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OPINIÃO

Lucro da Vale cresce 33%, mas não agrada ao mercado; o que aconteceu?

05/11/2021 04h00

A Vale teve lucro líquido de US$ 3,8 bilhões no terceiro trimestre deste ano, alta de 33% em relação ao mesmo período de 2020. Mas o mercado se frustrou porque esperava um lucro maior.

O que isso significa para os investidores de ações da empresa? É uma oportunidade de comprar os papéis ou não? Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos, diz que a Vale ainda pode oferecer um bom retorno aos seus acionistas.

"Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que os resultados da Vale no terceiro trimestre deste ano não foram ruins, muito pelo contrário. A companhia produziu um volume de minério de ferro ainda maior do que no trimestre anterior", afirma.

No terceiro trimestre, a Vale produziu 89,4 milhões de toneladas de minério de ferro, enquanto no segundo trimestre a produção totalizou 75,7 milhões de toneladas, uma alta de 18,1%. O volume de vendas subiu de 74,9 milhões de toneladas para 75,9 milhões de toneladas.

O aumento das vendas foi mais tímido do que o crescimento da produção, por causa da estratégia da mineradora, que prioriza o valor de venda em detrimento do volume, diz Bevilacqua.

Ou seja, a companhia optou por vender menos em setembro, por causa dos baixos preços no mercado. E foi justamente essa queda dos preços que fez com que o lucro da empresa no período viesse abaixo das estimativas do mercado.

Mercado esperava US$ 5 bilhões de lucro

O lucro líquido de US$ 3,8 bilhões no terceiro trimestre ficou abaixo dos US$ 5 bilhões esperados pelo mercado. E foi bem menor que os US$ 7,5 bilhões do segundo trimestre deste ano.

A receita líquida da companhia no período foi de US$ 12,6 bilhões, alta de 17,84% na comparação anual, e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) cresceu 13,8%, totalizando US$ 6,9 bilhões.

A China e a queda do minério de ferro

O preço do minério de ferro vinha superando recordes em 2021, com a commodity chegando a ser cotada a US$ 237 por tonelada nos portos chineses no ápice de sua valorização.

Nesse período, companhias do setor de mineração e siderurgia apresentaram resultados excelentes, chamando a atenção dos investidores.

Em setembro, entretanto, o minério sofreu quedas abruptas e voltou a ser negociado em torno de US$ 100 por tonelada.

Segundo Bevilacqua, há dois motivos principais para essa desvalorização, todos relacionados à China, que é a maior cliente da Vale:

1) Restrições do governo à produção de aço na China, visando a reduzir o gasto de energia elétrica e as emissões de carbono na atmosfera;
2) A crise do mercado imobiliário da segunda maior economia do planeta, com destaque para o colapso da incorporadora Evergrande.

O que esperar da Vale nos próximos trimestres?

Durante o segundo trimestre deste ano, vários fatores convergiram para que a mineradora apresentasse resultados impressionantes, quebrando recordes de lucro líquido e Ebitda, disse o analista da Levante.

Já era esperado que a cotação dos minérios de ferro não se mantivesse em níveis tão altos por muito tempo, e as notícias negativas vindas da China tornaram o terceiro trimestre ainda mais desafiador para a companhia.

"Ainda assim, a empresa conseguiu uma boa geração de caixa neste intervalo, e, mesmo sem a expectativa de que os resultados do segundo trimestre sejam repetidos, a Vale deve seguir apresentando números sólidos e pagando bons proventos aos acionistas", declara Bevilacqua.

Para ele, mesmo com os sinais negativos vindos da China, a demanda por aço no mercado global deve continuar alta, sustentando a procura por minério de ferro. Ele diz que há uma tendência de retomada da indústria internacional e também expectativa pelo pacote de investimentos em infraestrutura que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenta emplacar.

Empresa cíclica ou pagadora de dividendos?

A Vale é uma empresa de um setor considerado cíclico, ou seja, que tem seu desempenho afetado por uma série de fatores econômicos que não estão ao alcance das companhias.

No caso do setor de mineração e siderurgia, os principais fatores que afetam os resultados das empresas são o preço do minério de ferro, determinado de acordo com a demanda internacional, e a cotação do dólar. Quando o preço do minério de ferro está em alta, e o dólar está valorizado em relação ao real, o desempenho da Vale tende a ser mais forte.

"Mesmo se tratando de uma empresa que atua em um setor cíclico, a Vale vem tentando se transformar em uma companhia capaz de obter bons resultados financeiros recorrentemente, reduzindo seu endividamento e aumentando sua geração de caixa, o que permite o pagamento de bons dividendos aos acionistas mais frequentemente", afirma Bevilacqua.

O analista ressalta que empresas do setor de mineração têm dificuldade em reinvestir seus lucros na expansão de suas operações, o que significa que a maior parte do valor gerado pela Vale tende a ser distribuído na forma de proventos.

Vale segue recomprando suas próprias ações

Após recomprar 268 milhões de ações, a Vale anunciou um novo programa de recompra de até 200 milhões de ações com prazo de duração de 18 meses.

A recompra de ações é um método que consiste na compra de papéis pela própria companhia que os emitiu, com o intuito de cancelá-los ou mantê-los sob custódia em sua tesouraria.

De forma geral, operações desse tipo são vistas pelo mercado como um sinal de confiança da companhia no seu potencial, ou ainda como uma percepção de que suas ações estão baratas, ou seja, o preço pelo qual elas vêm sendo negociadas no mercado secundário não reflete o valor real da empresa na visão de seus executivos.

Em comunicado ao mercado, a empresa disse que "a continuidade do programa de recompra demonstra a confiança da gestão da companhia no potencial da Vale de criar e distribuir valor de forma consistente". Além disso, a Vale classificou a recompra de suas ações como "um dos melhores investimentos disponíveis para a companhia".

A Vale aprovou o cancelamento de mais de 152 milhões de ações detidas em sua tesouraria em setembro.

Perspectiva de bons dividendos

Felipe Bevilacqua diz que, considerando todo o cenário, a empresa tem bom potencial.

"Avalio que a Vale é uma empresa com fundamentos sólidos, endividamento sob controle, e muito bem posicionada no mercado internacional. Apesar da queda do preço do minério de ferro, a companhia tem potencial para seguir gerando resultados expressivos, consequentemente pagando bons dividendos aos acionistas."

Veja aqui o relatório completo preparado pelo analista sobre lucro da Vale.

Para quem ainda não pegou as recomendações de investimentos, elas estão a seguir:

- Carteira para quem não aceita risco algum

- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco

- Carteira para quem é mais moderado

- Carteira para quem aceita mais risco

- Carteira para quem aceita alto risco

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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.