Inflação caiu; como ficam seus investimentos na poupança, Tesouro ou CDB?
Sabia que os seus investimentos podem ter sido afetados, de uma forma ou de outra, pela deflação registrada no Brasil?
Em julho, o principal índice de preços do país, o IPCA, teve uma queda de 0,68%. Além disso, diversos analistas acreditam que haverá uma nova queda em agosto.
Abaixo eu explico como isso prejudica ou favorece aplicações como poupança, Tesouro Direto, CDB, LCA e LCI.
Olhe sempre a rentabilidade real
Antes de começar, é preciso ter em mente que a rentabilidade de um investimento pode ser considerada em termos absolutos ou pode descontar a inflação. A primeira forma é chamada de rentabilidade nominal, e a segunda, real.
Se um investimento rendeu 2%, essa é a sua rentabilidade nominal. Mas se, no período, a inflação foi de 1,5%, dizemos que a rentabilidade real foi de 0,5%.
No mais das vezes, o que interessa, de verdade, para o investidor é a rentabilidade real. É ela que mede se você ganhou ou perdeu poder de compra.
Agora, vamos ver caso a caso como as aplicações se comportam em um cenário de deflação.
Poupança
Se você tem dinheiro na poupança, saiba que ele nunca diminui. Nem com inflação, nem com deflação. O que acontece é que, frequentemente, a poupança tem uma rentabilidade abaixo da inflação.
Em junho, por exemplo, ela rendeu cerca de 0,69%, enquanto a inflação foi de 0,67%. Ou seja, naquele mês, se você tinha dinheiro na poupança, ela apenas fez com que você não perdesse poder de compra.
Já em julho, o rendimento da poupança foi quase igual, cerca de 0,71%. Mas, como tivemos uma deflação de 0,68%, na prática quem tinha dinheiro na caderneta teve um ganho de mais de 1% no seu poder de compra.
Nota sobre a inflação: o IPCA, como qualquer índice de preços, é uma referência genérica. Os preços no supermercado que você frequenta podem ter subido mais do que a média, por exemplo.
Por conta disso, não encare esse ganho de 1% no poder de compra como algo preciso. O essencial é saber que a média dos preços no país caiu, enquanto a rentabilidade da poupança subiu.
Tesouro Selic
O Tesouro Selic, como diz o nome, acompanha a taxa básica de juros do país, a chamada Selic. Como a taxa Selic não diminui com a deflação, o rendimento desse título não é prejudicada a curto prazo.
Em julho, o Tesouro Selic rendeu cerca de 0,8%, já descontado o Imposto de Renda. Assim, de considerarmos o cenário de deflação, o poder de compra de quem aplicou nesse título aumentou em torno de 1,5%.
Se a deflação persistir por muito tempo, é possível que o Banco Central volte a reduzir os juros, reduzindo a rentabilidade do Tesouro Selic. Mas esse cenário é pouco provável no momento.
Ainda assim, mesmo se o BC reduzisse fortemente a taxa de juros, saiba que você não teria rentabilidade negativa com o Tesouro Selic; teria apenas uma rentabilidade menor do que a atual.
Tesouro Prefixado
O cenário de deflação é o melhor dos mundos para quem aplicou no Tesouro Prefixado. Por definição, a rentabilidade nominal não muda.
Se você investiu nesse título quando a rentabilidade estava em 12% ao ano, não importa o que aconteça com o IPCA, seu dinheiro vai render 12% ao ano, menos o Imposto de Renda.
Se o IPCA subisse 13%, por exemplo, você teria uma rentabilidade real negativa. Mas, por outro lado, quando temos deflação, a sua rentabilidade real aumenta.
Tudo isso só vale se você mantiver o título até a data de vencimento. Se resgatar antes, o seu ganho vai depender de como está a procura pelo seu título no mercado.
Por conta disso, não faz sentido calcular qual teria sido a rentabilidade real desse título em julho, especificamente. O importante é saber que, quanto mais baixa for a inflação acumulada até a data de vencimento, melhor para o investidor.
Tesouro IPCA
Ao contrário do que muitos pensam, a deflação melhora a rentabilidade real do Tesouro IPCA. Como esse título acompanha a inflação, em geral as pessoas acham que, caso o IPCA fique negativo, o rendimento desse título vai piorar.
Em termos nominais, sim, há uma piora; mas o rendimento real fica maior. Isso acontece porque, em caso de deflação, não há Imposto de Renda sobre o papel.
Por exemplo, hoje esse título está rendendo cerca de IPCA mais 0,45% ao mês. Se a inflação fica em 1% no mês, a rentabilidade real fica em 0,23%, já descontado o Imposto de Renda.
Já em um caso de deflação de 0,68%, como ocorreu em julho, a rentabilidade bruta ficaria negativa (-0,23%), mas a real ficaria positiva em 0,45%.
CDB, LCA e LCI
Os investimentos de renda fixa como CDB, LCA e LCI seguem a mesma lógica do Tesouro Direto.
Se o CDB, a LCA ou a LCI for pós-fixado, ele terá um impacto equivalente ao do Tesouro Selic. Já se eles forem prefixados, seguirão a lógica do Tesouro Prefixado. Se forem indexados ao IPCA, acompanharão o Tesouro IPCA.
Resumindo
Se olharmos para a rentabilidade nominal, temos a impressão de que os investimentos indexados ao IPCA, como o Tesouro IPCA, teriam uma perda. Ao mesmo tempo, os pós-fixados e o prefixados não teriam mudança.
Na prática, no entanto, quando olhamos a rentabilidade real, nenhuma aplicação de renda fixa é prejudicada pela deflação, se compararmos a um cenário com inflação. Vale dizer que as prefixadas, particularmente, tendem a ter um ganho mais expressivo que as demais, em épocas de quedas de preços na economia.
Alguma dúvida?
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