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Saiba como "turbinar" sua aposentadoria

Vale a pena entender o motivo desse assunto ser tão importante, antes de começarmos. O sistema público voltado para a aposentadoria no Brasil, o INSS, apesar de muito abrangente, tem problemas financeiros evidentes, cujas raízes estão em seu próprio modelo, o de repartição, no qual as pessoas contribuem para pagar quem está recebendo e, ao se aposentarem, receberão os recursos de quem estiver contribuindo na época.

Isso só funciona se muitas pessoas estiverem contribuindo e poucas estiverem recebendo, condições típicas de países com populações mais jovens. No entanto, os brasileiros estão envelhecendo, como média da população, o que torna esse sistema inviável. Assim, com o tempo, o sistema se transformará em um grande programa de renda mínima. Isso não é um problema, se você tem uma renda por volta de um a dois salários mínimos. No entanto, se suas pretensões são maiores do que isso, vale pensar em quais estratégias podem ser pensadas e executadas para ter o estilo de vida que quer, em uma fase da vida na qual sua geração de renda irá cair ou mesmo deixará de existir.

Assim, como você pode aumentar suas chances de ter uma longevidade financeiramente tranquila? Vou começar pelo mais importante: não cometa grandes erros. O ponto aqui é que, se você tiver um retorno um pouco menor do que imagina ao longo de muito tempo, o resultado será pior, mas você provavelmente conseguirá se adaptar. No entanto, se em algum momento você cair em um golpe e perder boa parte de seu patrimônio ou mesmo se fizer um investimento muito ruim, alavancado, por exemplo, e ele der errado, existe uma boa chance de que suas finanças nunca se recuperem e os seus sonhos continuarão sendo apenas isso: sonhos. A mensagem aqui é: É muito mais importante evitar grandes perdas do que tentar altos retornos.

Uma vez que você tenha entendido essa importante questão, vamos à parte prática: como turbinar sua aposentadoria. Existem três fatores fundamentais que você deve levar em conta: quanto dinheiro guardar, por quanto tempo guardar e onde guardar.

A primeira questão é a mais fácil de falar e a mais difícil de fazer. A sugestão é separar no mínimo 10% de sua receita para investir na sua longevidade. Aqui, quanto mais, melhor, mas não se esqueça de que é preciso viver o presente também, e uma vida equilibrada costuma trazer maiores níveis de felicidade.

Uma boa estratégia para que esse percentual seja adequado é aumentá-lo sempre que tiver um aumento na renda, de forma que parte do aumento se refletirá em seu estilo de vida atual, mas não todo, aumentando os recursos para o futuro sem abrir mão de viver o hoje. Além disso, sempre que possível, cheque suas despesas e corte tudo aquilo que achar um desperdício, ou seja, aquilo que paga, mas não usa ou aquilo que paga mais caro do que o valor recebido, na sua percepção.

Por fim, separe percentuais bem maiores de renda extras, como bônus ou PLRs que venha a receber e invista nesse objetivo. Com essas medidas, você vai ter um fluxo constante e crescente de recursos visando seu conforto no futuro.

A segunda é a mais importante de todas, e ela não precisa ser definida agora, ao menos não com exatidão. Quando falamos de investimentos, o fator único mais importante é o tempo, dado o fenômeno dos juros compostos.

Nesse sentido, deixo uma reflexão para além das finanças: na semana em que escrevo esse texto faleceu um dos maiores empresários da história do Brasil —Abílio Diniz. Além de sua incrível carreira empreendedora, o que mais me chamou a atenção na sua biografia foi a sua energia, seja no campo do trabalho, seja no lazer. Todos teremos o mesmo destino ao final, mas me parece fazer muita diferença a questão sobre como chegaremos lá. O senhor Abílio Diniz faleceu aos 87 anos, mas poucas semanas antes estava esquiando e há não muito tempo apresentou um ótimo programa de entrevistas.

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A questão aqui é conseguir ter um estilo de vida saudável, que te permita escolher até que idade pretende gerar recursos financeiros a partir de seu tempo e, se necessário, esticar um pouco esse prazo. Com isso, os sacrifícios de hoje podem ser menores, porque o tempo (e os juros compostos) fará boa parte do trabalho para você, dado o tempo que você forneceu porque pode fazer isso.

Agora, vamos à terceira e última parte: onde guardar, ou melhor, onde investir? Como temos tempo para esse tipo de investimento, você pode abrir mão de um pouco de liquidez e aceitar algumas oscilações ao longo do caminho. Isso priorizará o retorno, que é muito importante em prazos mais longos. Então, onde encontrar retornos maiores, sem correr grandes riscos?

A primeira indicação talvez não esteja disponível para você, mas se estiver não perca a chance. Planos de previdência nos quais a sua empresa também contribui (até determinado limite). Nesse caso, invista até o limite da contrapartida, porque é um investimento que te dá 100% de retorno na hora (na maior parte dos casos, quando a contrapartida é 1:1). Escolha a melhor opção de fundo conforme o seu perfil, mas tente fugir daqueles muito conservadores, com 100% em renda fixa. Aceite um pouco de oscilação para buscar maiores retornos de longo prazo.

A próxima indicação é mais abrangente, embora também não atinja todo mundo. Planos de previdência PGBL, que permitem abater as contribuições até o limite de 12% de sua renda bruta tributável. Isso significa que você vai deixar de pagar impostos que pagaria hoje, e esse valor ficará rendendo para você até que resgate, o que pode acontecer décadas no futuro, te entregando um grande retorno sobre um dinheiro que você nem teria se não usasse esse produto. Além disso, a alíquota do imposto, que hoje pode ser de 27,5%, poderá chegar a apenas 10% no futuro.

Ele é indicado para todos que possuem renda tributável e cujas deduções (somatória dos gastos com contribuição do INSS, saúde, educação, dependentes e o próprio PGBL) sejam maiores do que o desconto simplificado. Se você ganha mais de R$ 8.500 ao mês e é CLT ou funcionário público, provavelmente se enquadrará nessa possibilidade. Se esse for o caso, contribua até o limite de 12% para obter o máximo benefício. Ah, lembre-se de que esse limite de 12% pode ter sido parcialmente utilizado pela previdência da empresa, sobre a qual falamos na primeira indicação, e você não deve ultrapassá-lo ou pagará imposto de renda duas vezes.

Uma vez definido o valor a ser aportado para redução do Imposto de Renda, escolha um bom fundo de previdência, de gestores com histórico sólido em diversas fases econômicas diferentes e, sempre, segundo o seu perfil. Os planos de previdência também possuem algumas vantagens sucessórias nada desprezíveis, que acrescentam valor ao veículo.

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Outro veículo de investimentos que foi "feito para a aposentadoria", mas que não tem o devido mérito é o título do Tesouro Renda+. Com um pouco mais de um ano no mercado, ele possui apenas 73 mil investidores (a previsão do Tesouro era de 3 milhões), mas, apesar disso, ele possui características bastante interessantes, como a possibilidade de programar aportes mensais e escolher entre várias datas para começar a receber a renda. Aliás, esse talvez seja o seu grande diferencial: o desinvestimento. Ele foi feito pensando na geração de uma renda por 20 anos a partir de uma determinada data.

No momento em que escrevo esse texto, as datas de início da renda dos títulos disponíveis começam em 2030 e seguem com opções a cada cinco anos até 2065. Na data escolhida, o Tesouro passa a pagar uma renda pelos próximos 240 meses. Como existem muitas datas, é possível montar fluxos sob medida, com valores maiores ou menores em diferentes períodos, segundo as suas necessidades específicas.

Hoje, os retornos giram em torno de 5,7% ao ano, mais correção pela inflação (IPCA), o que não é nada desprezível, levando-se ainda em consideração que os títulos públicos não possuem o risco de crédito (calote). Essa praticidade para guardar e para receber, além de baixíssimos riscos e bom retorno, tornam esse produto bastante atrativo.

Por fim, vale colocar um pouco de "tempero" nessa carteira, uma "pimentinha". Como o objetivo é de longo prazo, em geral, e sempre respeitando o seu perfil como investidor, vale a pena colocar uma parte de seu patrimônio em uma carteira diversificada de ações (ou mesmo ETFs de renda variável), uma parte em investimentos fora do país, majoritariamente em renda variável, e outra parte nos chamados "investimentos alternativos", como o ramo imobiliário (podem ser fundos imobiliários também) e mesmo setores menos conhecidos, como ativos judiciais (os famosos precatórios).

Todos esses tipos de ativo farão com que você abra mão de algo, seja da pouca oscilação da carteira, seja da liquidez dos investimentos, mas, em compensação, poderão trazer retornos muito maiores do que aqueles sobre os quais falamos até então. Mas lembre-se de que eles devem ser usados como mencionei no início do parágrafo: como "temperos". Na medida certa realçam as melhores qualidades da carteira, aumentando o retorno sem comprometer o nível adequado de risco, mas se exagerar podem colocar tudo a perder.

Como o perfil e os objetivos de cada pessoa são diferentes, os planos e carteiras são únicos e, assim, minha última sugestão é que, ao montar o seu, busque auxílio com profissionais experientes, certificados, de sua confiança e alinhados aos seus interesses.

Opinião

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