Com a Selic em queda, como manter (e até aumentar) o retorno da carteira
A taxa básica de juros teve mais uma queda de 0,5 ponto percentual na última reunião do Copom, e as previsões são que essa queda continue por algum tempo. Se chegamos a ter uma taxa de 13,75% há pouco tempo, que garantia um retorno nominal de mais de 1% ao mês sem praticamente nenhum risco, eles não são mais assim —e tendem a cair ainda mais.
A previsão do Relatório Focus (15/3/2024) era de uma Selic de 9% ao fim desse ano e ainda menos nos anos seguintes. É claro que se trata de uma projeção, mas esse é o consenso do mercado sobre o assunto, o que levaria o retorno mensal para algo em torno de 0,7% ao mês, ou uma queda de 33% sobre a situação anterior —nada desprezível, não é mesmo?
Se você pretende manter os retornos médios de sua carteira sem correr riscos, tenho uma má notícia. Com essa queda, você terá que abrir mão de algo, o que significa aumentar os riscos. Mas não se preocupe tanto, já que aumentar os riscos não significa, necessariamente, arriscar a perder tudo (ou boa parte) do seu investimento.
Como remanejar seus investimentos
A lógica aqui consiste em mudar alguns dos ativos da sua carteira, reduzindo a exposição aos ativos pós-fixados de baixo risco (como Tesouro Selic ou CDB-DI de grandes bancos), por outros, com retornos mais elevados, que compensem essa queda. A matemática é a seguinte: imagine que agora sua carteira não renda mais 10,75% ao ano (patamar atual da Selic), mas, sim, 9% ao ano. Para compensar essa queda, você precisaria alocar um percentual da carteira em ativos que tenham expectativa de retorno acima dos 10,75% para que, na média, mantenha o que tinha (ou ainda mais, a depender de seu perfil e objetivos).
Por exemplo: se conseguir um investimento que tenha como expectativa de retorno 12,50% ao ano, precisará alocar metade de sua carteira nele para compensar. Se conseguir 14,8%, precisará alocar 30% de sua carteira. Se conseguir 17,75% precisará alocar 20% e se conseguir 26,5% precisará alocar apenas 10%.
Quais são as possibilidades de investimentos
Enquanto lê, você pode estar pensando: "Mas quais os ativos poderiam me entregar esses retornos e quais os riscos envolvidos?". Boa reflexão! Vamos então às respostas com as opções.
Para alcançar algo em torno de 12,5% ao ano, você pode manter os ativos em renda fixa tradicional, mas precisará sair da situação de mínimo risco de crédito e máxima liquidez que tem hoje. Assim, poderá optar por ativos de crédito privado (CRI/CRA, LCI/LCA, CDBs de bancos menores, debêntures, etc.). Esses ativos tenderão a te entregar um retorno maior, e hoje você consegue taxas dessa ordem de grandeza, mas você precisa conhecer os riscos: nesse caso, o principal é o risco de crédito, e com esse você tem que tomar cuidado. É aquele risco do emissor do título te dar um calote, e isso é tudo o que o investidor quer evitar.
Para reduzir esse risco, você deve conhecer muito bem o emissor do título e, caso seja uma instituição financeira, saber que existe o FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que garante até R$ 250 mil em caso de inadimplência. Além disso, você também deverá se atentar à liquidez, que, na maior parte dos casos, exigirá que os recursos fiquem "travados" por alguns anos. Importante lembrar que os ativos isentos têm retornos menores porque você, investidor pessoa física, não pagará Imposto de Renda, equilibrando o retorno líquido.
Já para retornos esperados entre 13% e 25% ao ano, temos que pensar em renda variável, seja no Brasil, seja no exterior, neste caso com a possibilidade de o câmbio ajudar no retorno (embora possa atrapalhar também —em investimentos nada é 100% certo). Aqui os riscos são predominantemente sobre a imprevisibilidade desses retornos (além do câmbio, se forem no exterior), que podem ser maiores do que isso, mas podem ser menores e até negativos. Isso significa maior complexidade na alocação, preferencialmente contando com profissionais para auxiliá-lo, e também um horizonte de prazo mais longo (em geral, muito mais longo) embora haja liquidez.
Para além desses patamares de retorno esperado, as opções são os investimentos alternativos, como os FIPs (Fundos de Investimento em Participações), que exigem abrir mão da liquidez por muitos anos (em geral, algo em torno de oito anos) e apostam na valorização de empresas que ainda não estão na Bolsa, o que também aumenta os riscos.
Outras opções incluem as criptomoedas, que entregam uma liquidez maior, mas a oscilação dos retornos é muito alta e, nesse caso, uma decisão de desinvestimento no momento errado pode significar uma perda extremamente pesada.
E, por fim, uma modalidade que vem crescendo é o investimento em ativos judiciais, que tendem a entregar algo entre 20% e 30% ao ano. Aqui os riscos são o de liquidez, já que os ativos costumam ter uma expectativa em torno de três a cinco anos, mas com uma diferença: o prazo é estimado e pode tanto adiantar quanto atrasar, embora quando atrase eles costumem ser corrigidos pela Selic, o que ameniza o efeito. Aqui vale ter muita atenção sobre o ativo, sua origem e quem é o fornecedor, mas uma vantagem é que, feitas as devidas diligências, não há o risco de crédito, já que o emissor do título é um ente público, como o governo federal e, assim, não pode "dar calote".
Concluindo, aumentar os retornos exige assumir riscos, e o ideal é sempre ter uma carteira diversificada em riscos e em retornos. Quais riscos e em que quantidade é a grande questão.
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