Sou autônomo e não tenho salário fixo: como investir e ter dinheiro sempre?
Coincidentemente, dois clientes meus de consultoria financeira disseram esta semana que, por serem profissionais autônomos, têm uma renda muito instável. Em um mês, podem ganhar o suficiente para viver muito tempo. Mas podem ficar meses sem entrar um só centavo em caixa.
Na coluna de hoje, explico três aspectos que um trabalhador autônomo (como eu, por sinal) deve levar em conta para ter conforto sempre, inclusive nos tempos sem renda.
1. Tenha uma reserva para o dia a dia
Reserva de emergência todo mundo deve ter, não apenas trabalhadores autônomos ou com renda instável, mas no caso destes existe a necessidade de um outro tipo de colchão, a reserva do dia a dia.
A reserva de emergência nada mais é do que um valor aplicado em uma modalidade de baixo risco, liquidez diária e, de preferência, resgate imediato.
Uma opção adequada de reserva de emergência é um título do Tesouro Direto chamado Tesouro Selic. Trata-se do investimento mais conservador do país, mais seguro até do que a poupança (e rende bem mais).
Qual é a diferença entre a reserva de emergência e a do dia a dia?
O assalariado, se for uma pessoa regrada nos gastos, raramente fica no vermelho. Sendo assim, sua reserva de emergência é de emergência de verdade: só é resgatada em casos excepcionais.
Já o autônomo tende a usar frequentemente uma parte da sua reserva. Muitos chamam esse valor reserva de emergência, mas não acho que deveria ter esse nome, pois resgatar parte dela faz parte da rotina. Essa "caixinha" eu chamo de reserva do dia a dia.
Vamos supor que, este mês, o autônomo pegou um trabalho bom e engordou a sua conta bancária. Nos próximos meses, talvez ele não tenha tantas entradas e, assim, acabe reduzindo a reserva.
Portanto, o ideal é fazer a seguinte: primeiro, verifique qual foi o período em que você ficou mais tempo sem renda, ou com renda baixa. Um mês? Dois meses? Um ano?
Tem autônomo que nunca chega a ficar um mês inteiro sem renda, mas fica um ou mais meses com entradas insuficientes para cobrir os gastos rotineiros, sendo obrigado a usar parte da reserva. Esse tipo de profissional precisa tentar lembrar quantos meses, por ano, ele fica com renda insuficiente.
De posse desse dado, estime quanto você precisa gastar por mês, em média. É importante que esse cálculo seja realista e inclua um certo nível de lazer. É melhor errar para mais do que para menos. Eu, particularmente, sempre deixo uma folga na minha estimativa de gastos pessoais.
Tendo levantado o número de meses que você fica sem renda (ou com renda baixa) e estimado o gasto mensal, multiplique um pelo outro. Se o seu período mais longo sem renda foi de seis meses e se o seu gasto por mês for de R$ 5.000, multiplique seis por R$ 5.000, que dá R$ 30 mil.
Essa seria a sua reserva de emergência? Na minha visão, não. Reserva de emergência é para emergência, e isso é uma reserva para o seu dia a dia.
Antes de continuar, um parênteses: não leve essa multiplicação ao pé da letra. Vamos supor, por exemplo, que o seu tempo máximo sem renda foi de seis meses, mas isso foi há muitos anos; hoje, mais qualificado e com uma rede de contatos maior, você raramente fica dois meses sem renda.
Nesse caso hipotético, você pode achar muito a reserva de R$ 30 mil. Talvez R$ 15 mil sejam o bastante. Então, use essas orientações com bom senso, de forma adaptada para a sua realidade, que, no fundo, é única.
Voltando agora ao raciocínio. Você definiu, no primeiro exemplo, que terá uma reserva de R$ 30 mil. Nesse caso, assim que obtiver um trabalho, vá colocando um valor, dentro do possível, no Tesouro Selic, até somar R$ 30 mil.
Esse valor é a sua reserva do dia a dia. É ela que garante que você tenha conforto material sempre.
2. Tenha também uma reserva de emergência separada
Além da reserva do dia a dia, você, como qualquer trabalhador, precisa também de uma reserva de emergência. Aquela que só vai ser resgatada em situações excepcionais, como no caso de você precisar fazer uma cirurgia não coberta pelo seu plano, pagar um curso importante etc.
Portanto, uma vez que o autônomo juntou os R$ 30 mil (para ficarmos naquele exemplo inicial) é hora de começar a colocar dinheiro na reserva de emergência. O dinheiro pode até ficar na mesma aplicação (Tesouro Selic).
Mas, por uma questão de organização, se o valor estiver dividido em duas instituições financeiras diferentes, melhor. Por exemplo, se você tem conta em dois bancos, deixe a reserva do dia a dia em um deles (o que você mais usa), e a normal, em outro. Isso dá clareza e não mistura as duas caixinhas.
3. Procure um seguro que faça sentido na sua profissão
Sendo autônomo, o que vai acontecer se você precisar parar de trabalhar por um tempo devido a uma doença, por exemplo?
Não tendo seguro, você vai gastar da sua reserva imediata. Só que a reserva imediata não é para isso, é para você manter o seu nível de consumo nos tempos normais, em que está prospectando clientes.
Você ainda poderia pensar: "Então vou tirar da reserva de emergência normal. Afinal, uma doença é uma emergência".
Nem sempre. Um assalariado CLT, quando fica doente, é afastado do trabalho e, no fim do mês, recebe o mesmo salário de sempre, mantendo a reserva de emergência intacta.
Você, autônomo, sabe muito bem que, se não trabalhar, não ganha. Para preservar a sua reserva, tanto a normal, quanto a imediata, um seguro pode ajudar.
Não se esqueça de que estresse, depressão, ansiedade e burnout são males muito comuns que podem acabar impedindo a pessoa de trabalhar. Tendo um seguro que cubra esse tipo de setuação, você poderá recuperar a sua saúde mental sem ter que ver a sua reserva escoando pelo ralo.
4. Tenha um objetivo claro de longo prazo
Agora entraremos em um aspecto mais psicológico do que matemático-financeiro. Se você tem um plano de longo prazo bem estruturado, você tem um incentivo a mais para cuidar bem das suas reservas.
Por exemplo, digamos que você investe regularmente com o objetivo de aposentadoria. Vamos dizer, ainda, que você tenha isso tão bem planejado, que sabe que nos meses em que não investir terá uma perda futura.
Nesse caso, você tende a fazer de tudo para não gastar a reserva do dia a dia além do planejado, pois isso afetaria o seu padrão de vida no futuro.
Assim, você evita uma prática que, acredito eu, é muito comum entre autônomos: ter uma reserva, mas sem clareza se ela é maior ou menor que o necessário, sem definir se é para o dia a dia, para emergência ou para aposentadoria.
Com isso, a tendência é de que, quando você for escolher um restaurante, um hotel ou um produto qualquer, entra na onda do "eu mereço" muito facilmente. E acabe dilapidando a sua reserva. No fim, você chega aos 50, 60 ou 70 anos de idade com uma reserva que você não sabe se é para uso imediato, para emergência ou para aposentadoria. No fundo, é para tudo e para nada.
Resumindo
Para resumir o que foi dito, um trabalhador que tiver clareza da sua reserva do dia a dia, da sua reserva de emergência e da sua reserva para longo prazo terá muito mais chance de conseguir manter um padrão de consumo confortável ao longo de toda a vida.
A reserva imediata e a de emergência podem ficar no Tesouro Selic ou outra aplicação de baixo risco e liquidez diária. Já a de aposentadoria pode tomar um risco maior (como fundos imobiliários ou ações, dependendo do seu perfil) ou ficar em um investimentos de longo prazo, tais como Tesouro IPCA, Tesouro Renda+, Tesouro Prefixado ou CDBs, LCAs e LCIs sem liquidez.
Alguma dúvida?
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