Completam-se hoje 200 anos da Proclamação da Independência do Brasil, mas parece que a independência ainda não chegou para todos. A maior parte da população ainda depende exclusivamente de uma única fonte de renda, como um salário ou os rendimentos obtidos com o trabalho autônomo, e se vê desolada quando perde esses rendimentos.
Entenda a importância de perseguir sua própria independência financeira, traçando paralelos com a história de nosso agora bicentenário país.
A análise foi feita pelo Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe e sócio-fundador da Levante Ideias de Investimentos.
Independência ou morte!?
Há exatos 200 anos, no dia 7 de setembro de 1822, o português D. Pedro IV, que seria "abrasileirado" e convertido em D. Pedro I, proclamava a Independência do Brasil do Reino de Portugal, então governado por seu pai, D. João VI.
D. Pedro I chegou ao Brasil em janeiro de 1808, aos nove anos de idade, após a invasão de Portugal pelas tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte, o que forçou a fuga de sua família para os trópicos. Crescendo no Rio de Janeiro, o príncipe fincou raízes em solo brasileiro e se apaixonou pela vida na sua pátria adotiva.
Contudo, após a Revolução Liberal do Porto, que eclodiu em 1820, o rei D. João VI se viu forçado a retornar para a metrópole portuguesa e deixar o Reino Unido do Brasil nas mãos de seu filho.
A revolução pôs fim ao absolutismo português e destitui o rei de boa parte de seus poderes, mas o manteve no cargo, de forma a evitar uma ruptura institucional muito drástica.
Contudo, o movimento resultaria em outra ruptura irremediável: a independência do Brasil do Reino de Portugal, pelas mãos de um príncipe português.
"Independência ou morte!", teria bradado o jovem D. Pedro, com 24 anos na época, às margens do rio Ipiranga, e assim o Brasil daria início ao processo de independência que se estenderia pelos anos seguintes. Mas e os brasileiros, se tornaram independentes de fato?
Brasileiros são extremamente dependentes
Após uma dose de história, é hora de falarmos um pouco a respeito da sociedade brasileira nos dias de hoje.
A maior parte dos brasileiros segue dependente de uma única fonte de renda, frequentemente insuficiente para cobrir gastos essenciais. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o rendimento médio mensal do trabalhador brasileiro no trimestre encerrado em julho de 2022 foi de R$ 2.963.
Além disso, 20,2 milhões de indivíduos estão inscritos no programa social Auxílio Brasil, que atualmente paga um benefício médio de R$ 600 por pessoa. Vale lembrar que, em muitos casos, o valor é pago a um membro de uma família, o que significa que o número real de beneficiários do programa é muito superior ao número de inscritos.
Apenas o número de inscritos no programa representa cerca de 10% da população brasileira - maior que toda população do Chile, para efeito de comparação.
Em outras palavras, a maioria da população brasileira ainda está longe de alcançar a estabilidade financeira, quiçá então a independência. Seguimos extremamente dependentes financeiramente, e as gerações mais jovens dependem cada vez mais dos pais no início da vida adulta, em meio a uma onda de aumento dos custos e redução do poder de compra.
Mesmo assim, o fisco insiste em cobrar Imposto de Renda de todos os trabalhadores que recebem mensalmente R$ 1.903,99 ou mais - seria este um pequeno sacrifício para a infinidade de benesses que o Estado nos oferece em troca? Creio que a maior parte dos brasileiros há de discordar.
O caminho da independência
É difícil falar em busca pela independência financeira no Brasil, principalmente porque muitas pessoas desconhecem o verdadeiro significado deste termo. De modo geral, associa-se a independência financeira à obtenção de fontes de renda passivas que lhe permitam manter um determinado padrão de vida sem depender dos rendimentos de um trabalho fixo.
À primeira vista, pode parecer uma exclusividade de pessoas muito ricas, aquelas que ou já nasceram em famílias abastadas, ou que, por talento ou sorte, conseguiram acumular um imenso patrimônio ao longo de uma carreira bem-sucedida, como é o caso de jogadores de futebol de elite e artistas renomados.
Contudo, essa é uma realidade muito mais tangível do que pode parecer. Talvez você conheça uma pessoa que possui alguns poucos imóveis para alugar, além de investimentos que lhe ofereçam uma renda passiva. Ou seja, pessoas que conseguem manter um padrão de vida confortável com os ganhos obtidos com seu patrimônio.
Esses indivíduos são pessoas independentes financeiramente, uma vez que não dependem de um trabalho para custear seus gastos essenciais. Não estamos falando de multimilionários, mas de cidadãos comuns que souberam trilhar o caminho em busca da própria independência.
Educação financeira: o primeiro passo
Antes de construir um patrimônio, olhe para a situação das suas finanças familiares. Muitas pessoas confundem educação financeira com conhecimento sobre investimentos, quando na verdade o mais importante é saber organizar suas despesas e receitas de forma a satisfazer suas necessidades e conseguir poupar uma parcela de sua renda todos os meses.
Compartilho aqui um caso vivido recentemente: conversando com um motorista de aplicativo, este me contou que estabelece metas pessoais diárias de quanto dinheiro deve guardar.
"Pelo menos R$ 50 todos os dias", disse o motorista. Considerando que ele trabalhe 22 dias por mês - e sabemos que há muitos motoristas que trabalham mais do que isso -, estamos falando de uma poupança mensal de R$ 1.100.
Eis o primeiro passo: estabelecer metas pessoais de poupança, dentro do que seus rendimentos lhe permitem. O segundo passo é organizar suas despesas e dividi-las entre gastos recorrentes e gastos eventuais.
Note que a meta de poupança deve ser definida antes da organização das despesas, pois a poupança deve ser enxergada como o primeiro dos seus gastos. Nunca deixe para poupar apenas o que sobra no final do mês, ou provavelmente não lhe sobrará nada.
Feito isso, é hora de dar o segundo passo.
A importância dos investimentos
Poupar é imprescindível, mas o segredo para multiplicar seu patrimônio está nos investimentos. Voltemos ao exemplo do motorista de aplicativo citado anteriormente. Poupando mensalmente R$ 1.100, ele terminaria o ano com R$ 13.200 reais em sua conta.
Supondo que o motorista poupasse R$ 1.100 por mês pelos próximos 29 meses, até 1° de janeiro de 2025, o valor chegaria a R$ 30.800. Impressionante, não?
Contudo, realizando aportes mensais no título público do tipo Tesouro Prefixado com vencimento em 1° de janeiro de 2025, o valor líquido a ser resgatado seria de 35.664,75, de acordo com simulação realizada em 1° de setembro - um ganho de quase R$ 5.000. O valor resgatado seria suficiente para comprar um carro usado, apesar da recente disparada dos preços dos automóveis.
Mas podemos ir além. Aplicando a mesma quantia mensal no Tesouro Prefixado com vencimento em 2029, o investidor resgataria impressionantes R$ 117.178,01 em 1° de janeiro de 2029. Ou seja, em pouco mais de seis anos de investimento, o patrimônio acumulado poderia pagar entre um terço e metade do valor de um imóvel pequeno, a depender da região. E isso é apenas o começo!
É possível investir em outras modalidades de títulos públicos com vencimentos mais longos. Por exemplo, o Tesouro Direto disponibiliza um título denominado Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045. Realizando os mesmos aportes mensais de R$ 1.100 neste título, o investidor resgataria a quantia líquida de R$ 818.905,17 em 15 de maio de 2045.
Pode parecer uma data distante, mas trata-se de menos de 23 anos no futuro. Um jovem de 22 anos que consiga investir esses recursos mensalmente receberia esse dinheiro aos 45 anos. Uma pessoa de 40 anos que comece a investir agora, receberá o dinheiro antes dos 63 anos - um ótimo reforço para a aposentadoria.
E o mais impressionante é que o valor total aportado ao longo desses 23 anos seria de R$ 300.300. Isso mesmo, R$ 518.605,17 seriam provenientes apenas da rentabilidade do investimento ao longo dos anos.
Mas isso é apenas a ponta do iceberg. Aqui, falamos apenas das possibilidades oferecidas atualmente por uma única classe de ativos, os títulos públicos brasileiros. Trata-se de uma modalidade de investimento bastante conservadora, e serve apenas para dar ao investidor iniciante uma amostra das infinitas possibilidades que o mercado oferece.
Conclusão: declare sua independência
Uma vez que o investidor compreende que a independência financeira é um objetivo alcançável, torna-se muito mais fácil buscar a disciplina e estabelecer metas a serem batidas.
Neste relatório, citamos apenas alguns exemplos para instigar a sua curiosidade, mas existem infinitas possibilidades de investimentos que podem auxiliá-lo na busca pela independência financeira. Investindo com consistência, gestão de riscos e disciplina, é possível alcançar resultados ainda mais impressionantes do que os citados neste texto.
Assim como você talvez não saiba quando conseguirá alcançar seus objetivos, D. Pedro I não tinha a menor noção de quão complexo e duradouro seria o processo de independência do Brasil. O reconhecimento da independência, de fato, só veio em 1825, quando D. João VI assinou o Tratado de Paz e Aliança entre Brasil e Portugal, após batalhas sangrentas e negociações que pareciam intermináveis.
Portanto, não espere as resoluções de ano novo para começar a se planejar. Aproveite o feriado de 7 de setembro para declarar a sua independência financeira!
Carteiras conforme o perfil
Para quem ainda não pegou as recomendações de investimentos, elas estão a seguir:
- Carteira para quem não aceita risco algum
- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco
- Carteira para quem é mais moderado
- Carteira para quem aceita mais risco
- Carteira para quem aceita alto risco
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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.
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