Sílvio Crespo

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Reportagem

Vitória de Trump pode afetar investimentos dos brasileiros; veja como lidar

A vitória do republicano Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos representa uma mudança na visão de mundo da Casa Branca que pode afetar a economia dos outros países, incluindo o Brasil.

Na coluna de hoje eu explico o impacto da eleição de Trump nos principais investimentos dos brasileiros e o que fazer diante desse cenário.

Cotação do dólar

Trump defendeu diversas vezes o aumento do protecionismo em relação à China. Caso ele concretize essa promessa, os produtos chineses vão chegar mais caros nos EUA, pressionando a inflação.

Com risco de aumento da inflação, aumentam as chances de que o banco central americano eleve sua taxa básica de juros, ou seja, de que os títulos públicos dos EUA passem a render mais.

O possível aumento da rentabilidade dos títulos americanos torna esses investimentos mais atraentes. Como é preciso ter dólares para investir nesses títulos, o fato de eles ficarem atraentes tende a gerar um aumento da demanda pela moeda americana, fazendo-a se valorizar ante as moedas de outros países.

No caso específico do Brasil, já existia um movimento de alta do dólar devido a fatores internos, como o aumento da percepção de risco dos investidores internacionais em relação à economia brasileira. Com isso, a tendência é que o real seja mais afetado pela alta do dólar do que as moedas de outros países.

Inflação e juros

A alta do dólar, se ocorrer, tende a aumentar a inflação no Brasil, pois ela encarece os produtos importados.

Por sua vez, a possibilidade de aumento da inflação faz subirem as chances de o Banco Central brasileiro elevar nossa taxa básica de juros, a Selic.

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Assim, resumidamente, a vitória de Trump pode gerar impacto na economia brasileira, em primeiro lugar, com uma alta do dólar e, consequentemente, com um possível aumento da inflação ou da taxa Selic.

Veja agora como esse cenário pode afetar os principais investimentos dos brasileiros.

Títulos prefixados e indexados à inflação

A expectativa de alta da taxa Selic afeta os investimentos de renda fixa de diferentes formas.

Se você já tem investimentos em títulos pós-fixados e indexados à inflação, sua rentabilidade pode cair ou ficar até negativa por um tempo. Caso resolva resgatar esses títulos, você pode ter prejuízo. Mas, se aguardar até a data de vencimento, você receberá exatamente a rentabilidade prevista, sem perdas.

Se você não sabe se os seus investimentos são prefixados ou indexados à inflação, basta ver o nome do título no extrato do seu banco ou corretora. Em geral, os prefixados têm essa palavra no nome, como o Tesouro Prefixado. Já os indexados à inflação costumam ter "IPCA" no nome, que é a sigla do principal indicador de inflação do país. É o caso do Tesouro IPCA.

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Portanto, se você tem um título com a palavra "prefixado" ou com a sigla "IPCA" no nome e ele está com rentabilidade negativa, não se preocupe. Basta esperar até o vencimento. Se não puder aguardar, infelizmente, você corre o risco de ter alguma perda.

Isso vale para quem já tem esses títulos. Mas e para investir agora, vale a pena?

Na minha visão, esses títulos nunca devem ser escolhidos pelo momento da economia, e sim de acordo com a sua necessidade.

Se você está investindo a longo prazo, quer uma aplicação de baixo risco que proteja seu patrimônio da inflação, a resposta é que, sim, vale a pena um título indexado à inflação. Desde que você tenha certeza de que não precisará resgatá-lo antes do vencimento.

Impacto em títulos pós-fixados

O Tesouro Selic é e continuará sendo o investimento mais seguro do Brasil. Se você tem esse papel, não precisa fazer nada.

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Em caso de alta da taxa Selic, esse título terá um rendimento ainda maior do que o atual.

O mesmo tende a acontecer com os CDBs, LCAs e LCIs pós-fixados. Para saber se um investimento é pós-fixado, basta conferir se a rentabilidade é dada como uma porcentagem do CDI. Por exemplo, um CDB que renda 100% do CDI é um CDB pós-fixado.

Fundos imobiliários

Os fundos de investimento imobiliário (FIIs) tendem a ser afetados negativamente pela perspectiva de alta da taxa básica de juros.

Quando existe expectativa de aumento da Selic, as aplicações de renda fixa ficam mais atraentes, de modo que investimentos mais arriscados, como os FIIs, acabam sofrendo uma queda no preço.
Assim, para quem tem FIIs, se for resgatar agora, é bem possível que acabe tendo um prejuízo. Mas, para quem investe a longo prazo e com objetivo de dividendos, essa queda não é prejudicial. Ao contrário, pode ser uma oportunidade para aproveitar que estão mais baratos e comprar mais cotas.
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Bolsa de Valores

No caso das ações negociadas na Bolsa de Valores, deve-se levar em conta que existem fatores caminhando em direções contrárias. Se, por um lado, a possível alta da Selic força a Bolsa para baixo, por outro a alta do dólar pode favorecer empresas brasileiras exportadoras, como a Vale. Já as que dependem fortemente de importação podem sofrer um impacto negativo.
Dessa maneira, diferentes segmentos da Bolsa podem reagir de forma oposta, de modo que, na média, o mercado de ações brasileiros não suba nem caia muito. Antes de tomar qualquer decisão de compra ou venda, é necessário analisar caso a caso.

Afinal, o que fazer?

Em relação aos investimentos de renda fixa que você já tem, não é preciso fazer nada. Se algum ficar com rentabilidade negativa, basta esperar até o vencimento.

Se está pensando em investir em renda fixa, não há motivo para mudar de ideia. Eles podem até aumentar a rentabilidade nos próximos meses.

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No caso de investimentos em fundos imobiliários, apenas esteja ciente de que uma queda de preços é esperada e, para investidores de longo prazo, pode ser uma oportunidade de novos investimentos. Eu tenho boa parte do meu patrimônio em FIIs e não pretendo vender nenhum. Ao contrário, é possível que eu compre cotas de alguns fundos para aproveitar o preço baixo.

No entanto, antes de tomar qualquer decisão sobre FIIs e ações, esteja ciente dos riscos, ou seja, de que você pode perder uma parte considerável do valor aplicado, com ou sem Trump.

Sobre o autor

Sílvio Crespo é sócio e diretor da Grana Capital, aplicativo com ferramentas para investidores pessoas físicas.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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