especial o risco de crédito (calote), quando falamos dos títulos de renda fixa. Mesmo com as ações, as escolhas são um desafio para qualquer investidor.

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Uma forma de reduzir os riscos é fazer os investimentos contando com profissionais especializados, como gestores e consultores de valores mobiliários. Eles podem ser contratados por meio de estruturas como fundos de investimento, carteiras administradas ou mesmo com sugestões de carteiras (no caso dos consultores CVM) diretamente em sua corretora. Seus serviços normalmente são cobrados por uma porcentagem dos valores, o que aumenta bastante o alinhamento de interesses e elimina aquela venda de produtos com ganhos de rebates, que incentiva a constante troca de produtos. Importante mencionar que, no caso de fundos de ações, não existe a isenção para vendas abaixo de R$ 20 mil e essa vantagem se perde nessa estrutura, embora permaneça válida nas demais, como nos fundos incentivados.

Já quanto à segunda medida (pagar o mínimo), é fundamental que o investidor entenda as alíquotas que irá pagar em cada veículo de investimento (não isento, claro).

A maior parte dos investimentos é tributada pela tabela regressiva, que chega a 22,5% para resgates abaixo de seis meses (180 dias) e cai ao longo do tempo, com o mínimo de 15% após dois anos (720 dias). O segredo aqui é deixar os investimentos que se enquadrem nessa tabela sempre acima de dois anos para atingir a menor alíquota.

E a terceira medida é diferir o máximo. Se na segunda medida, o prazo era importante, aqui ele é mais do que isso: é fundamental!

Desta forma, seu dinheiro crescerá mais se você deixar seus investimentos pelo maior prazo possível, sem excessos de giro de carteira, de maneira a pagar o imposto apenas nos resgates, que podem durar décadas.

Aqui, títulos como o Tesouro RendA+ se dão bem, porque apresentam prazos longos, e os pagamentos são feitos de forma parcelada ao longo de 20 anos, com o IR sendo cobrado apenas a cada pagamento.

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Da mesma forma com as ações e os ETFs, que só terão impostos cobrados no resgate. Aqui, os fundos de investimento sofrem ainda mais com o come-cotas (menos o de ações e os incentivados) que é um mecanismo de adiantamento do imposto a pagar. A receita cobra o imposto duas vezes por ano, ou seja, a cada seis meses o IR já é descontado. Isso não aparece nos documentos sobre os retornos dos fundos, mas impactam no seu patrimônio.

Sobre essa perspectiva, os fundos de ações podem ser uma boa opção, uma vez que o pagamento também é feito apenas no resgate, mas não há come-cotas, permitindo ainda ao gestor fazer ajustes na carteira ao longo dos anos sem nenhuma tributação, o que não aconteceria se o investidor fizesse diretamente com os papéis.

Utilizando essas três medidas, você vai economizar na hora de pagar Imposto de Renda, mas existe uma forma ainda mais eficiente, caso você consiga aproveitar a vantagem: a previdência privada.

Os fundos de previdência não têm come-cotas, o que por si só já é uma boa vantagem. Além disso, você pode escolher entre duas tabelas diferentes de Imposto de Renda: em uma delas (progressiva), os resgates sofrem a mesma tributação do seu salário e são indicadas apenas para quem possui renda tributável baixa, incluindo aí os futuros resgates. A outra (regressiva) reduz a alíquota ao longo do tempo e, para prazos acima de dez anos, ela é de apenas 10% —a menor alíquota para investimentos não isentos.

Assim, já temos duas vantagens: sem come-cotas e alíquotas que podem chegar a 10% no longo prazo. Mas ainda há mais uma: a maior vantagem tributária de todas!

Quem possui renda tributável, como salário ou renda de aluguéis, sabe que a mordida do Leão é pesada e pode chegar a 27,5% sobre uma boa parte das receitas. Nesses casos, a previdência, nos planos PGBL, oferece uma solução incrível: você pode abater na sua declaração de Imposto de Renda, como despesa dedutível, o que investiu em PGBL no ano anterior, até o limite de 12% da sua renda bruta tributável.

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Mas, o que isso significa? Significa que sua base de cálculo será menor, e você pagará menos Imposto de Renda na hora. A cada R$ 100 mil de renda tributável anual, você pode investir R$12 mil e pagará R$ 3.300 a menos.

É importante entender, no entanto, que isso não é uma isenção, mas, sim, um diferimento, ou seja, quando houver o resgate você vai pagar o imposto que deixou de ser pago hoje. Mas você se lembra que uma das estratégias é pagar o mais no futuro possível? Então. Aqui o seu dinheiro vai ficar rendendo por anos (ou décadas) e só depois você irá pagar.

Além disso, você pode ter deixado de pagar 27,5% de alíquota e, ao resgatar, talvez pague apenas 10%. Eu não disse lá no começo que é como se o governo te devolvesse uma parte do imposto que você já teria pago de qualquer forma? É isso!

Esse tema da previdência tem algumas complexidades, e é importante que você fale com um especialista antes de investir, mas as oportunidades são gigantescas e, por isso, voltarei a esse tema nos próximos meses.

Por agora, aproveite essas sugestões e lembre-se sempre de analisar o impacto do Imposto de Renda na hora de investir, porque ele pode fazer uma enorme diferença no crescimento de seu patrimônio futuro.

Boas escolhas!

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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